Os Certificados de Operações Estruturadas (COEs), veículos flexíveis de investimento que dão aos investidores acesso a uma ampla gama de opções no mercado, doméstico ou global, começam a ser oferecidos para os fundos de pensão. Através deles, os institucionais podem encontrar novas alternativas aos produtos lastreados em taxas de juros.
Uma vantagem oferecida pelos COEs é a possibilidade de fazer o investimento com o capital protegido. Nesse caso, se o investimento escolhido tiver um desempenho negativo, o investidor recebe de volta o capital aportado inicialmente.Na XP Investimentos, dos R$ 7,8 bilhões distribuídos até o momento em COEs, 99% foram de capital protegido. “O mercado global de notas estruturadas, correspondente ao COE no Brasil, movimenta cerca de US$ 2 trilhões, enquanto no mercado local o giro fica na casa dos R$ 17 bilhões, o que denota o espaço que ainda temos a percorrer”, afirma a head de produtos estruturados da XP, Maite Kattar.
Somente bancos podem fazer a emissão de COEs, por isso a XP atua apenas na distribuição via parcerias com instituições financeiras estrangeiras. “Optamos por distribuir COEs de bancos estrangeiros porque, em muitos casos, em sua estruturação são utilizados derivativos considerados exóticos, operados por esses bancos em mesas em Londres e Nova York”, afirma a especialista. Entre as casas com COEs distribuídos pela XP constam nomes como Morgan Stanley, Credit Suisse, Citi, JP Morgan e Goldman Sachs. O fato dos COEs não terem a cobertura do FGC também pesa na decisão da XP em trabalhar somente com bancos de primeira linha, diz Maite. “Trata-se, realmente, de um produto sofisticado, que precisa da participação de diversas áreas dos bancos, como trading, estruturação, compliance e risco”.
O COE ainda é um produto altamente concentrado em investidores pessoa física no mercado brasileiro, com 91% das emissões ficando nas mãos desses investidores. Em 2018 as emissões de COEs totalizaram R$ 10,9 bilhões, com estoque de R$ 17 bilhões.
Além do modelo de capital protegido em que o investidor tem de volta o valor inicial aportado em caso de desempenho negativo do mercado, a XP está trabalhando em parceria com os bancos em um novo formato para o COE que entregará ao investidor, caso o investimento selecionado vá mal, o aporte corrigido pelo IPCA.
IPCA – “A fundação pode eventualmente estruturar o COE com o valor nominal protegido pelo IPCA, buscando a rentabilidade para cumprir a meta em mercados como bolsa, câmbio e commodities”, afirma o diretor da Abrapp, Guilherme Leão.
Por outro lado, prossegue o especialista, obter após o prazo final do instrumento apenas a variação da inflação também não é suficiente para as EFPCs. “Por isso entendo que é preciso cuidado ao classificar o COE de capital protegido como um investimento seguro, porque pode se tratar de uma segurança ilusória já que se a entidade obtiver a rentabilidade apenas do indexador a solvência do plano pode ficar em risco”, pontua Leão.
Nova resolução – A publicação da nova resolução dos fundos de pensão, em maio de 2018, com a menção expressa à possibilidade do investimento por parte das EFPCs em COEs na categoria de investimentos estruturados, foi um importante marco para o nicho, avalia o responsável por produtos de tesouraria do Citi Brasil, Thiago Madueno. “Foi quando os grandes bancos passaram a enxergar no público institucional um bolso em potencial, uma vez que até então o instrumento estava, e ainda segue concentrado nos investidores pessoa física”.
Até o momento os COEs estruturados pelo Citi foram para pessoa física e institucionais que não fundos de pensão, mas Madueno ressalta que tem notado um aumento no interesse das entidades fechadas de previdência pelo produto. “Uma das grandes vantagens do COE é sua flexibilidade para ser customizado de acordo com a necessidade de cada investidor”, pondera o executivo. Ele lembra que os COEs de capital protegido são uma das principais demandas dos clientes que procuram o banco, e pode ser também uma alternativa para as fundações diante do patamar da bolsa próxima das máximas históricas, com risco portanto de alguma realização de curto prazo.
Entre os ativos que os investidores interessados no produto mais tem procurado, Madueno aponta o mercado acionário, local e internacional. “Talvez pelo fato da demanda crescente por COEs com ativos globais que os bancos estrangeiros estão liderando a oferta do produto no mercado brasileiro, e também por ser um produto já muito mais desenvolvido em outros países”. No mercado global, conta o executivo do Citi, as tendências mais recentes apontam para a estruturação de COEs sem uma diferenciação de classe de ativos, mas sim por fatores de risco, como crescimento e momento, em uma gestão smart beta.
Em estudos – Na Celos, o diretor administrativo-financeiro, Henri Machado, fala que diante do patamar dos juros praticados no mercado os COEs são uma possibilidade que começaram a entrar no radar da EFPC desde meados do ano passado.
“Pedi para minha equipe de investimentos estudar o veículo para entender seu funcionamento, e estamos avaliando as alternativas no mercado”, afirma Machado. A Celos pensa em duas possibilidades para investir em COEs – ou via carteira própria, por meio de parceria com um banco local emissor, ou através de um banco estrangeiro. “Acredito que atuar com um banco estrangeiro, que já está acostumado a fazer esse tipo de operação em outras regiões, seja o melhor caminho. Além disso, pode ser que não tenhamos internamente uma estrutura suficientemente robusta para fazer o devido acompanhamento do COE dentro de casa”.
O dirigente entende que assim como no passado os multimercados enfrentaram uma resistência inicial das EFPCs, os COEs devem atravessar um processo semelhante. O fato do instrumento possibilitar a proteção ao menos do capital aportado é uma vantagem em comparação aos multimercados que pode pesar para que os COEs tenha uma disseminação mais rápida, prevê o diretor da Celos.
No entanto, diferentemente dos multimercados, que podem mudar suas estratégias a todo momento a depender da cabeça do gestor, prossegue Machado, o COE tem uma estratégia pré-definida a ser perseguida, o que pode até facilitar seu acompanhamento para a prestação de contas junto ao órgão regulador. O diretor da Celos lembra que a fiscalização intensa da Previc sobre os investimentos dos fundos de pensão, na esteira dos problemas com FIPs no sistema nos últimos anos, obriga que as entidades sigam uma série de pré-requisitos, que por vezes acaba retardando a movimentação rumo a novos produtos.
Aprendizado – O diretor da Abrapp, Guilherme Leão, nota que o COE é um instrumento ainda novo, presente no mercado brasileiro há pouco mais de cinco anos, e assim como o investimento no exterior deve passar por um processo de aprendizagem por parte dos fundos de pensão até cair no gosto do público.
Ainda assim, ele lembra que o mercado de notas estruturadas no exterior é gigantesco, o que denota certa atratividade para conseguir amealhar tantos investidores, como por exemplo seu nível de risco mais moderado em comparação com fundos de ações ou de participações.