Edição 198
Experiências negativas vividas pelos fundos de pensão no início da indústria brasileira de private equity podem ter criado obstáculos para que os investimentos das fundações no segmento se tornem realmente significativos. Isso porque, na opinião de Marco Nipola D’Ippolito, sócio do Pátria Investimentos, para se proteger de novos resultados não tão positivos, muitas fundações têm pleiteado poderes sobre a gestão dos fundos que acabam atrapalhando as operações. “Imagine um pêndulo. No início, os fundos de pensão foram para o lado de dar muitos poderes aos gestores e acabaram acontecendo alguns casos públicos de fundos de private equity geridos por empresas que fizeram um péssimo trabalho. Aí os fundos de pensão acabaram levando o pêndulo totalmente para o outro lado. Nós esperamos que esse nicho, que é super importante para o desenvolvimento da indústria, em algum momento coloque esse pêndulo mais para o meio para que nós consigamos fazer negócio com os fundos de pensão novamente”, diz.
Para o executivo, todo esse pé atrás das fundações em relação aos investimentos em private equity é uma questão de histórico. Segundo ele, no primeiro ciclo desta indústria no Brasil, entre 1990 e 2000, muitos fundos de pensão perderam dinheiro com alguns gestores que “realmente fizeram besteira”. Diante disso, as entidades passaram a querer tomar as rédeas dos fundos nos quais investem. “Há alguns anos, os fundos de pensão investiram em private equity e não tiveram experiências muito positivas. Isso fez com que eles começassem a ter um grau de exigência na gestão dos ativos, na política de investimento e de desinvestimento, muito alto, passando a cobrar dos gestores que eles cedessem muitos poderes. Isso acabou ficando totalmente incompatível com o interesse da grande maioria dos outros investidores”, ressalta.
Uma prova da resistência dos fundos de pensão em investir em private equity pode ser o fundo do Pátria que acaba de concluir sua captação, o Pátria Brazilian Private Equity Fund III. Com US$ 700 milhões levantados, o fundo tem sua base de investidores dividida entre estrangeiros, com 80%, e brasileiros, com os 20% restantes. D’Ippolito conta que entre os investidores internacionais estão fundos de pensão de Estados Unidos e Europa, além de endowments, autoridades governamentais, bancos e famílias. Os fundos de pensão brasileiros, no entanto, não investiram nesse produto, apesar de terem demonstrado interesse. “Conversamos com várias fundações brasileiras e todas elas ficaram muito interessadas.
Falamos com todos os grandes nomes que se conhece, mas sempre se parou nessa questão do poder de deliberação”, explica o executivo. Ele acrescenta que é nítida a diferença de comportamento dos fundos de pensão estrangeiros dos nacionais. “No caso dos fundos de pensão lá de fora, não existe questionamento do mandato do gestor. Até por questões de responsabilidade civil, eles fazem questão de não participar de nada, quer dizer, deixam bem claro o papel deles de cotistas. Já os brasileiros dizem: ‘eu quero fazer parte do comitê de investimento, eu quero fazer parte do conselho de administração da empresa, eu quero decidir se pode desinvestir ou não’. E a gente acredita que isso desvirtua o mandato do gestor e pode prejudicar a política de investimento”.
Captando na crise – Com 80% de sua base de investidores no exterior, o Pátria Brazilian Private Equity Fund III conseguiu captar mesmo com toda a turbulência nos mercados. D’Ippolito explica que a captação foi iniciada há um ano e terminou recentemente, não coincidindo muito, no final das contas, com a acentuação da crise financeira. “Tivemos uma intersecção muito pequena com a crise, de modo que não nos afetou muito. E é percebido pelo estrangeiro que os fundamentos do Brasil são sólidos, que se trata de um país que vai prosperar, que vai se sair melhor do que os outros no longo prazo”, afirma.
O novo fundo de private equity do Pátria tem prazo total de dez anos, sendo que o período de investimento é de seis. Segundo D’Ippolito, não existe uma meta de retorno aos investidores, mas se trabalha para manter a média histórica da gestora – desde 1994, o Pátria tem mostrado um retorno em dólar de 30% ao ano. Em novembro do ano passado, o fundo fez seu primeiro investimento, na Zatix, uma empresa que atua no ramo de rastreamento de veículos, fez três aquisições e hoje já figura como uma das maiores do Brasil. O executivo conta que o fundo é multi- setorial, ou seja, apesar de ter setores de preferência para realizar investimentos, não tem restrições quanto a isso. “Abordamos três tipos de ‘famílias’: setores em que o Brasil tem grande vantagem competitiva, como agronegócio e terceirização de serviços; naqueles em que existe grande demanda reprimida e uma lacuna econômica, como saúde e educação; ou ainda em segmentos movidos pelo consumo, principalmente o interno”, indica.