Edição 67
Os juros são, sem dúvida, o maior sinalizador de tendências para os investidores. Ao subir, carreiam para as aplicações de renda fixa a maior parte do dinheiro disponível no mercado. Quando caem, ao contrário, induzem o dinheiro do mercado a buscar aplicações mais rentáveis, embora de maior risco, como é o caso do mercado de ações e de câmbio. É exatamente sobre isso que estamos falando na nossa principal reportagem desta edição, de como a queda das taxas de juros estão levando os investidores institucionais a reposicionar suas carteiras.
Embora a migração de recursos de posições mais conservadoras para outras mais moderadas e até agressivas, em vários casos, não seja uma característica específica dos investidores institucionais ao se confrontarem com a queda das taxas de juros (na verdade, todo aplicador faz esse movimento), neles a tendência é mais acentuada. Os institucionais, ao contrário do aplicador corporate ou do private, tem um compromisso atuarial, o qual precisa cumprir para poder pagar as aposentadorias prometidas aos participantes dos fundos de pensão.
A esmagadora maioria dos fundos de pensão do tipo benefício definido no Brasil tem o IGPM + 6% como meta atuarial. Se tivermos uma projeção de inflação de 8% para o ano 2000, isso significa que a meta atuarial ficará em 14% para o ano que vem. Bem, como a taxa de juros está em 19%, e deve cair ainda mais, até porque o governo quer estimular a economia no ano que vem (não vamos esquecer que trata-se de um ano de eleições), a diferença entre a meta as taxas de juros tornam-se cada vez mais apertadas. Qualquer deslize faz rolar ladeira abaixo os planos dos gestores das fundações, os quais trabalham sempre com a expectativa de superar a meta e não simplesmente de cumpri-la.
Por causa disso, muitos já estão fazendo projeções de adequar suas carteiras à nova realidade dos juros em queda, como mostra a reportagem escrita por Alexandre Sammogini. Em nossa entrevista ping-pong com o diretor executivo da asset management do Pactual, Marcelo Serfaty, ele nos conta que sua instituição opera com a projeção de que os investidores vão buscar maior exposição ao risco, saindo do conservadorismo da renda fixa.
Ao que parece, o ano que promete ser cheio de novos produtos para os aplicadores institucionais.