Planejando com o ALM | O diretor de previdência privada da Mercer...

Edição 127

Marcel Larochelle, da Mercer

Para Marcel Larochelle, responsável pela área de previdência privada da Mercer no Canadá, os estudos de Asset Liability Management (ALM) ajudam os dirigentes de fundos de pensão daquele país a planejar seus investimentos dentro das perspectivas dos compromissos futuros, dentro de diferentes cenários que incluem, inclusive, cenários de turbulências do mercado financeiro. Larochelle esteve no Brasil durante uma semana, no início de novembro, palestrando sobre o tema ALM para dirigentes de fundos de pensão locais. Abaixo, estão os principais trechos de sua entrevista à Investidor Institucional:

Investidor InstitucionalPor que o ALM é importante para os fundos de pensão?
Marcel Larochelle – Porque os ativos do fundo de pensão têm a função única de garantir o passivo, uma promessa que foi feita ao participante. Assim, a única forma de se ter uma imagem completa dos riscos financeiros para um fundo de pensão é considerar ao mesmo tempo, em um estudo, ativos e passivos.

IIExiste uma tendência por uma onda de estudos de ALM, como aconteceu com o VaR?
ML – De fato, os estudos de ALM são um pouco como o VaR, mas analisam a situação financeira dos regimes previdenciários tanto nos contextos favoráveis quanto desfavoráveis. Se nos concentramos nos cenários desfavoráveis, o exercício que fazemos de projeção ativo x passivo nos dá a mesma informação que um modelo de VaR. Por exemplo, um estudo de Value at Risk poderia dizer o risco de perda de uma fundação no ano 2005 é de tantos milhões. Mas, o que é importante para o cliente é saber como isso vai influenciar nas contribuições. Então o ALM nos dá o mesmo tipo de dados que o VaR e, ao mesmo tempo, complementa com informações sobre o que aconteceria com o plano em cenários mais favoráveis.

IIComo ele ajuda na alocação dos ativos?
ML – Podemos saber se uma determinada estratégia melhora de forma significativa nosso cenário favorável, conservando o mesmo nível do VaR do fundo. A imagem completa nos permite comparar os resultados em uma esfera política de alocações. E há, definitivamente, uma tendência de usar o ALM para se ter uma imagem global dos riscos financeiros dos regimes. Em todos os países, a exemplo do Reino Unido, Estados Unidos e Canadá, os fundos de grande e mesmo pequeno porte utilizam cada vez mais os estudos de ALM.

IIMesmo os pequenos?
ML – Para dar uma idéia, fizemos este ano, no Canadá, estudos de ALM dirigidos a fundos com patrimônio de US$ 25 bilhões.

IIQuanto custa um estudo de ALM?
ML – No Canadá, um estudo sairia por uns US$ 50 mil, o que um dirigente de fundo poderia achar abusivo. Mas, quando se percebe que pode resultar em uma economia de US$ 2 ou 3 milhões de dólares de contribuição por ano – resultado de maus investimentos, vê-se que não é
tão caro.

IIEsses novos estudos, lançados a cada período, não tornam a gestão dos fundos muito caras?
ML – Acho que é uma despesa mínima para um fundo de pensão. Vamos tomar como exemplo um fundo com patrimônio de R$ 100 milhões que tenha pago em 2002, digamos, R$ 370 mil a um gestor financeiro que pode ter alocado em investimentos que talvez tenham subtraído valor. Comparado ao valor dos ativos da fundação, o estudo de ALM custa muito barato e não precisa ser refeito anualmente. Temos clientes que refazem um estudo a cada três ou mesmo cinco anos. A não ser, claro, quando alguma turbulência forte atinge o mercado – principalmente no Canadá e EUA, onde os investimentos tradicionais dos fundos são ações e, com a desvalorização dos papéis verificada nos últimos anos muitas entidades registraram déficits.

IIO ALM não é menos eficaz em um país como o Brasil, onde as políticas macroeconômicas não são tão estáveis?
ML – É claro que em países com políticas macroeconômicas mais estáveis o exercício de ALM é muito mais fácil. Mas o estudo acaba favorecendo a gestão também em ambientes conturbados. Não é um exercício perfeito, mas é certamente melhor do que basear decisões em uma única meta. O que me inquieta é ver que, a cada dia, decisões envolvendo centenas de milhões de reais são tomadas com base em uma única meta atuarial. O atuário da entidade vai dizer que avalia o regime supondo que, no futuro, os investimentos do fundo terão um retorno de inflação mais 6%. É
a cifra que embasa todas as decisões. O ALM, apesar das imperfeições e incertezas da projeção, permite ver, nos piores cenários, algumas saídas para uma política de alocação de ativos.

IIQual seria a importância do ALM, por exemplo, para fundos de pensão na situação da Argentina, por exemplo?
ML – Em um contexto onde tudo desmorona, realmente, os estudos não são muito úteis. Mas acredito que a idéia do ALM não é dizer se oferece garantias ao fundo de aposentadoria. Ele permite simplesmente aos administradores do regime tomar decisões mais informados.

IIComo a Mercer avalia o mercado de ALM para o Brasil?
ML – Acreditamos que aqui há um potencial enorme para o crescimento desses estudos. Isso porque, quando conversamos com profissionais de fundos, muitos dizem que já têm um estudo de ALM para sua entidade, ou que já encomendaram um. Mas, na verdade, eles apenas construíram um tipo de casamento simples. Então, acho que há um potencial muito interessante, porque há importantes fundos de pensão que precisarão de um estudo desse porte.

IIExiste alguma tendência que estudos de ALM sejam oferecidos gratuitamente pelos bancos?
ML – Não vejo essa tendência, apesar de sabermos que bancos e gestores de investimentos freqüentemente oferecem serviços gratuitos aos fundos. Eu acredito que esse é um modelo fadado ao fracasso, por duas razões. A primeira, por haver um conflito de interesses evidente, porque esses profissionais têm um produto a vender e portanto não podem ser objetivos no aconselhamento. A segunda razão é que, para se fazer um estudo como esse, deve-se conhecer bem o passivo de uma entidade, e um banco não tem condições de fazê-lo mesmo com uma equipe de três, cinco ou dez atuários.

IIExiste, na Europa ou Estados Unidos, casos de erros em cálculos de ALM?
ML – Sim, já vi erros no passado e sei que ainda ocorrem, basicamente em estudos apresentados como ALM que, na verdade, não o são. Seja porque há erros em nível de modelação, seja porque os dirigentes apresentam projeções simples de casamento de ativos e passivos. São exercícios muito simples de projeção, que simplesmente casam entradas e saídas utilizando o fluxo de caixa.

IIComo são analisados os estudos de ALM para planos tipo CD?
ML – É muito menos freqüente encontrarmos ALM em planos CD do que BD. Penso que poderiam ser úteis em um plano CD que quisesse dizer ao participante que seu salário vai aumentar e, ao final de sua carreira, teria garantido 60% de sua última remuneração como aposentadoria, por exemplo. É um exercício que poderíamos fazer mas, honestamente, se faz muito pouco.

IINo Brasil, só recentemente os estudos de ALM começaram a ser mais difundidos. Há quanto tempo é utilizado em fundos na Europa e EUA?
ML – Nos anos 80 já havia no Canadá, Estados Unidos e Inglaterra um certo número de fundos de aposentadoria que faziam o ALM, mas naquela época o processo ainda era muito lento e caro. Assim, só grandes fundos se permitiam considerar esse tipo de estudo. Com a evolução da tecnologia, as possibilidades agora são incríveis.