Dias melhores no horizonte | Chefe de pesquisa de renda variável ...

Stuart ReeveEdição 253

Ainda que não se possa afirmar que a turbulência tenha passado para os mercados emergentes, as previsões para os próximos meses começam a mostrar maior otimismo. A pressão do aumento das taxas de juros dos títulos americanos de 10 anos ainda preocupam, mas segundo Stuart Reeve, diretor de pesquisa da equipe de renda variável da BlackRock, o maior impacto já foi antecipado. Executivo de uma das maiores assets globais de fundos de renda variável, com US$ 3,8 trilhões de recursos sob gestão, o gestor visitou o Brasil em meados de setembro e concedeu entrevista exclusiva para a Investidor Institucional.
Responsável também pela gestão dos fundos globais de dividendos da asset, o gestor comentou as perspectivas dos cenários globais e as oportunidades de investimentos nos mercados estrangeiros. A BlackRock vinha atuando no mercado brasileiro exclusivamente com fundos de índices, do tipo ETF (Exchange Traded Funds), com R$ 1,81 bilhão de recursos sob gestão, mas agora a asset se prepara para oferecer fundos no exterior para um grupo de fundações brasileiras.
Segundo Reeve, que se juntou à BlackRock em 2006, a partir da fusão com a Merrill Linch, onde atuava desde 2005, os fundos de dividendos são uma opção apropriada para cenários de crescimento global moderado. Esses investimentos oferecem menor risco para os investidores que adotam um horizonte de longo prazo. Veja os principais trechos da entrevista a seguir:

Investidor Institucional – Qual a sua avaliação do desempenho das bolsas mundiais em 2013?
Stuart Reeve – Em termos gerais, as bolsas internacionais tiveram resultado razoavelmente positivo. O mercado global teve rentabilidade de 10% em dólar. Claro, que os resultados foram diferentes de uma região para outra. Nos EUA os resultados foram bem fortes. Na Europa e Japão foram fortes. No Japão foi muito forte em relação ao iene, mas em dólar também foi muito bem. Mas nos mercados emergentes não foi tão bem. Na verdade, foi fraco. Brasil, China, Índia e Rússia, todos eles tiveram retorno negativo até agora.

II E por que as bolsas nos mercados emergentes estão indo mal neste ano?
SR – Basicamente são dois os motivos. O primeiro é que o crescimento desacelerou um pouco. E sabemos que são mercados que dependem dos níveis de crescimento para subir. E o segundo motivo são as taxas de juros nos EUA. Elas vinham ajudando muito essas economias. Com o ambiente de taxas muito baixas nos EUA, isso encorajava os investidores globais a investir em outras partes do mundo. Porque o ganho é muito mais atrativo em vários mercados.

II – E o cenário mudou com os anúncios do Fed de retirada de estímulos?
SR – Obviamente que depois que Bernancke sugeriu que os estímulos à economia americana seriam retirados gradualmente, claro que isso empurrou as taxas de juros nos EUA para cima, tornando-as mais atrativas para os investidores. Eles passaram a investir mais nos EUA e menos em outros mercados, especialmente nos emergentes. Então, nós tivemos o encontro de duas forças: a desaceleração do crescimento no Brasil e na China e também a questão da preocupação com as moedas, com o retorno dos investidores para os EUA.

II – E quais são as incógnitas neste momento?
SR – A questão agora é saber qual a pressão que continuará sobre os mercados emergentes. Eu acho que o problema do baixo crescimento será resolvido. Não haverá uma forte reação de aceleração de crescimento em nenhum lugar do mundo, mas acho que voltará a ser positivo. Não acredito que haverá recessão, a menos que ocorra alguma crise cambial em mercados emergentes. Então, a menos que ocorra uma crise de desvalorização cambial, que acho que não irá ocorrer, acredito que o crescimento voltará a melhorar. E a questão que fica é realmente quanto a taxa de juros americana vai continuar aumentando.

II Quais as projeções que vocês estão trabalhando em relação às taxas dos títulos dos EUA?
SR – A referência é a taxa dos títulos de 10 anos. Em abril passado, as taxas estavam em 2%, este era o yield. E hoje estão em quase 3%. São quase cem basis points a mais em apenas quatro meses.

II Qual a sua projeção para 2014?
SR – Essa é a dúvida, até que ponto vai continuar subindo. Se as taxas de juros vão se tornar cada vez mais altas, isso depende da recuperação da economia dos EUA. Quanto mais elas subirem, maior será a pressão sobre as divisas dos mercados emergentes. Eu acho que agora, em uma conversa que tivemos no comitê global da BlackRock, as taxas dos títulos dos EUA devem ir se estabilizando daqui pra frente. Não há razão para que suba muito mais. Possivelmente pode subir mais vinte ou trinta basis points, passando de 2,8% para 3,1%. Mas não acredito que saltará de 3% para 4%.

IISe os juros americanos se estabilizarem e os mercados emergentes voltarem a crescer, voltam a ser atrativos para os investidores?
SR – Acredito que em geral os mercados emergentes, na perspectiva da valuation das ações, parece ficar um pouco mais atrativo. Em uma perspectiva de longo prazo, analisando a relação entre patrimônio e lucro por ação, a valuation continua atrativa. Acho que o crescimento voltará a ficar ok, provavelmente porque muito das pressões sobre o câmbio já foram antecipadas. Então, acho que os mercados emergentes terão desempenho muito melhor daqui em diante.

II Quais são suas projeções para a economia brasileira?
SR – O que posso dizer é que o crescimento desacelerou no Brasil. Mas a economia continua muito forte. Eu acho que vai melhorar. O que acontece é que sempre que algo dá errado, a tendência é que as pessoas façam uma previsão terrível para o futuro. Acho que a autoridade monetária está conseguindo controlar a inflação. Mas isso não é o mais importante. Muito mais importante é a análise individual das companhias listadas que estão oferecendo boas oportunidades de investimentos para os investidores globais. Acho que muitas das companhias brasileiras vão seguir a situação econômica global, pois o Brasil hoje não é muito diferente do resto do mundo. E o crescimento global será positivo.

IIQuais as projeções para o crescimento dos mercados emergentes?
SR – Penso que o crescimento global médio será de 3%, e no mercados emergentes será de 5%. A economia americana provavelmente vai crescer algo em torno de 2%. E esta é uma situação que já vem dos últimos cinco anos. Acho que deve continuar nos próximos dois ou três anos.

IIOs fundos de pensão brasileiros estão começando a investir no exterior. Quais as suas recomendações de empresas ou países?
SR – Acredito que as oportunidades internacionais dependem de uma visão de longo prazo. O crescimento global atualmente não é espetacularmente bom. Então, não se pode ter uma visão de curto prazo, por exemplo, de três meses. Eu penso que as valuations das empresas neste momento do Japão e da Europa oferecem boas oportunidades de investimento. Os EUA estão obviamente em recuperação, mas acho que a valuation do nível médio do mercado já não é tão apropriada. Acho que as perspectivas sobre a Europa, por exemplo, não podem ser de curto prazo, pois a volatilidade ainda vai permanecer alta. Se você está investindo agora, irá receber os melhores retornos dentro de três a cinco anos.

IIE as oportunidades de investimentos em mercados emergentes?
SR – Os emergentes também são potencialmente interessantes, mas os investidores brasileiros devem pensar também na liquidez. Tem uma questão de liquidez dos mercados, por exemplo, no Japão há maior liquidez, assim como na Europa. Há algumas oportunidades interessantes nos emergentes, mas deverá ter um visão de longo prazo também.

IIQuais os tipos de fundos você recomendaria para as fundações? Os fundos de dividendos são os mais apropriados neste momento?
SR – Eu recomendaria este tipo de fundos por várias razões. Acredito que os cenários favorecem as boas companhias que podem aumentar as receitas com as vendas, lucros e os fluxos de caixa. Não é um cenário que favorece todo mundo. Se o crescimento global fosse de 4% a 5%, isso ajudaria a todos. Mas com um crescimento entre 2% a 3% você deve ter bons negócios para crescer neste ambiente. Negócios de qualidade, de alta qualidade que estarão bem em qualquer cenário. Então, acreditamos em companhias que têm operações multinacionais, que atuam em todo o mundo. Esta é a melhor maneira de diversificar os riscos. Ter boas e fortes posições competitivas. Isso dá vantagens competitivas.

IIQuais as características das companhias que vocês procuram?
SR – São companhias capazes de gerar fluxo de caixa para dividir com seus investidores. Em um ambiente de baixo retorno, você precisa procurar companhias que entreguem retornos em dividendos e mais uma apreciação de capital. Acredito que no período dos próximos três a cinco anos é o investimento mais apropriado.

IIUma das críticas à bolsa brasileira é que o Ibovespa é muito concentrado. Como promover a diversificação com as oportunidades no exterior?
SR – Obviamente as oportunidades globais são muito diversas, no índice global temos mais de 2500 companhias em diferentes setores e diferentes regiões. Mas em geral, eu indicaria companhias da área de saúde, farmacêuticas. Para dar alguns exemplos, companhias como a Pfizer, Merck, Novartis, não necessariamente essas, mas similares, possuem negócios muito atrativos. Também há companhias em algumas áreas tecnológicas, cujo crescimento será bem atrativo. Também algumas companhias com boa gestão na área de consumo de produtos básicos. Ainda recomendo algumas companhias do setor industrial que são menos cíclicas.

IIE quais companhias você não recomendaria?
SR – Há ainda muito nervosismo para investir nos bancos europeus, acho que é um lugar difícil para os investidores irem porque há uma incerteza ainda sobre as posições do capital e o equilíbrio dos balanços. Você pode ter grandes retornos, mas também terá que assumir um risco muito alto.

II E o hedge cambial deve ser feito nos investimentos dos fundos de pensão fora do país?
SR – Se você vai rodar um portfólio de ações globais, o menor risco ocorre quando não se faz o hedge cambial. A razão é que se você roda um certo número de companhias globais, já terá uma ampla faixa de exposição cambial. Então, você já terá uma exposição a várias moedas em seus investimentos internacionais. Se você tem um portfólio global, as empresas terão exposição cambial em vários mercados não só onde ela está listada, mas também na parte de suas receitas. Ela terá receitas em diferentes moedas. Se tiver esse portfólio global, você terá uma proteção natural para o risco global de moedas.

IIVocê poderia comentar a estratégia da família dos fundos de dividendos que você é responsável?
SR – Seguimos duas linhas de atuação em nossa família de fundos globais de dividendos. A primeira é que tentamos maximizar os retornos com dividendos. Então, enquanto a média do yield do mercado global é de 2,5%, nós temos ações que entregam de 6% a 7% de dividendos. Isso está bem, claro que você tem que sacrificar alguns aspectos como provavelmente o crescimento. Então, buscamos um portfólio que entregue o máximo de yield em dividendos. A outra linha é buscar companhias que entreguem dividendos acima da média, estamos falando de 3% a 4%, mas também que possam combinar com um crescimento. É uma estratégia de companhias que entregam yield atrativo mas também alcançam um crescimento de capital ao longo do tempo.

IIQual o tempo que as ações permanecem na carteira?
SR – Quando selecionamos uma companhia, nós mantemos por um longo período de tempo, em média por cinco anos, para conseguir um retorno de preço. O maior retorno deve vir através dos dividendos e através do crescimento. Isso não ocorre a cada três meses, mas em média a cada cinco anos. Você consegue o melhor retorno em um horizonte de longo prazo.

IIQuais as vantagens em termos de riscos?
SR – Com um portfólio desta forma, com ações de companhias globais, você tem uma carteira com menos risco que uma carteira típica de ações. Em média, as carteiras de dividendos apresentam dois terços do risco de um portfólio típico. Isso ocorre porque se obtém um dividendo atrativo, entre 3% a 4%, e um crescimento entre 5% a 10% ao anos. Se for mantido o horizonte de longo prazo, haverá bons retornos com menos risco. Ocorre uma proteção natural de mercado.