Balanceamento das carteiras é essencial | Fernando Lovisotto

Edição 343

Passado mais um ano, podemos dizer que muitas Entidades Fechadas de Previdência Complementar (“EFPCs”) já estão muito acostumadas com o processo anual de revisão de suas Políticas de Investimentos (“PIs”). A revisão de cenários, de prêmios para cada classe de ativos, a atualização dos passivos ou metas de retorno e, por fim, a “combinação” desses elementos levando em conta o apetite de risco para a definição da macro alocação já estão bem arraigados na cultura das EFPCs. Podemos dizer isso, pois olhando os números divulgados pela Abrapp podemos ver que não tem havido mudanças abruptas nas alocações e, sim, atualizações dependentes dos cenários.
Porém, entendemos que a gestão da carteira de investimentos, em horizontes mais curtos (inferiores a um ano), deva incorporar ainda outros fatores: 1 – balanceamento (ou rebalanceamento) das classes de ativos/produtos e 2 – instrumentos e estratégias de proteção.
Aqui vamos falar um pouco sobre balanceamento, ferramenta que ainda é pouco executada e subvalorizada. Poderíamos dizer que todo o trabalho de alocação de ativos sem que haja balanceamento, é como um belo prato de macarrão sem molho.
O investidor começa com uma carteira com determinados pesos em cada classe de ativos, esse peso foi definido na sua PI. Sabe-se que cada classe de ativos tem sua volatilidade e que, dependendo do cenário, cada classe terá um desempenho diferente (essa é inclusive a beleza de se construir uma carteira de investimentos, pois uma parte pode compensar a outra e a carteira como um todo atingir de maneira menos arriscada seu objetivo de retorno, essa é a tal da diversificação).
Nesse segundo momento, com pesos diferentes dos iniciais em cada classe de ativos, o investidor tem que tomar a seguinte decisão: mantém esses novos pesos ou volta aos pesos/alocação iniciais/inicial. Esse é o processo de balanceamento.
Quais as principais vantagens do balanceamento?
a) Incorporação de disciplina ao processo: para realizar o balanceamento, o investidor tem que acompanhar as mudanças de prêmios nas classes de ativos e os fatores que impactaram as respectivas performances com bastante proximidade.
b) Manutenção do nível de risco: ao movimentarmos a carteira em direção aos pesos iniciais, estamos assegurando que a carteira volte à composição original estabelecida na PI e, portanto, ao risco desejado inicialmente.
c) Otimização de retornos: talvez essa seja a melhor parte, quando o peso de determinada porção da alocação cai, isso acontece, pois essa parcela teve rentabilidade menor que a outra parcela. Se a levarmos para o peso inicial, estaremos “comprando” esta parcela mais “barata”. De modo análogo, se o peso subiu, esta parcela rendeu mais que a outra, ao levarmos para o peso inicial, estaremos vendendo “caro”. Numa janela longa, essa repetição agrega retorno sobre uma carteira estática em que não há balanceamento.
Como fazer?
a) Intervalos de tempo: uma das maneiras de se realizar o procedimento é estabelecer que a cada 3 meses, por exemplo, voltaremos aos pesos iniciais. Esse intervalo pode ser outro dependendo do investidor.
b) Bandas de alocação: outra maneira é criar bandas de alocação. Essas bandas, com pesos mínimos e máximos para cada classe, podem ser criadas a partir de limites de riscos máximos tolerados pelo investidor ou pela volatilidade de cada classe. Um ponto importante aqui é que, quando olhamos as bandas na PIs das EFPCs, elas parecem muito “largas” e, assim, não seriam efetivas nesse processo, pois dificilmente seriam atingidas.
Olhando de maneira prática, percebemos que, algumas vezes, as EFPCs executam o balanceamento de maneira bem eficiente e outras vezes, não.
Vejam a questão das aplicações em NTN-Bs: toda vez que os títulos negociam com taxas perto de 6% a.a. + IPCA as EFPCs compram. Carregam os títulos e, quando as taxas caem muito, ou vendem ou alongam comprando novos títulos com taxas mais altas. Fácil perceber que esse processo agrega retorno e gera disciplina.
Já nos casos de bolsa Brasil e alocação internacional, por exemplo, não notamos a mesma eficiência. Diante de toda a volatilidade observada nos últimos 12 meses, o movimento que deveríamos observar é um movimento de compra/alocação em bolsa Brasil e redução/venda de alocação internacional. A diferença relativa entre essas classes, nesse momento, é muito grande e esse movimento provavelmente trará retornos à frente para quem for disciplinado.
Aí vem a pergunta: mas este ano teremos eleição e muita volatilidade, o que devemos fazer? Devemos lembrar do item 2 – instrumentos e estratégias de proteção, sobre os quais falaremos em outro momento.
Para finalizar, importante ressaltar que, quanto mais volatilidade a classe de investimentos apresentar, o processo de balanceamento agregará mais valor. A disciplina compensa.

Fernando Lovisotto é sócio e CIO da Vinci Partners