Mirae constrói histórico para chegar às fundações | Gestora sul-c...

Edição 209

Prestes a completar um ano no Brasil, a gestora sul-coreana Mirae Asset já trilhou metade do caminho que planejava: vem conseguindo um bom tracking record – até o final de outubro, seus fundos de ações long only renderam mais de 100% no ano, enquanto o Ibovespa estava em 60%. O próximo passo será aproximar-se dos fundos de pensão.
Depois de uma investida frustrada em 2007, a Mirae não descarta comprar concorrentes no Brasil para ter envergadura maior em um mercado considerado primordial nas estratégias globais da empresa. Naquele ano, o próprio presidente mundial da asset, Hyeon-Joo Park, veio ao País para negociar a compra de uma gestora local. Mas a Mirae só encontrou casas de multimercados disponíveis, enquanto desejava uma gestora focada em fundos de ações. A decisão foi então entrar no Brasil começando do zero, já que a Mirae não considerava a possibilidade de ficar de fora de um dos emergentes mais importantes do globo. Acrescenta-se a isso o fato de a estratégia da empresa ser justamente aplicar em ações desses países. “Hoje, consideramos o Brasil o mercado mais bullish dos emergentes. A China está em segundo lugar”, afirma Young Kim, head da área de investimentos da gestora e um dos quatro sul-coreanos que compõem a equipe de 25 pessoas que hoje trabalham no escritório da Mirae em São Paulo.
Kim atuou de 2002 a 2007 como head da área de institucionais da gestora na Coréia do Sul. O executivo geriu por anos a carteira de renda variável do único fundo de pensão do país, o South Koreas National Pension Service (NPS), que conta com mais de US$ 200 bilhões de patrimônio. Em 2007, foi para o escritório da gestora em Londres, e em 2008 chegou ao Brasil, trazendo toda a família. Segundo Kim, os planos da asset no País são de longo prazo. Jorge Sierra, responsável pela área comercial, endossa: “não vamos sair na primeira crise que houver. Pelo contrário, decidimos entrar no País justamente em meio às turbulências”.
Apesar de demonstrarem interesse nos fundos de pensão, os executivos da Mirae compreendem que esse cliente vai exigir um tracking record consistente para alocar seus recursos na nova casa. Por enquanto, esse objetivo está sendo atingido com os fundos já criados, que somam R$ 100 milhões de patrimônio, sendo 95% proveniente de seed money. Até o final de outubro, o Mirae Asset Discovery Ações Dividendos (que pode investir 10% do PL no exterior) rendia 103,70%, enquanto o Mirae Asset Discovery Equity Focus Multimercado (que pode investir 20% lá fora) subia 101,94%. Em junho, a gestora lançou o Mirae Asset Balanceado Multimercado e o Mirae Asset Equity Value Ações, que investe em small e midcaps. Há ainda R$ 1 bilhão investidos no País por estrangeiros em fundos offshore da asset.
Atualmente, as aplicações dos fundos no exterior se restringem a ações de países como Chile, México e Rússia. Na opinião de Kim, o diferencial da Mirae para as fundações será justamente a expertise em ações, a estrutura internacional e o fácil acesso aos mercados emergentes. Além da sede sul-coreana, a asset tem escritórios em Hong Kong, Índia, Inglaterra, Estados Unidos e Vietnã, que gerem um total de US$ 65 bilhões. Há planos de abertura de mais gestoras na Austrália, Emirados Árabes, China e Japão.
Para se relacionar com os institucionais, a Mirae depende de seu atual distribuidor, o Citibank. Contudo, há negociação em andamento para contratos com pelo menos outras sete instituições. A gestora aguarda também autorização do Banco Central para criar sua própria corretora.
Quando isso ocorrer, passará a ocupar o 12º andar inteiro do edifício onde está localizada, já que hoje ocupa apenas a metade. “No longo prazo, a Mirae também pretende entrar nos mercados de private equity, multimercados e renda fixa”, comenta Kim.

Bola da vez – Kim comentou a taxação de 2% do IOF imposta aos estrangeiros pelo governo brasileiro. Na opinião dele, a mudança não vai alterar a entrada de dólares no País. “A questão do IOF não é tão relevante assim. Pelo contrário, fez a Bolsa cair um pouco, o que permite que o estrangeiro compre ações mais baratas. Os fundamentos do País continuam os mesmos”, salienta.
A aposta da empresa nos últimos meses tem sido o crescimento do mercado doméstico, o que sustentou os mais de 100% de rentabilidade dos fundos da Mirae até agora. No primeiro trimestre, a asset apostou em construtoras e companhias relacionadas ao consumo interno. Segundo Kim, não dá mais para ficar sub-alocado em ações de companhias brasileiras. “O Brasil é o melhor lugar para se estar hoje.” A percepção de que o Brasil é a bola da vez da economia global não é privilégio apenas da gestora sul-coreana. Outras assets internacionais têm manifestado interesse em entrar no País. A recente mudança na legislação dos fundos de pensão também animou os players. Segundo Lauro Araújo, diretor de investimentos da Mercer, os gestores estrangeiros têm mais facilidade para oferecer produtos que invistam em mercados globais, por já terem uma rede mundial de analistas. “Está havendo toda uma movimentação por parte dos estrangeiros no sentido de entrar no mercado brasileiro e acessar os fundos de pensão do País”, diz.