Edição 93
Erik Persson, da Previ
A Previ está reorganizando seu leque de participações acionárias, tentando sair de empresas mais vulneráveis e de baixa rentabilidade para concentrar seus investimentos em empresas estratégicas. Isso está sendo feito paralelamente a um esforço para baixar a participação em renda variável, de 60% há oito meses para 57% no final de janeiro. O objetivo é alcançar 50%, explica o diretor de planejamento da fundação, Erik Persson, em entrevista a Investidor Institucional. Veja, a seguir, os principais pontos da entrevista:
Investidor Institucional – Quando o sr. assumiu a diretoria na Previ, há oito meses, havia uma discussão sobre a migração das participações em empresas para títulos de renda fixa. Como está essa questão?
Erik Persson – Na época nós tínhamos 60,4%, se não me engano, em renda variável, e já descemos para 57,03% no final de janeiro. O objetivo é chegar, pelo menos, num patamar de 50% para reduzir o risco. E o que saiu da renda variável foi para a renda fixa, que hoje está em 26%, e um pouco para imóveis. Então, nesse período de oito meses, conseguimos fazer essa redução e isso de forma lenta, gradual, olhando sempre a relação de custo e oportunidade.
II – Esse movimento vai continuar ao longo deste ano?
EP – A tendência é continuar, mas isso não significa que vamos deixar de investir. Vamos continuar um processo de investimento, só que mais seletivamente, até porque o Plano de Benefício 1 já está num processo de maturação, o que significa que temos mais gente aposentada do que na ativa. Isso vai nos obrigar, a cada novo investimento, a ter que fazer um desinvestimento.
II – O Sr. disse que a tendência é reduzir a renda variável para o patamar de 50%. Como isso será feito?
EP – A idéia é concentrar os nossos investimentos num foco de empresas mais estratégicas, em setores mais estratégicos, saindo de empresas que hoje não oferecem uma boa rentabilidade.
II – Em que setores?
EP – A energia elétrica, principalmente na área de geração, e também a de telecomunicações, por exemplo. Tem uma série de ativos nossos que são problemáticos e o próprio mercado sabe disso, então estamos tentando melhorar, inclusive para potencializá-los, para vendê-los ou para negocia-los no mercado.
II – Há negócios à vista nessas áreas, energia elétrica e telecomunicações?
EP – Estamos estudando alguma coisa com a CPFL e também a ampliação da nossa participação na Telemar, visto que nossa participação atual nela é menor do que 20%. Então, dependendo das circunstâncias, temos espaço para aportar alguma coisa por lá.
II – Como fica a questão dos descruzamentos de posições acionárias?
EP – Nós estamos nos desfazendo das participações na Americel e na Telet, na área da telefonia celular. Na área elétrica, nós estamos entrando num processo de negociação para a venda da nossa participação na RGE, no Rio Grande do Sul. Isso não significa que os recursos advindos dessas áreas vão passar tudo para a renda fixa, que não possam retornar ao mesmo setor. O objetivo aí é, talvez, aplicar nos mesmos setores de energia e telefonia, porque essa é uma questão estratégica nossa, concentrar um pouco mais os nossos focos.
II – Qual o motivo da saída das empresas?
EP – Da Americel e da Telet o motivo é esse mesmo, tentar migrar no setor de telefonia para empresas mais rentáveis, porque eles não proporcionavam a rentabilidade que nós gostaríamos. Então, como houve interessado e um bom preço, nós acabamos concordando em nos desfazer dessas duas empresas.
II – Quem é o interessado?
EP – Quem está comprando a Americel e a Telet é a BCI. Na RGE, lá existe 33% das ações com a Previ e outros fundos, como Funcef e outros, um outro terço é da VBC (Votorantim, Bradesco e Camargo Corrêa) e um outro terço que é da PSG, que inclusive tem preferência na aquisição. Então, foi feito a precificação através de consultorias, porque a PSG se mostrou interessada em comprar a parcela da VBC e a parcela dos fundos, e agora só está dependendo de uma decisão da PSG que deve sair em uma ou duas semanas.
II – Qual o preço?
EP – É algo em torno de 500 e poucos milhões de reais para uma e 300 e poucos milhões de reais para a outra, na parte de telefonia. A RGE, empresa de energia elétrica do sul, é uma outra proposta que está praticamente fechada, deveremos estar fechando o negócio em breve, algo em torno de 2 bilhões de reais para toda a empresa, e a Previ teria algo em torno de um terço desse valor.
II – Como ficam as participações nos outros setores, como por exemplo a siderurgia? A tendência é sair também?
EP – Não, não tem política de saída, até porque para nós o setor de siderurgia é estratégico. Em siderurgia e mineração o objetivo é, por enquanto, manter posições. O que nós pretendemos trabalhar com um pouco mais de afinco são essas empresas nas quais temos uma rentabilidade mais baixa, que não são estratégicas para a Previ, como o Magic Park em Aparecida do Norte, a Ponta do Félix, o porto no Paraná, só para citar algumas empresas nas quais pretendemos rever as nossas posições.
II – As fundações têm falado muito de investir em infra-estrutura, o sr. mesmo falou do setor elétrico, de telecomunicações. Tem algum setor novo?
EP – Na área de geração elétrica temos Furnas e a Chesf, no São Francisco, que estavam querendo vender mas, pelo que estou enxergando, isso não deve acontecer em curto espaço de tempo. Nós, os três eleitos da Previ, temos uma posição muito clara quanto a questão das privatizações e, se acontecer algum processo de privatização, achamos que o controle deve ficar majoritariamente com o governo, com 51% de ações. Outro setor interessante é o de saneamento.
II – Já no início do seu mandato o sr. falava em setor de infra-estrutura, saneamento.
EP – Exatamente. Mas se quiserem recursos da Previ em qualquer consórcio tem que ter a participação do Estado, ou dos municípios. Temos interesse em entrar na área de saneamento, mas junto com o Estado e não simplesmente num consórcio de empresas privadas, ainda mais num setor estratégico, extremamente estratégico para o ser humano, porque trata da água, do esgoto, do saneamento. Mas o interesse nessas áreas, que entendemos como estratégicas, está colocado. Tem também o setor de gás natural, que para nós também é estratégico.
II – Na questão das privatizações, vocês não vão entrar em consórcios em que o controle vá para a iniciativa privada?
EP – Exatamente.
II – Como o sr. analisa os conflitos entre as fundações e alguns gestores, em especial o Opportunity?
EP – O problema todo está na questão do Opportunity com a Telecom, essa história toda. Eu não tenho acompanhado mais proximamente, até porque o diretor que é conselheiro da Telecom e que participa lá é o Sérgio Rosa, mas eu enxergo que o processo das privatizações na área de telecomunicações foi extremamente pernicioso para o próprio setor.
II – Porque o sr. acha isso?
EP – Porque os investidores que entraram com os recursos no processo de privatização, na grande maioria os fundos de pensão, perderam o controle do processo. O operador contratado na época, que era o Opportunity, montou uma estrutura societária que permitiu que saísse de minoritário e virasse o controlador e o determinador do negócio, passando a determinar todos os passos e todas as decisões do negócio. Isso gerou conflito, porque nem a prestação de contas por parte do Opportuniy aos financiadores do processo foi feita corretamente.
II – No início as fundações aceitavam essa situação. Houve um momento de mudança?
EP – Sim, começamos a ficar desconfiados porque os recursos que eram colocados lá não apresentavam retorno, não tínhamos as informações do que estava sendo feito, no que estava sendo gasto o dinheiro dentro da empresa. Chegamos ao ponto de entrar com ações na Justiça contra o Opportunity, gerando um conflito aberto e cada vez mais grave, que hoje começa a afetar a própria empresa. Isso é uma situação muito ruim para todos que estão lá dentro, e deveria haver uma decisão madura por parte dos próprios sócios ou até uma intervenção do governo para solucionar a situação.
II – As fundações estão buscando uma gestão mais profissionalizada nos seus negócios?
EP – A gente tenta, mas no caso do Opportunity todos os posicionamentos que a gente acaba tomando quando conseguimos uma maioria de votos simplesmente não são cumpridos. O Opportunity não cumpre e muitas vezes até pratica fraudes em atas e uma série de coisas que vêm ocorrendo permanentemente e estamos denunciando com ações em cima de ações na Justiça. Estamos exigindo formalizações de atas, porque houve desaparecimento de atas, e coisas assim geram um clima de enfrentamento dentro da empresa.
II – Como o sr. está vendo a possibilidade de uma reavaliação patrimonial, que aumentaria o superávit porque a Previ detém muitas ações no bloco de controle das empresas?
EP – O Banco está reivindicando isso e eu entendo que não é pertinente. Pelo seguinte, a Previ anualmente fornece todos os dados para a SPC, toda a contabilidade sempre foi aprovada inclusive pela SPC, todo o patrimônio que existe hoje na Previ está respaldada por uma normatização contábil estabelecido pela própria SPC. Então, querer fazer alguma reavaliação nesse momento, tentando aumentar o superávit para atingir um patamar muito maior para resolver os seus problemas de dívidas é errado. No fundo, o Banco está querendo elevar o superávit e usar seus dois terços para liquidar uma dívida de 7 bilhões de reais que tem para com a Previ, relativa aos aposentados anteriores a 1967.
II – A nova minuta da Resolução prevê que os planos BD poderão concentrar, no máximo, 45% em renda variável. Como o sr. está vendo esta proposta?
EP – Eu acho um absurdo, pois assim como levamos oito meses para reduzir de de 60% para 57% precisaríamos de muito tempo para reduzir de 57% para 45%. Seria temerário ter que se desfazer rapidamente de uma série de papéis ou de empresas. Acho que essa é uma proposta problemática, que usa bastante rigor contra os planos de BD tentando forçar com que os fundos de pensão revejam esses planos e migrem para CD. Acho isso um equívoco.
II – O que acha da obrigatoriedade de separar a contabilidade de cada um dos planos?
EP – A Previ já vem fazendo isso. O Plano 2, que é dos novos funcionários, é de CD e o Plano 1, que é o plano de maior acumulação, esse permanece em BD. Mas em cada plano já tem a sua estrutura contábil separada e o Plano 2 aplicamos todo ele, praticamente em renda fixa, até porque é um volume ainda não muito significativo, mas o objetivo é, com o tempo, começar a trabalhar com algum risco, trabalhando em bolsa por exemplo.
II – A Previ tem algum estudo para migrar do Plano 1, de BD para CD?
EP – Não existe, e os funcionários do Banco do Brasil não concordariam, em hipótese nenhuma, em fazer essa migração. Não vai ser na forma do canetaço que as coisas vão se dar.
II – O plano de BD pode ser mantido, mesmo com a norma da paridade?
EP – Sim, mesmo com toda a Previ na paridade de 1×1, a fundação está em equilíbrio. Em 15 de dezembro, quando entrou em vigor o processo da paridade, nós já tínhamos os números e estava demonstrado que o superávit técnico que tínhamos cobriria tranquilamente o diferencial da redução da contribuição do Banco de 2×1 para 1×1, que somava R$ 317 milhões/ano. Podemos garantir, com certeza, a aposentadoria de todos os aposentados homens até 81 anos e mulheres até 84 anos, e com uma certa folga.
II – Quanto somam as reservas da Previ?
EP – O nosso patrimônio está em R$ 35 bilhões e os recursos necessários para garantir as aposentadorias de todos hoje seria em torno de R$ 28 bilhões. De uma certa forma, o excedente seriam reservas técnicas para eventuais oscilações.