Edição 275
Entre a tarde e a noite do último dia 27 de setembro, um domingo, grande número de brasileiros deixou o interior das suas casas e apartamentos para observar de locais à descoberto o fenômeno do eclipse lunar. O eclipse, que por alguns minutos escondeu o astro, foi aplaudido por muita gente em praças públicas, mirantes e mesmo jardins de casas e condomínios.
Todos sabiam que o fenômeno seria passageiro, mas isso não reduziu o seu brilho nem o entusiasmo do público, principalmente porque dessa vez o fenômeno daria ao astro um inusitado tom avermelhado. O eclipse foi tema de conversas entusiasmadas durante o dia e de programas familiares durante a noite.
A compra de títulos públicos federais com vencimento longo é, sob vários aspectos, um fenômeno mais ou menos parecido. Obscurece por um certo tempo todos os demais ativos de investimento e torna-se num curto espaço de tempo o centro das atenções.
Sabemos que, em sã consciência, ninguém pode recriminar investidores de longo prazo como os fundos de pensão que estão usando essa oportunidade para elevar a rentabilidade das suas carteiras. Mas o modo como isso está sendo feito, descuidando-se completamente dos outros ativos, pode ser um tiro no pé. Afinal, quando o mercado mudar de direção esses investidores poderão não achar, a bons preços, os ativos de que precisam e serem obrigados a comprá-los na alta.
Faço esse rápido comentário para situar algumas reportagens dessa edição, dando conta das dificuldades que vivem os gestores de fundos estruturados e de renda variável. Os investidores estão fugindo desse tipo de produto. Sua participação nas carteiras de investidores institucionais, que já era tradicionalmente baixa, caiu ainda mais nos últimos anos.
Tenho ouvido de muitos gestores que atuam com fundos de renda variável, ou estruturados, que não é hora de lançar novos produtos no mercado. Não há compradores para eles. Esses gestores têm total razão. Com NTN-Bs de 30 anos pagando 7% reais ninguém quer correr o risco de um fundo de ações ou de um FIP. Mas esse momento, como a superlua, deve passar logo.