Edição 199
O sexto ano de realização do prêmio de Melhores Profissionais de Investimentos pela Investidor Institucional ficará para sempre na memória de quem trabalha no mercado financeiro. Com o aprofundamento da crise internacional e a chegada de seus efeitos concretos ao Brasil, 2008 trouxe uma série de desafios a quem atua nos ramos de aconselhamento, análise ou gestão de recursos de terceiros. Não por acaso, a crise aparece como protagonista dos comentários emitidos por nossos dezessete premiados – tanto quando o assunto são os acertos do ano passado quanto no momento em que o tema são as projeções para este ano.
Durante um período de três meses encerrado em 30 de novembro de 2008, 176 instituições (entre fundos de pensão, assets e consultorias econômicas e financeiras) responderam a um questionário elaborado pela revista que serviu como base para a eleição dos melhores profissionais do ano passado. Cada instituição recebeu apenas uma ficha de votação e, embora pudesse votar em todas as categorias, devia abster-se naquelas que não acompanha bem. Todos os profissionais eleitos tiveram votos de pelo menos 25 instituições.
O Itaú teve o maior número de profissionais eleitos, com representantes em três categorias – melhor analista de telecomunicações, de petróleo e petroquímica e de títulos privados. Logo em seguida vem o Bradesco, com dois premiados (melhor analista de papel e celulose e melhor economista de instituição financeira). Entre os eleitos, há diversos profissionais que já figuraram em outras edições do prêmio da revista, como o pentacampeão Marcelo Rabbat, diretor da RiskOffice eleito em 2008 o Melhor Consultor de Risco.
Para Alexandre Póvoa, CEO do Modal Asset Management e quatro vezes premiado pela Investidor Institucional, a crise pode começar a dar uma trégua a partir de meados deste ano. “O primeiro trimestre ainda será de ajuste de preços de mercado e volatilidade intensa. A economia mundial demorará a se recuperar, mas as fortes medidas no campo fiscal e monetário começarão a fazer efeito. Mercados podem começar a melhorar de forma mais consistente a partir do segundo trimestre”, estima ele. Ao falar especificamente sobre o setor imobiliário, Marcello Milman, analista do Banco Santander que recebeu o prêmio por sua atuação no segmento, concorda com Póvoa. “Entendemos que o cenário deva melhorar para a segunda metade do ano, combinado com uma maior disciplina na contenção da oferta no setor”, diz ele. Paula Kovarsky, do Itaú, também prevê uma retomada no setor de petróleo e gás, segmento que lhe rendeu o prêmio de melhor analista de 2008. “Na nossa visão, ainda que a crise global tenha atingido proporções gigantes, as expectativas negativas do mercado vão além dos impactos efetivos sobre a economia global. Num contexto de expectativas tão deprimidas, acreditamos que o petróleo possa reagir positivamente a pequenas surpresas”, prevê a analista.
Mas nem tudo são flores nas perspectivas para 2009, em especial para os fundos de pensão. Antônio Gazzoni, da Gama, alerta para a possibilidade da crise afetar patrocinadoras e, por conseqüência, reduzir o número de participantes dos planos de previdência complementar em função de eventuais demissões. “Tal cenário poderá provocar a diminuição no ritmo de crescimento de novos planos e entidades. E vislumbro, ainda, a manutenção das dificuldades para se atingir a meta atuarial”, sinaliza o sócio-diretor da Gama, premiado pelo segundo ano consecutivo pela Investidor Institucional.
Ana Cristina Gonçalvez da Costa Boicenco Melhor economista de instituição financeira
Carreira: Economista chefe da Bradesco Asset Management (BRAM), Ana Cristina trabalha na gestora desde julho de 2001. A economista veio da BCN Alliance, também uma empresa de administração de recursos, que ao ser fundida com a Bradesco Templeton, o Bradesco Carteiras e a Boavista Espírito Santo AM, deu origem à BRAM. Antes disso, atuou na MCM Consultores Associados e no Unibanco.
Acertos em 2008: Já no início de 2007 identificávamos sinais de que haveria uma reversão do ciclo de expansão do crédito. O processo de alavancagem nos parecia exagerado especialmente em função da forte redução da ociosidade dela resultante. Em 2008, nos mantivemos coerentes com os pressupostos traçados há pelo menos um ano e previmos que o problema era de grande magnitude e de caráter global, o que nos levou a descartar os cenários de soft landing e decoupling, muito em voga no início de 2008. A expectativa de que a liquidez internacional seria mais seletiva nos fez trabalhar com a hipótese de que no Brasil o câmbio iria se valorizar, embora a intensidade com que a cotação do dólar se corrigiu nos tenha pego de surpresa. Ainda em âmbito doméstico, eu diria que nosso maior acerto foi nos antecipar à necessidade de ajustar o ritmo de demanda ao que é potencialmente sustentável via aperto monetário. Também fomos pioneiros em projetar a desaceleração no saldo comercial tal qual se observou ao longo do ano.
Projeções para 2009: A política de monetização adotada pelo FED não parece capaz de compensar os efeitos da paralisação da intermediação financeira. Em sua grande maioria, os passivos são denominados em dólares. A oferta insuficiente de liquidez para fazer frente a tais passivos tem feito a moeda norte-americana ganhar valor. Como é provável que a normalização da operação bancária seja muito lenta, a necessidade de caixa dará fôlego adicional ao dólar em 2009. Neste contexto reduz-se a prerrogativa do Brasil sustentar o excesso de demanda (em relação à poupança doméstica) que já se consolidara em deterioração das transações correntes. É inegável que a desaceleração mundial impactará o ritmo da expansão brasileira. Três são os canais de transmissão: a retração do crédito, o enfraquecimento do comércio mundial e a piora na confiança. Vale lembrar, no entanto, que a desaceleração necessária para que se consolide o ajuste à liquidez mais seletiva pode ser além da determinada pelos fatores endógenos de contração, porque no ambiente de maior incerteza também se reduz a perspectiva para o crescimento potencial brasileiro. No curto prazo, somar-se-á à desaceleração da atividade o undershooting nas cotações das commodities atuando para que a inflação corrente se mantenha comportada. A partir de meados de 2009, quando o ajuste de estoques já tiver se completado e as commodities voltarem a patamar mais realista, a transmissão da alta do dólar para os preços internos imporá riscos ao viés expansionista da política monetária que deve vigorar no primeiro semestre de 2009.
Mario L. Pierry Melhor analista de bancos
Carreira: Há seis anos no Deutsche Bank, o diretor Mario L. Pierry desempenha a função de análise de renda variável, sendo responsável pelo setor financeiro da América Latina. Bacharel em Economia pela Clark University e com MBA em Finanças pela New York University (Stern School of Business), ele trabalhou no JP Morgan com Equity Research de 1994 a 2001.
Acertos em 2008: Nos tornamos mais cautelosos no setor em 17 de março porque estávamos preocupados com os efeitos do aumento no custo de captação dos bancos, de menores ganhos com receitas de serviço e de elevações nas bases dos custos. Fizemos upgrade de Nossa Caixa para “compra” em 22 de maio, pois achávamos que a aquisição pelo Banco do Brasil era inevitável. A ação subiu 134%. Reduzimos recomendação do Bradesco para “Hold” no dia 28 de abril e a ação caiu 33%. Reduzimos recomendação do Itaú para “Hold” no dia 6 de maio e a ação caiu 24%. Reduzimos recomendação da Porto Seguro para “Hold” no dia 11 de maio e a ação caiu 32%.
Projeções para 2009: Estamos cautelosos para 2009, em linha com a visão dos nossos economistas. Não vemos um risco sistêmico para o setor, mas achamos que os resultados serão afetados negativamente por uma desaceleração no crescimento do crédito e por um aumento na inadimplência. Além do mais, o setor está arbitrando um prêmio em relação aos bancos do resto do mundo (comparando preço e patrimônio liquido). Achamos esse prêmio merecido, já que os bancos brasileiros estão bem capitalizados e não possuem papéis “tóxicos”, mas será difícil o prêmio aumentar.
Marcello Milman Melhor analista de imobiliário/construção
Carreira: Há dois anos e meio no Banco Santander, o analista do setor imobiliário também atuou anteriormente no Banco Espírito Santo e no UBS. Este é o segundo ano consecutivo em que Marcello Milman recebe um prêmio da Investidor Institucional. Em 2007, ele foi eleito Melhor Analista de Empreendimentos Imobiliários.
Acertos em 2008: Dentro de um cenário muito desafiador para as ações do setor, acredito que tenha agregado valor para os investidores ao discutir tendências setoriais, como velocidade de vendas e consumo de caixa, que são relevantes para as mais de 20 empresas listadas do setor, além de destacar os nomes mais interessantes do segmento, entre eles PDG e Multiplan, que tiveram algumas das melhores performances do setor em 2008. Até o dia 10 de dezembro, a Multiplan tinha uma performance negativa de 32% (vs. -35% do Ibovespa), enquanto a PDG caia 62%, o que apesar de ser pior do que o Ibovespa, foi bastante melhor do que o desempenho médio de suas comparáveis (Cyrela, Gafisa, MRV e Rossi).
Projeções para 2009: O início do ano deve ser negativo para as empresas do setor, em vista da potencialmente forte desaceleração em vendas, ainda num momento em que o consumo de caixa referente aos projetos lançados em 2007 e 2008 deve ser elevado. Um risco a ser monitorado será o aumento do desemprego, que poderia dificultar o repasse das carteiras imobiliárias para bancos. No entanto, entendemos que o cenário deva melhorar para a segunda metade do ano, combinado com uma maior disciplina na contenção da oferta no setor. Com isso, vemos as ações exageradamente descontadas em termos de avaliação, e recomendamos investimento numa abordagem de longo prazo.
Rodolfo De Angele Melhor analista de siderurgia e mineração
Carreira: Há dois anos no JPMorgan, Rodolfo De Angele já atuou também no Boston Consulting Group, no Chase, Salomon Brothers e no Banco Votorantim. Com MBA em Wharton, o LatAm Metals & Mining Analyst and Head of Brazil Equity Research do JPMorgan é formado em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas.
Acertos em 2008: Meu principal acerto foi iniciar o ano com uma visão otimista de siderurgia. A situação atual é bastante diferente do que era um ano atrás, portanto, é importante colocar as coisas em perspectiva.
Todo o foco no início do ano era no potencial aumento de preços que ocorreriam nas matérias-primas das siderúrgicas, principalmente minério de ferro e carvão. O consenso era que a Vale seria a grande vencedora em detrimento da siderurgia. A principal preocupação dos clientes era o impacto que as empresas do setor sofreriam com os aumentos de suas matérias-primas e qual seria o tamanho da compressão de suas margens.
Porém, minha visão era contrária à da preocupação dos investidores.
Nossa visão, que se provou correta, era de que principalmente as siderúrgicas asiáticas sofreriam mais do que as da América Latina com o aumento de seus custos. Com isso, a curva de custos da indústria se tornaria mais íngreme e seria inevitável que os preços de aço aumentassem consideravelmente, elevando desproporcionalmente o lucro das siderúrgicas locais de baixo custo. Isso se provou correto. No início do ano nossa recomendação era “top down”, ou seja, escolha uma ação e não fique fora de siderurgia. Até o pico de preços as ações acumularam de 65% a 75% de alta no período contra cerca de 17% para as ações da Vale e apenas 15% do Ibovespa.
Outro importante acerto em 2008 foi em relação à Gerdau. Minha visão era baseada no fato de que a empresa estava mais bem posicionada que suas concorrentes para se beneficiar do momento positivo da indústria. De março a junho, as ações da empresa subiram cerca de 70% contra aproximadamente 50% de Usiminas, 40% da CSN e 20% do Ibovespa. A segunda metade de 2008 se provou extremamente desafiadora, marcada por uma brutal e rápida mudança de cenário. O que considerávamos eventos de baixíssima probabilidade se tornaram nosso cenário base.
Apesar de ainda ver muito valor no setor, o JPMorgan rapidamente recomendou que investidores ficassem “underweight” nos setores de commodities, incluindo siderurgia e mineração. Nosso último grande acerto foi prever uma reação rápida e drástica da indústria de siderurgia e principalmente da Vale. Antecipamos que haveria paradas de produção para adequar a oferta de aço à demanda.
Projeções para 2009: Nossas projeções para 2009 são bem diferentes das de 2008. Os setores de siderurgia e mineração estão em seu período de “apagão”, com reduzidos volumes, extensos cortes de produção com o objetivo de adequar demanda e oferta e estoques. Esperamos que a economia mundial atravesse um vale no primeiro trimestre, iniciando uma recuperação no segundo trimestre do ano. Os diversos pacotes de estímulo fiscal anunciados devem ter importante papel na recuperação econômica mundial e na demanda e no preço das commodities. O segundo semestre de 2009 deverá ser bastante mais favorável para ações.
Nossa recomendação atual é que o investidor mantenha-se cauteloso e “underweight” em siderurgia e mineração porque acreditamos que ainda é cedo para ter uma visibilidade mínima de como será a performance das empresas do setor durante o ano. Sugerimos exposição apenas a empresas que: (a) têm sido extremamente ágeis e transparentes com investidores em relação à situação de demanda; (b) cuja administração reagiu rapidamente com redução de produção e de custos para enfrentar a crise; (c) que tenham balanços com elevada liquidez e (d) que esteja negociando a múltiplos atrativos e abaixo do que consideramos ser seu valor potencial. A empresa que na minha opinião melhor se encaixa neste perfil é a Vale do Rio Doce. Também acredito que será um ano bom para a siderurgia, mas os investidores devem aguardar um pouco mais para investirem no setor.
Juliana Rozenbaum Melhor analista de alimentos e consumo
Carreira: Analista sênior de Consumo, Healthcare e Educação do Unibanco, Juliana Rozenbaum já atuou também nas instituições Icatu, Pactual, JGP, Itaú/BBA e Deutsche Bank. A economista formada pela PUC do Rio de Janeiro foi eleita também em 2007 Melhor Analista de Alimentos e Consumo e, em 2003, Melhor Analista de Varejo. Ela completa, agora no mês de março, dois anos de trabalho no Unibanco.
Acertos em 2008: Focamos nossa recomendação em CBD, acreditando na reestruturação de custos promovida pelo novo management, assim como na recuperação do crescimento de vendas com o reposicionamento de preços permitido pelo corte de custos, criando um círculo virtuoso de crescimento e expansão de margens. Além disso, com a deterioração do cenário de consumo na segunda metade de 2008, também ressaltamos o perfil defensivo da venda de alimentos. Projeções para 2009: Esperamos um cenário bastante desafiador para empresas de consumo em 2009, especialmente no primeiro semestre, devido à desaceleração da demanda e vendas, assim como aumento da inadimplência. Preferimos as empresas com baixa dependência de vendas a prazo, assim como balanços pouco alavancados.
Valder Nogueira Melhor analista de telecomunicações
Carreira: Há seis meses na Itaú Securities, o analista-chefe de Telecom, Mídia e Tecnologia Valder Nogueira trabalhou no Santander e no Banco Pactual, além de ter acumulado experiência nas companhias Embratel e Brasil Telecom. Ele é graduado em Finanças pela Universidade do Texas (EUA).
Acertos em 2008: Em 16 de outubro de 2008 recomendamos VIVO4 como Outperform (compra). Desde então o papel saiu de R$ 24,30 para R$ 35,33, resultando em uma apreciação de 45%, contra uma alta de apenas 7% para o Ibovespa no mesmo período. Nossa recomendação foi baseada na percepção de que a empresa daria continuidade à estratégia de crescimento seletivo e expansão de rentabilidade. Nesta mesma data, recomendamos UOLL4 como Outperform. Apesar de cair a um preço mínimo em 2008 de R$ 5,50 (em 19/novembro), o papel recuperou e negocia hoje a R$ 7,38, resultando em uma apreciação de 23% desde 16 de outubro. OBS: afirmações dadas em meados de dezembro do ano passado.
Projeções para 2009: Nossas principais apostas no setor para 2009 são Vivo, GVT e Totvs. Gostamos de Vivo (preço alvo: R$ 56,10), pois acreditamos que a empresa continuará a entregar os resultados sólidos apresentados em 2008. Gostamos também de GVT (preço-alvo: R$ 39,50), pois o papel foi excessivamente penalizado devido à sua exposição a investimentos e dívida em US$. Entretanto, acreditamos que o fluxo de notícias tende a ser positivo, pois a GVT focará em geração de fluxo de caixa livre (sem abrir mão de crescimento), fechou uma linha de crédito em reais junto ao BNDES (permitindo uma maior flexibilidade financeira) e continuará com sua abordagem seletiva de crescimento, evitando exposição desnecessária a inadimplência. No setor de tecnologia, nossa principal recomendação é Totvs (preço alvo: R$ 72,50), pois a empresa demonstrará mais uma vez sua habilidade de rapidamente integrar ativos adquiridos e capturar a grande demanda reprimida por ERP (software de gestão empresarial).
Raphael Biderman Melhor analista de papel e celulose
Carreira: Depois de ganhar o prêmio de Melhor Analista de Siderurgia e Mineração em 2007, chegou a vez de o analista sênior de recursos naturais da Bradesco Corretora ser eleito no setor de papel e celulose.
Raphael Biderman, que também já passou pelas instituições BBVA, JPMorgan-Chase e Flemings, está há um ano e meio na Bradesco Corretora.
Acertos em 2008: Houve uma preocupação com o cenário macroeconômico externo nas commodities, em especial o risco de uma desaceleração forte na economia chinesa. Tínhamos uma visão menos otimista em Aracruz e VCP: achávamos que a VCP iria ter problemas com o projeto Lozango, que foi de fato adiado e, apesar de não imaginarmos que a Aracruz teria os problemas de derivativos que teve, achávamos que a postura do mercado de enxergar a companhia e VCP como “as queridinhas” em detrimento a Suzano e Klabin era exagerada.
Projeções para 2009: Mais uma vez achamos que o cenário macroeconômico global é essencial para o setor. Neste sentido, continuamos com muita preocupação. A visão de nosso economista é que existe um risco razoável de que as medidas a serem tomadas para enfrentar a crise nos EUA e na China não ataquem o cerne da questão, podendo gerar uma melhora não duradoura. As ações do setor caíram muito, mas o cenário para preços e volumes de commodities não é sólido.
Sugerimos uma postura neutra para o investidor que só pode ter um horizonte de investimento de curto e médio prazo. Valor existe, mas no longo prazo, principalmente para Suzano. Os grandes eventos do ano serão o processo de reestruturação financeira da Aracruz, a nova máquina MA1100 da Klabin que deve finalmente mostrar resultados, e a entrada em operação da planta de Três Lagoas da VCP.
Pedro Batista Melhor analista de energia elétrica
Carreira: Eleito pela quarta vez Melhor Analista de Energia Elétrica, Pedro Batista é chefe da área de Pesquisa de Empresas do UBS Pactual, instituição na qual trabalha há 11 anos. Antes disso, o engenheiro de produção formado pela UFRJ trabalhou com planejamento financeiro na Shell Brasil.
Acertos em 2008: O maior acerto de 2008, sem dúvida, foi o call de Cesp.
Vínhamos recomendando a ação com base no call da privatização, mas mudamos nossa recomendação em janeiro, quando ficou claro que a venda seria feita sem um novo contrato de concessão. Desde então, a ação underperformou o Ibovespa em 47% até darmos o upgrade de novo em maio. Com as preocupações crescentes em relação à inflação e mais recentemente com a busca por papéis defensivos em um cenário turbulento, recomendamos a partir de setembro as ações do setor elétrico, que performaram muito bem. Nossa principal recomendação nesse período foi Cemig, que outperformou o Ibovespa em 78% e o IEE (índice do setor elétrico) em 20%. Eletrobrás, outro top pick do UBS Pactual, também outperformou o Ibovespa em 33% desde nosso relatório publicado em agosto.
Projeções para 2009: Continuamos com uma visão positiva para o setor em 2009, dado seu perfil defensivo. O setor apresenta uma geração de caixa muito estável, com proteção contra inflação, proporcionando um potencial pagamento de dividendos atrativos com um nível baixo de risco.
Como um todo, as empresas do setor têm uma baixa alavancagem (dívida líquida/Ebitda menor que 2.0X) e pouca necessidade de refinanciamento de dívidas de curto prazo. A desaceleração econômica deve ter um impacto pequeno comparado a outros setores, principalmente no segmento de geração, dado o cenário apertado de oferta e demanda de energia nos próximos anos.
Paula Kovarsky Melhor analista de petróleo e petroquímica
Carreira: Há dois anos na Itaú Securities, Paula Kovarsky ocupa o cargo de vice-president Equity Research – head of Chemicals&Oil e Aerospace&Transportation. Anteriormente, ela atuou por 10 anos na área de Gás & Energia da Shell Brasil.
Acertos em 2008: No meio do ano, quando o petróleo atingiu USD 150 e a grande maioria dos analistas globais apostava que a commodity poderia atingir USD 200, fizemos uma aposta contrária com base em dois argumentos principais: o mercado parecia ignorar a elasticidade demanda/preço, e a demanda mundial em si já dava sinais de fraqueza.
Ao mesmo tempo o governo brasileiro iniciava uma discussão desordenada sobre o marco regulatório para exploração de petróleo.
Neste contexto optamos por uma visão mais pessimista quanto à performance da Petrobras. Em seguida, já em outubro, mesmo com a queda já acentuada desta ação, fomos a primeira casa a rebaixar nossa recomendação neste papel, sob o argumento de que dada a queda abrupta da commodity no curto prazo e pioradas as perspectivas de demanda inevitavelmente as projeções de longo prazo para o petróleo seriam reduzidas, forçando o valuation da empresa para baixo e diminuindo o interesse dos investidores por projetos de longa maturação como as descobertas do pré-sal. Tivemos bastante sucesso também no nosso call de Ultrapar, empresa que julgávamos ter uma combinação interessante entre ser defensiva e ter bons triggers para valorização, incluindo as sinergias entre Ipiranga e Texaco e melhoria de resultados.
Este papel outperformou o Ibovespa de forma expressiva nos últimos meses.
Projeções para 2009: Esperamos uma recuperação dos preços de petróleo ao longo do primeiro semestre. Na nossa visão, ainda que a crise global tenha atingido proporções gigantes, as expectativas negativas do mercado vão além dos impactos efetivos sobre a economia global. Num contexto de expectativas tão deprimidas, acreditamos que o petróleo possa reagir positivamente a pequenas surpresas. Além disto, os preços baixos atingiram em cheio os países produtores, cujas economias dependem das exportações na sua grande maioria, o que torna os preços atuais insustentáveis. Sendo assim, esperamos uma recuperação gradual das ações da Petrobras na medida em que um cenário um pouco mais favorável de petróleo permita que o mercado precifique novamente o enorme potencial de reservas desta companhia. Já para petroquímica vemos um cenário mais complicado para este ano, a partir de uma combinação perigosa de demanda fraca e iminência de um ciclo de baixa causado pela entrada de grande capacidade produtiva na Ásia e Oriente Médio. Ademais, empresas como a Braskem com grande alavancagem em dólar poderão ver seus ganhos operacionais advindos de margens dolarizadas serem reduzidos por um custo maior de dívida.
Ciro Shoiti Matuo Melhor analista de títulos privados
Carreira: Head da área de Research para Dívida Corporativa da Itaú Corretora de Valores S/A, Ciro Shoiti Matuo foi eleito pelo segundo ano seguido Melhor Analista de Títulos Privados. Há dois anos e meio na Itaú Corretora, ele trabalhou anteriormente na Indosuez W. I. Carr Securities, além de ter passagens pelo Banco Itaú e pela Itaú Asset.
Acertos em 2008: Vale mencionar o relatório que publicamos sobre a Telemar Participações por ocasião da emissão de suas debêntures em maio deste ano. Além da importância da emissão para o processo de aquisição da Brasil Telecom pela Telemar (formação da Supertele), entendemos que um dos pontos positivos do relatório foi retratar a evolução das empresas envolvidas no processo ao longo de cada uma de suas etapas que incluíam emissões de dívidas nas subsidiárias, pagamentos de dividendos extraordinários, trocas de ação e ofertas de recompra de ações. O desafio adicional foi a modelagem do fluxo de dividendos proveniente de todas as subsidiárias para a emissora.
Projeções para 2009: Entendemos que dentro do atual cenário de retração do crédito e desaceleração da economia, a baixa alavancagem financeira continua sendo a grande aliada de um grande conjunto de empresas brasileiras. De forma geral, temos uma percepção mais positiva em relação aos setores mais atrelados à demanda doméstica e menos expostos à turbulência dos mercados internacionais. Os efeitos das medidas do Banco Central no sentido de irrigar o crédito devem ser sentidos gradualmente ao longo do ano de 2009 e a maior transparência nos balanços em relação a operações com derivativos deve contribuir para diminuir a aversão ao risco por parte dos mercados.
Marcelo Mesquita de Salles Oliveira Melhor gestor de fundos de renda fixa
Carreira: O Chief Investment Officer (CIO) e chefe de renda fixa da UBS Pactual Asset Management, Marcelo Mesquita de Salles Oliveira, está na instituição há 11 anos. Antes disso, o executivo formado em Administração de Empresas pela Fundação Getulio Vargas (FGV) trabalhou no Unibanco.
Acertos em 2008: 2008 foi um ano extremamente difícil, em que prevaleceu o conservadorismo e o foco na preservação de capital ao invés da busca por altos retornos. O grande acerto do ano foi termos percebido que a atividade estava forte demais e que mais cedo ou mais tarde isto impactaria a inflação. Para proteger nossas posições fizemos um “hedge” de compra de inflação para nossos fundos comprando NTN- Bs e tomando DI futuro.
Projeções para 2009: 2009 deve ser um ano de boas oportunidades nos mercados financeiros. Hoje todos os ativos estão em preços historicamente baixos, sejam ações, títulos corporativos e mesmo alguns títulos públicos. No mundo falta capital de risco para o volume de ativos de risco existentes, mas no Brasil pode haver a oportunidade para os investidores perderem a referência no CDI overnight e aproveitarem as boas oportunidades que ativos de longo prazo estão apresentando, principalmente investidores institucionais que têm um horizonte de investimento de longo prazo. A maior oportunidade deve vir do mercado de juros. A crise internacional deve ter forte impacto no crescimento brasileiro e conseqüentemente na inflação. Isso deve fazer com que o Banco Central (BC) volte a reduzir os juros, gerando boa oportunidade de ganhos em títulos pré-fixados e em títulos de inflação.
Pedro Damasceno Melhor gestor de fundos de renda variável
Carreira: Ocupando o posto de sócio e gestor da Dynamo, o economista Pedro Damasceno está na administradora de recursos desde sua fundação, em 1993.
Acertos em 2008: Estamos sempre sendo colocados à prova e a “briga” com as dúvidas e convicções é diária na busca pela melhor relação risco/retorno possível.
Projeções para 2009: É difícil fazer projeções, ainda mais considerando-se o mundo atual. Acredito muito na nossa capacidade de adaptação aos diversos cenários que aparecem dado ao nosso foco, profundidade e proximidade com as companhias.
Alexandre Pavan Póvoa Melhor gestor de fundos multimercados
Carreira: Há cinco anos à frente do Modal Asset Management, o CEO Alexandre Póvoa teve passagens anteriores pelo ABN Amro Asset Management, Morgan Stanley Dean Witter e Banco Inter-Atlântico, além de ter atuado como gerente de Renda Variável da Fundação Eletrobrás de Seguridade Social (Eletros) na década de 1990. Esta é a quarta vez que Póvoa recebe um prêmio da Investidor Institucional – ele foi eleito Melhor Gestor de Renda Variável no ano 2000 e Melhor Gestor de Portfólio Balanceado em 2001 e 2002.
Acertos em 2008: Em termos gerais, meu maior acerto foi na escolha da equipe. Neste tipo de produto, o grande mérito do profissional é saber coordenar o processo, como um maestro em uma orquestra. No Modal Asset, não existe contradição entre a estratégia de longo prazo e a administração da conjuntura de curto prazo. Há sinergia total em termos de gestão e pesquisa (macroeconomia e renda variável). O time está sempre de cabeça aberta para entender que as correlações entre os mercados mudam ao longo do tempo, sobretudo por conta da globalização. De agosto de 2007 a junho de 2008, a aposta foi na elevação de expectativas de inflação (sobretudo IGP-M) e abertura de posições “tomadas” no mercado de DI, com aposta na postura mais dura do BC. Outro acerto foi a migração de ações ligadas a commodities para papéis ligados à economia local antecipando a concessão do grau de investimento ao Brasil. Em julho e agosto de 2008, foi a vez da zeragem ágil das posições compradas em Bolsa brasileira e em real e da compra de opções de venda de S&P. De setembro em diante, veio a decisão de redução radical de exposição a risco (apostas contra ou a favor), além da tática de aproveitamento dos exageros de mercado, com carregamento baixo de posições. Uma política permanente foi a busca de proteções e alavancagem baratas no mercado de derivativos em juros, câmbio e bolsa.
Projeções para 2009: O primeiro trimestre ainda será de ajuste de preços de mercado e volatilidade intensa. A economia mundial demorará a se recuperar, mas as fortes medidas no campo fiscal e monetário começarão a fazer efeito. Mercados podem começar a melhorar de forma mais consistente a partir do segundo trimestre. Cenário-base: economia brasileira cresce 2,1% em 2009, com o PIB mundial em alta de 1%; nosso dólar de equilíbrio, para um balanço de pagamentos bem menos folgado, é de R$ 2,30; e a queda da taxa Selic deve ocorrer, mas em ritmo lento, até porque a atividade local vai desacelerar, mas não “despencar”.
Everaldo França Melhor consultor de investimentos
Carreira: Esta é a terceira vez que Everaldo Guedes de Azevedo França recebe um prêmio da Investidor Institucional. Engenheiro Eletrotécnico pela Escola Politécnica da USP, o diretor-presidente da PPS Portfólio Performance cursou os programas de mestrado e doutorado em Administração de Empresas com ênfase em Finanças na FEA-USP. Em sua experiência profissional figuram passagens por Banco Itaú, Banco Real, Unibanco, Banco Bandeirantes e Grupo ECOM Trading.
Acertos em 2008: Orientamos clientes acerca dos problemas existentes nas estratégias de grande parte dos fundos multimercados, que sugerem praticar estratégias ativas de alocação tática em renda variável, mas na verdade mantêm permanentemente uma posição mínima de exposição em carteira de ações, caracterizando uma carteira balanceada.
Independente da capacidade efetiva de market timing do gestor, tais estratégias resultaram em resultados muito insatisfatórios em 2008, além de representarem custo adicional desnecessário na aquisição de risco sistemático do mercado de ações (compra de Beta). Adicionalmente, nossas sugestões de que o momento de stress nos cupons das NTN-Bs fosse capturado se concretizaram como um efetivo aproveitamento de uma oportunidade que pode não retornar.
Projeções para 2009: É possível e, principalmente, desejável, que a autoridade reguladora promova mais um avanço na normatização dos investimentos no exterior porque, especialmente em renda variável, o valor que pode ser agregado pela diversificação internacional é expressivo. Nosso mercado de ações tem excelentes perspectivas, mas é demasiadamente influenciado e concentrado em commodities. Ainda há espaço para garantir o atingimento de objetivos de rentabilidade com a utilização de NTN-Bs, embora já tenha ocorrido um fechamento dos cupons. Eventuais novos momentos de stress não devem ser desperdiçados. A menos que ocorram sérias derrapagens na condução da política econômica, a condição do Brasil como um país que atrai investimentos internaciona