Desinflação é a boa nova | Em meio à forte recessão e crise polít...

Edição 288

 

Projeção para o final de 2017 / Projeções de demanda por ativos ao final de 2017 / Projeções Macroeconômicas

Não há muito para comemorar na economia em 2016 e o próximo ano não promete uma forte recuperação da atividade econômica. A crise política e o cenário internacional incerto ainda inibem o consumo das famílias e os investimentos das empresas. Em meio à enxurrada de indicadores negativos, um deles destoa positivamente: a queda mais acentuada da inflação.
“A boa notícia do final de 2016 é a queda da inflação, que gera maior espaço para a mudança na política monetária”, diz José Pena, economista-chefe da Porto Seguro Investimentos.A previsão do economista para o IPCA de 2017 é 4,80%, coincidindo com a mediana dos 34 gestores ouvidos pela Investidor Institucional. Com a previsão de fechar 2016 próximo ao teto da meta do Banco Central, em 6,5% ao ano – dois pontos percentuais acima do centro da meta de 4,5% ao ano – a queda para 4,80% no próximo ano, com possibilidade de ser ainda menor, é o indicador com trajetória mais positiva no momento atual.
Não foi um caminho fácil para conter a alta da inflação, mesmo com a alta da Selic que foi a 14,25% em julho de 2015 e permaneceu neste patamar por mais de um ano, os preços continuavam pressionando.
Apesar da forte recessão que já dura dois anos e do juro alto, a pressão inflacionária continuou apontada para cima. “A atividade econômica estava fraca desde 2014 e a pergunta era por que não havia impacto sobre a inflação. É que em 2015 houve um forte choque de oferta com a recomposição dos preços administrados de energia elétrica e combustíveis”, explica Pena. No ano passado o IPCA fechou na estratosfera, batendo em 10,67% ao ano. O economista lembra que a energia elétrica subiu mais de 50% no primeiro semestre de 2015 e impactou sobre todos os setores da economia, tanto nos domicílios, quanto na indústria e nos serviços. Por isso, em boa parte de 2016, foram sentidos os efeitos da alta dos preços administrados.
“Houve um impacto nos contratos que perdurou durante boa parte de 2016. E ainda tivemos o choque da alta dos alimentos, que pressionou o IPCA para cima. Esse choque dos alimentos veio do mesmo efeito anterior”, diz o economista-chefe da Porto Seguro Investimentos. Ele explica que o impacto da redução do juro não teve muito efeito em um primeiro momento. “Demorou para aparecer o impacto positivo sobre a inflação, mas a boa notícia é que agora deve perdurar. Tem um movimento inercial que deve garantir a queda da inflação por um longo período”, diz Pena.

Corte da Selic – O controle da inflação, ainda mais por um horizonte de prazo mais longo, deve permitir uma queda mais consistente da taxa Selic. “Com o novo cenário de inflacionário mais benigno, com tendência de convergir para o centro da meta do Banco Central, de 4,5% ao ano, será possível a adoção de um ritmo de corte da Selic mais consistente”, prevê Eduardo Yuki, economista e diretor da BNP Paribas Asset Management. O economista da asset tem a previsão que a taxa Selic deve terminar o próximo ano em 9,75%.
O economista da Porto Seguro Investimentos, José Pena, não prevê um corte tão amplo da taxa Selic. Sua previsão para o final de 2017 é de 10,50%. A mediana do levantamento da Investidor Institucional é um pouco mais alta, de 10,75% no final do próximo ano. Porém, o especialista concorda que o ritmo do corte deve se acelerar no início do próximo ano. “Desde a última reunião do Copom, em todos os pronunciamentos do presidente do Banco Central, tudo indica a aceleração do passo no corte da Selic. Então, tudo indica que o Copom deve aumentar o tamanho do corte para cada reunião, que vinha em 0,25 ponto percentual e na próxima, deve ser de 0,50 ponto”, aponta Pena. Ele considera inclusive a possibilidade de que o corte seja ainda maior que 0,50 ponto percentual, a partir da segunda reunião do ano.
“Acredito que na reunião de janeiro haverá um corte ainda de 0,50 ponto, mas em fevereiro, caso confirme a queda da inflação e o baixo ritmo de crescimento da economia, acredito que possa vir um corte de 0,75”, diz o economista da Porto Seguro. O especialista faz uma ressalva de que o ritmo do corte do juro depende também se a crise política estiver mais branda. “O problema é o risco de agravamento da crise política. Se fosse apenas pela inflação e pela fraca atividade econômica, certamente haveria maior queda do juro”, comenta Pena.
O mais importante na opinião dos economistas é que o ciclo de corte de juros apresenta-se com fundamentos mais consistentes. “É uma queda bem diferente do que ocorreu em 2012. Atualmente, temos um processo crível de redução da Selic, não é como aconteceu há quatro anos, quando houve uma queda forçada, artificial. Depois, o Banco Central teve que voltar a aumentar o juro”, analisa Pena.
Eduardo Yuki vai na mesma linha de raciocínio. “Estamos prevendo uma recuperação lenta e gradual para a economia, mas o mais importante é o processo de uma retomada gradual e consistente da atividade”, diz o economista da asset do BNP Paribas.

Crescimento do PIB – Neste final de ano, os economistas estão refazendo as contas para o crescimento do PIB. Durante o decorrer do ano, o mercado começou a ficar mais otimista a partir da mudança no governo federal e com a política da nova equipe econômica. Não eram raras as previsões que contavam com um crescimento do PIB de 2% ou até mais em 2017. Mas como a retomada do crescimento não se alcança apenas com a melhora dos índices de confiança, o mercado começou a perceber que a quebra da inércia do processo recessivo seria mais difícil do que se imaginava.
“O próprio ajuste fiscal do governo, no curtíssimo prazo, retira demanda da atividade econômica”, explica Eduardo Yuki. Ele esclarece que há avanços importantes no processo de ajuste das contas públicas, mas que o efeito não é imediato. Ao contrário, o efeito tem conseqüências negativas para a economia. A asset do BNP Paribas prevê uma queda do PIB em 2017 de 0,5% negativo. Apesar disso, o economista acredita que no segundo semestre de 2017, a economia volte a crescer, e deverá apresentar recuperação mais forte em 2018.
A Porto Seguro Investimentos tinha previsto um crescimento de 1% para 2017, mas também já revisou o número nos últimos dias. A previsão atual é de alta de 0,5% de crescimento do PIB para o próximo ano. “O final de 2016 está muito difícil, os números ainda apontam para a continuidade do processo recessivo. O final do ano está pior que o esperado. Pode ser até pior que 0,5%”, diz José Pena. Ele explica que existe ainda a agravante da crise política que pressiona pelo adiamento dos investimentos de diversos setores da economia e do consumo das famílias, além das incertezas no cenário internacional, a principal delas, com o novo presidente dos EUA.
O responsável pela gestão da asset da Votorantim, Marcos de Callis, também explica que a equipe econômica da casa revisou a projeção para o PIB, que era de 1% positivo para 2017. “A previsão é que o PIB cresça entre 0,5% e 0,8% no ano que vem. Haverá menor crescimento que o esperado, pois o consumo das famílias ainda estará retraído devido ao medo do desemprego”, diz o gestor. Ele explica que o ajuste fiscal do governo federal contribui para a inércia recessiva para a atividade econômica.

Janelas de crescimento – Apesar do fraco crescimento da economia, duas janelas devem ficar abertas para ajudar na retomada da atividade econômica em 2017. Uma delas é o agronegócio que deve se recuperar após dois anos com resultados fracos. O outro é o setor exportador e de substituição de bens de importação. “O agronegócio vem contar com um período mais favorável no ano que vem, com melhores safras, enquanto as empresas devem investir mais nas exportações para compensar a retração da demanda do mercado doméstico”, prevê Marcos de Callis.
O gestor da asset do Votorantim explica que o câmbio com o dólar a R$ 3,50, que é a previsão da casa para o próximo ano, continua incentivando a atuação das empresas no mercado internacional. Diferente de seu pares, de Callis não aposta em um corte muito amplo da taxa Selic. A equipe econômica da asset do Votorantim prevê a queda da Selic para 11,50% no final de 2017. “Podem ocorrer turbulências no cenário internacional e além disso, o dólar mais valorizado pode pressionar a inflação no ano que vem”, explica de Callis.
Outro fator de risco é o aumento da crise política e o possível enfraquecimento do atual governo federal, o que pode comprometer a aprovação da reforma da previdência pelo Congresso Nacional. Com isso, a continuidade do ajuste fiscal pode ficar mais difícil. Ou seja, o gestor não descarta que o ano de 2017 pode manter uma forte instabilidade para o mercado doméstico.