Edição 381

Com uma visão construtiva da classe de crédito privado, a Fapes avalia que essa alocação faz muito sentido para as fundações, mas há preocupações com o atual contexto, afirma Leonardo Mandelblatt, diretor de investimentos. A entidade, que reduziu seu percentual total de crédito privado de mais de 6% do patrimônio total há um ano e meio para os atuais 4%, está preparada para voltar a alocar assim que o momento de correção do mercado for concluído, diz o diretor.
“Temos visto um movimento contínuo de redução de spreads dos ativos mais líquidos e aí há taxas muito comprimidas com maior nível de risco, além de colocações de ativos às vezes sem garantias, sem covenants”, observa.
Outro ponto relevante é o próprio crescimento rápido desse mercado, com as plataformas para pessoas físicas e os recursos que saíram dos multimercados e migraram para o crédito, o que traz à tona a questão da capacity. Em relação às debêntures de infraestrutura, mesmo com o incentivo fiscal o prêmio não paga o risco, diz.
A fundação, que utiliza o modelo de FoFs (fundos de fundos) para fazer determinadas alocações, está em processo final de venda de debêntures de infraestrutura, movimento que começou a fazer em agosto de 2024. “Ao longo do tempo, as debêntures de infraestrutura foram reduzidas por nós em alinhamento com os gestores externos, então fomos ajustando os mandatos por meio da exigência de spreads mais elevados”, explica. À medida que a entidade determinava o nível de risco/retorno exigido para manter a alocação, os gestores foram reduzindo porque não encontravam ativos nessas condições. Hoje esses títulos representam menos de 10% da carteira de crédito privado, que por sua vez equivale a 4% do portfólio total.
Mandelblatt observa que o movimento de redução de spreads está próximo de viver uma inflexão, o que levou a fundação a reduzir sua participação nessas operações. “A abertura atual dos spreads mostra que chegamos a um ponto de saturação do patamar de taxas, mas ainda há muito por vir”, acredita o diretor.
Segundo ele, quando o fundo passar a render 98% do CDI começarão os resgates. “Temos convicção de que isso vai acontecer, seja mais rápido ou mais demorado, e estamos preparados para isso”, avalia. O grande gatilho, estima Mandelblatt, será quando começar a mudança das taxas nominais das NTN-Bs longas.
Além de ter reduzido a 4% o percentual de alocação em crédito privado, a Fapes mudou para uma composição de ativos mais ilíquidos e estruturados. Hoje a busca é por ativos estruturados em CDI e a operação mais recente nesse sentido foi com o gestor Vinci, quase um ativo distressed, explica o diretor. “É um estruturado com mais pimenta”, diz.
A fundação também está preparada para enfrentar a transição em termos de caixa e hoje está com 6,15% de caixa contra um padrão de 3%. Há ainda uma preocupação em ter agilidade para poder voltar com mais força ao mercado de crédito quando for interessante.
Baixo apetite – Os títulos públicos ainda atraentes e a própria demanda aquecida por crédito privado, que fechou os spreads da classe este ano, mantiveram o foco da Valia nos títulos públicos mesmo em seus planos de Contribuição Definida (CD), explica Maurício Wanderley, diretor de investimentos.
“O plano de Benefício Definido (BD) já está totalmente casado, mas se vier um momento em que os spreads de crédito valham a pena podemos olhar para essa classe até mesmo para o BD”, diz.
Hoje a fundação tem perto de 3% de seus ativos alocados em crédito privado, sendo 2,1% em ativos do setor financeiro (CDBs e LF), e 0,8% em ativos corporativos. A alocação é exclusivamente em crédito high grade, refletindo uma política mais conservadora para essa classe.
“Alguns fatores nos levaram, historicamente, a ter pouco crédito, que nunca passou de 5% dos ativos totais, mas há espaço na política de investimentos para aumentar esse percentual, então é mais uma decisão baseada na questão dos preços, de ter spreads que paguem o risco”, observa Wanderley.
O fato de todos os planos da fundação estarem superavitários também significa que não há tanta pressão por aumentar a rentabilidade, diz o diretor. “O plano BD está superavitário, isso muda o seu apetite a risco, que fica menor. Já nos CD, que têm perfis de investimento, temos uma estratégia de diversificação completa”, explica.
Diversificação high grade – Na Petros, as alocações em crédito privado somam hoje cerca de R$ 1,2 bilhão, equivalente a 0,9% do patrimônio total da entidade, explica Gustavo Gazaneo, diretor de investimentos. “A classe tem cumprido o papel de buscar a diversificação e um melhor risco/retorno, principalmente em planos jovens que estão na fase de acumulação de recursos”, diz.
Atualmente, as alocações do crédito privado são feitas nos planos CVs e CDs, que ainda têm apetite por ativos de crescimento, ajustados às características e ao perfil de cada plano. “A exposição está concentrada em fundos de investimento high grade, com foco em emissores de baixo risco e alta liquidez, além de fundamentos sólidos e boa governança”, diz o diretor. A estratégia prioriza os títulos com ratings elevados, busca a diversificação entre setores e gestores, sem exposição a ativos estruturados de maior complexidade.
Em 2025, o desempenho da classe tem sido positivo, em linha com os benchmarks da categoria. “Foram superados com folga os objetivos de retorno dos planos onde essa classe de ativos está alocada. Esse resultado foi impulsionado pelo carregamento dos ativos e pelo baixo nível de inadimplência observado no segmento corporativo”, detalha Gazaneo. A postura da fundação segue conservadora, com acompanhamento contínuo de risco de crédito, duration e liquidez, seguindo a prudência do perfil da carteira.
“O crédito privado tem mostrado retornos consistentes em 2025, mas com spreads significativamente comprimidos”, afirma. Nesse contexto, ele aponta que uma eventual queda da Selic em 2026 poderá significar um ambiente mais favorável para as companhias emitirem dívida. “Isso criaria uma trajetória para a normalização dos spreads e maior atratividade para a classe”, avalia.
Desconcentração de risco – Com patrimônio total de R$ 15,4 bilhões e uma carteira de crédito privado que soma perto de R$ 800 milhões, a Fundação Copel mantém fundos exclusivos nas gestoras Capitânia, Icatu e JGP e recentemente aprovou um novo fundo, de high yield, da BRZ, informa José Carlos Lakoski, diretor financeiro. Além disso, há também uma carteira própria com R$ 317 milhões em crédito de perfil mais high grade.
“Mas os spreads estão com pouco prêmio no high grade e no estruturado. Mais recentemente, ocorreram eventos de crédito, então não foi muito bom”, diz. “O maior ganho da classe com o fechamento de taxas já veio, então não dá para ir de peito aberto para o crédito em 2026”, afirma.
A fundação começa agora a discutir sua política de investimento 2026 mas a macroalocação não deve incluir crescimento nas posições do crédito privado.
Retorno ao crédito – Na fundação Real Grandeza, o crédito privado teve a primeira alocação feita em julho de 2024, depois de um trabalho de filtros e de due diligence, explica Patrícia Queiroz, diretora de investimentos. “Desde a época da quebra do Banco Santos, do qual a Real Grandeza era a maior credora, essa classe não evoluía na fundação, mas no ano passado fizemos uma seleção de três gestores e temos R$ 470 milhões alocados, exclusivamente em high grade”, diz.
Antes de 2024, havia apenas alocação feita internamente em ativos específicos, como Letras Financeiras, mas em percentual muito pequeno. “Fizemos a transição, nos desfizemos daqueles papéis ao longo do tempo e em julho do ano passado voltamos a alocar na classe, através de gestores terceirizados. “Desse modo extraímos mais valor, porém com diversificação”.
“Se as taxas voltarem a abrir, podemos investir um volume maior, mas a nossa alocação é estrutural, de longo prazo, e independe da Selic”, diz. O crédito é mais relevante para o plano CD e para os planos menores, onde chega a representar 10% do total, mas no BD o crédito equivale a apenas 1% dos ativos.