Edição 379

A indústria de renda fixa conviveu nos últimos meses com uma forte migração de recursos para os seus fundos e conseguiu entregar retornos competitivos, inclusive nas estratégias offshore, observa Claudio Pires, sócio diretor da MAG Investimentos. Nos 12 meses passados ele cita a mudança da política monetária brasileira, que parou de reduzir os juros para retomar um ciclo de alta, o que respingou nos demais mercados. “Houve movimentos bruscos, que são ruins para o investimento de risco. A realidade se impôs nesse período, com a inflação fora da meta e o governo olhando pouco para o fiscal, o que levou o BC a jogar a política monetária no terreno contracionista até chegarmos ao choque da Selic a 15%”, diz Pires.
Ele lembra que agora o BC fez uma pausa, mas o mercado acredita que virá um novo ciclo de baixa. O início do fim do ciclo de alta será antecipado pelo mercado e fortalecido pela redução dos juros pelo Fed, que tem espaço para fazer dois ou três cortes este ano e talvez continuar com eles em 2026. “Isso vai nos dar espaço para antecipar a queda aqui, até porque o juro hoje está muito restritivo mesmo, com taxa real de dois dígitos nas NTN-Bs mais longas”, diz Pires. A expectativa é de que o próximo ciclo será longo e há chance de valorização dos ativos de risco brasileiros. “Poderemos entrar na outra ponta do movimento que houve nos últimos meses”, acredita.
Para o investidor institucional, o momento permite aproveitar para encarteirar um pouco mais as NTN-B acima de 7%, mas esse investidor ainda está longe da renda variável. Na asset, a duration das carteiras de renda fixa está mais entre média e longa. “Porque o próximo ciclo será de baixa e não gostamos de apostar no início da queda. Já começamos também a aumentar posições em bolsa e os nossos fundos multimercados que podem ter bolsa já fazem isso”, diz.
“Nos fundos de crédito privado temos tentado aumentar os estruturados como os FIDCs, que têm robustez de estrutura e governança”, afirma Pires. “Em fundos com uma cotização mais longa ou exclusivos, pretendemos chegar a 15% em FIDCs, distribuídos entre seis ou sete nomes para ter diversificação de gestores, mesmo porque essa indústria cresceu bastante”, explica. As carteiras também têm procurado mais títulos corporativos porque no mercado bancário os spreads já estão muito amassados.
“Estamos otimistas com a classe de crédito, que deve continuar a entregar acima dos benchmarks, mas a gestão ativa será importante para ter a melhor performance e pretendemos acrescentar reforços ao time”, diz. A asset mantém uma posição conservadora em crédito privado, só com títulos high grade e empresas com alta previsibilidade e balanços muito fortes. “Houve muitos eventos de recuperação judicial nos últimos meses, mas nós temos procurado apenas balanços e posições financeiras fortes, empresas que não têm necessidade de ir a mercado e cu jos spreads até fecharam por conta dessa solidez”, detalha.

Risco de mercado – Os fundos de renda fixa da Caixa Asset adotaram estratégias pós-fixadas ao longo do segundo semestre de 2024, tanto em risco soberano quanto em crédito privado, explica Humberto Magalhães, diretor presidente. “No ano de 2025, fomos aos poucos incorporando estratégias prefixadas ao longo do ano e, neste momento, tais posições correspondem à principal estratégia do book ativo”, diz.
Atualmente a asset também está na posição vendedora de inflação implícita, dando preferência aos juros nominais em comparação aos juros reais. “As duas abordagens se mostraram assertivas no período”, afirma Magalhães.
No segundo semestre de 2024 a gestão adotou uma postura de cautela em razão de movimentos globais de fuga de risco, que aumentaram o prêmio de risco no Brasil e no mundo emergente como um todo. A tese de excepcionalismo norte-americano prevaleceu nesse período e orientou a estratégia essencialmente pós-fixada da casa. “Neste ano, fomos paulatinamente criando convicção para alocações prefixadas, uma vez que as incertezas na condução da política econômica norte-americana enfraqueceram a tese do excepcionalismo norte-americano, diminuindo os prêmios de risco de países emergentes como o Brasil”, diz Magalhães.
Além disso, depois da elevação da Selic ao patamar de 15%, a inflação no Brasil agora começa a ceder, como reflexo das ações dessa política monetária. “Acreditamos que o cenário prospectivo de atividade e da inflação no Brasil permitirá que o BC promova um ciclo de cortes de juros em 2026, algo que o mercado antecipa nos preços desde já, o que embasa nossas estratégias prefixadas”, observa.
Como tendência para a renda fixa a partir de agora, ele acredita que as posições prefixadas passarão a estar cada vez mais presentes nos fundos ativos. E os fundos de renda fixa com risco de mercado devem assumir um protagonismo maior.
“No ano passado, nossos fundos de renda fixa ativa ampliaram a exposição em crédito privado, dentro da estratégia de alocação baseada em ativos pós-fixados. Neste ano, temos mantido essas posições, mas não ampliamos mais”, informa Magalhães.
A convicção da gestão é de que o resultado de crédito privado daqui em diante será basicamente determinado pelo seu carrego (pouco acima do CDI, para ativos de baixo risco de crédito). “Isso porque não enxergamos muito espaço para novas quedas dos spreads, considerando seus níveis atuais”, afirma. Ele observa que a Caixa Asset tem um portfólio amplo e diversificado de fundos de crédito privado, que mantêm diferentes níveis de exposição a essa classe de ativos, bem como diferentes categorias de risco de crédito, conforme seus regulamentos.
Antecipando corte da Selic – A expectativas em torno de um eventual corte de juros nos EUA marcou todo o primeiro semestre do ano e no Brasil, onde os indicadores de bolsa dispararam e o CDI bateu 6,5% em seis meses, não foi um período fácil embora os mercados de risco tenham superado o CDI, avalia Marc Forster, head de distribuição da Western Asset no Brasil. Ele observa que o mercado antecipou o corte da Selic, como se vê na curva de juros prefixados no fechamento do semestre. “O mercado local já colocou os cortes nos preços, em movimento relacionado ao espaço de cortes do juro pelo Fed, então fomos a reboque do exterior. Além disso, os picos de pessimismo com o governo Trump ajudaram a redirecionar os fluxos de investimento em todo o mundo”, analisa Forster.
Em julho houve uma pequena reversão e o mês de agosto trouxe de volta a euforia com o Fed, diante da maior possibilidade de redução dos juros, o que acelerou os mercados no mundo, lembra o gestor. No Brasil, ele observa que o BC tem sido muito vocal ao dizer que precisa de mais evidências dos efeitos da política monetária restritiva sobre a economia para poder cortar os juros. “O mercado de trabalho ainda não deu sinais de arrefecimento e a perspectiva para o corte de juros é de que a Selic comece a ser reduzida em 2026 e atinja 12,5% em um ano”, diz.
Na gestão de fundos de renda fixa da asset, não houve muita mudança em relação ao crédito privado, que segue com os prêmios fechando e privilegiando os ativos bancários. Com os prêmios bem justos, as carteiras não vão aumentar as posições. Mas os fundos de crédito brilharam nos 12 meses, com ativos de bancos, de empresas e FIDCs
“Para a renda fixa risco de mercado, a posição prefixada no final de dezembro de 2024 estava tomada em juro mais curto, éramos pessimistas e apostávamos na alta”, explica. Em janeiro deste ano, a posição pré era levemente aplicada para janeiro de 2026, enquanto a parte NTN-B tinha uma posição um pouco maior em vencimentos intermediários, em torno de 2035.
“Hoje cerca de 20% do risco vem da NTN-B curta enquanto a posição prefixada ficou um pouco mais longa (janeiro de 2029) para sairmos fora da confusão de projeções sobre o corte dos juros e as eleições”, diz Forster. A carteira hoje embute algum otimismo, com um pouco mais de prefixados e menos NTN-B, mas a gestão está usando um terço do risco que já utilizou, na média, em outros tempos.
“Aumentar a exposição a títulos mais longos demandaria ter mais convicção, mas o mercado está aquecido, o governo é gastador e estamos na mesma posição do BC, à espera de mais evidências”, afirma.
Melhores gestores em Renda Fixa (arquivo em pdf)