Edição 381

A visão curto-prazista dos investidores institucionais na análise do desempenho de fundos e gestores terceirizados pode representar uma armadilha que leva a decisões equivocadas de alocação, aponta estudo feito recentemente pela equipe de Fundos de Fundos (FoF) da Fundação Real Grandeza (FRG). O estudo focou exclusivamente nos fundos multimercados.
Uma das principais conclusões do trabalho é a que apenas as janelas de mais longo prazo (36 a 60 meses, no caso dos multimercados) permitem verificar a capacidade dos gestores superarem os benchmarks nos melhores fundos da classe (top 10%), explica Arthur Paolucci, analista sênior de investimentos, gestor de FoF e coordenador do estudo.
O contrário também é válido para encontrar os piores fundos, que estão no pior decil (top bottom), porque há uma probabilidade decrescente de superar o benchmark à medida que as janelas de análise se ampliam e fica claro que eles dificilmente conseguirão reverter o histórico ruim.
Os multimercados foram o objeto do estudo porque essa foi a classe de fundos que inaugurou o modelo de diversificação e terceirização da gestão na FRG, em março de 2023. Esse processo levou a uma diversificação da carteira da fundação, que conta hoje com 20 gestores externos e R$ 2,51 bilhões em FoFs, dos quais R$ 600 milhões estão em multimercados.
Além disso, “quisemos fazer uma ‘provocação’ à indústria, porque muitas fundações chegaram a zerar suas carteiras de multimercados, como se não acreditassem mais nesses fundos, mas nós demonstramos que há gestores que foram capazes de gerar retornos acima do CDI em quatro ou cinco anos, como muita consistência”, diz Paolucci.
A FRG comparou os onze fundos multimercados nos quais investe com os fundos com histórico maior do que nove anos do índice IHFA, da Anbima, na data de 31/07/2025. Entre as principais conclusões do estudo destacam-se:
• A chance de bater o CDI aumenta conforme o horizonte de investimento cresce, podendo chegar a 100% entre 36 e 60 meses;
• Mais de 70% dos fundos da FRG alcançam 100% de probabilidade de superar o CDI em janelas longas.
• Apenas um fundo da FRG se comportou como o grupo dos piores do IHFA (probabilidade decrescente ao longo do tempo).
• No IHFA como um todo, apenas cerca de 50% dos fundos chegam a alta probabilidade de superar o benchmark – muito abaixo dos resultados da prateleira FRG.
Além disso, “demonstramos que a gestão de FoF adiciona valor a partir do trabalho de seleção e monitoramento, dado que mais de 80% dos fundos da nossa prateleira, que serviu como amostra, apresentaram alta probabilidade de superar o CDI em janelas de longo prazo”, pontua o trabalho.
“No papel de alocadores da fundação Real Grandeza, construímos nossas teses de investimentos com um horizonte de dezenas de anos, no entanto, uma parte relevante do mercado avalia a performance dos seus investimentos em períodos de 12 meses”, afirma.
O estudo demonstrou que esse viés temporal é uma das principais armadilhas no processo decisório de seleção de fundos. “Avaliar performance a partir de janelas curtas não apenas aumenta a probabilidade de decisões equivocadas, como também inviabiliza reconhecer os melhores gestores, cujo diferencial está justamente na consistência ao longo dos ciclos de mercado”, conclui o estudo.