Colocar as barbas de molho

Esta edição foi fechada pouco antes do início das eleições americanas, quando o republicano Donald Trump enfrentaria o democrata Joe Biden, à quem as pesquisas de opinião pública atribuíam uma chance maior de ser o próximo ocupante da Casa Branca. Pesquisas de opinião pública devem sempre ser vistas com reserva, basta lembrar das pesquisas das eleições anteriores, que davam como praticamente certa a eleição de Hilary Clinton contra Trump, o que não se confirmou apesar de ela ter conquistado maioria no voto popular. Perdeu, entretanto, no Colégio Eleitoral.
Dessa vez a disputa é mais acirrada, até porque metade dos eleitores norte-americanos não quer de jeito nenhum a vitória do estilo incendiário de Trump, enquanto a outra metade também não quer de jeito nenhum o despejo desse estilo da Casa Branca. Assim, lá como aqui e em várias outras partes do mundo, a polarização não propriamente de ideias mas de estilos de fazer política, dividiu o país. De qualquer forma, como diziam os mais velhos, é hora de “colocar as barbas de molho”.
Para o atual governo brasileiro, a vitória de Trump seria muito bem vinda. A vitória de Biden deixaria Bolsonaro isolado no contexto internacional, tendo que defender praticamente sozinho ideias que batem de frente com temas ESG (de ambiental, social e governança), tão cara à importantes países europeus. Tendo a “sombrinha” de Trump para se abrigar das críticas desses países, como diz o economista-chefe do Banco Fator José Francisco Lima Gonçalves, em entrevista à página 8, as coisas ficam mais fáceis.
Gonçalves deu essa entrevista no dia 27 de outubro, uma semana antes das eleições. Ele falou, além das eleições americanas, sobre o cenário nacional. Acredita que não há, ao contrário do que muitos apontam, espaço para uma subida consistente da inflação, uma vez que não há poder aquisitivo na população brasileira hoje, durante a pandemia, para sancionar uma alta de preços mês após mês. Ele atribui o pedido de mais juros por parte do mercado, na verdade, mais ao medo de uma aventura fiscal por parte do governo do que ao medo da alta da inflação.