Quebra da Encol impulsiona os seguros na área imobiliária

Edição 24

Mais um nicho de mercado deve movimentar a disputa das seguradoras
nos próximos anos

Mais um nicho de mercado deve movimentar a disputa das seguradoras
nos próximos anos: o seguro-garantia para construções. A demanda das
construtoras por esse tipo de seguro, que até pouco tempo era restrita,
estourou depois da quebra da Encol e está chamando a atenção de
companhias que antes nem pensavam em atuar nesse segmento, devido
aos elevados valores.
Para se ter uma idéia, a divisão de seguro-garantia da United (grupo
Crefisul), criada em setembro do ano passado, já representa 30% do
faturamento da companhia. Com apenas dois anos e meio de mercado, a
United pretende alavancar seu crescimento nesse segmento – onde já é a
segunda do ranking. “Só hoje, esse mercado representaria R$ 500
milhões em prêmios de seguros”, estima Fernando Costa, diretor
comercial da seguradora.
Embora ainda seja pequeno, o faturamento da indústria de seguros-
garantia, cresceu mais de 100% no ano passado, quando alcançou R$ 35
milhões, e tem grande potencial de expansão. “Esse é um mercado
extremamente novo no Brasil. Na Argentina, por exemplo, representa 1/4
do mercado segurador”, exemplifica Costa.
Até agora, o crescimento do setor foi encabeçado pelo aumento das
licitações e concessões públicas, que aceitam esse tipo de seguro como
caução. Mas para o ano que vem, a expectativa é de que seja
impulsionado pelo “efeito Encol” e atraia novos competidores.
Também devido à quebra da construtora, algumas seguradoras foram
forçadas a prestar mais atenção em sua carteira de apólices de seguro-
garantia, e curiosamente, descobriram que a taxa de sinistros desse
segmento é baixa. “Na nossa carteira, há 1 sinistro para cada 300 ou 400
apólices”, estima Carla Sarruf, responsável pela área na Generali.
A Sasse, do grupo Caixa Econômica Federal, vai entrar de cabeça nesse
mercado. “Estamos nos preparando para atender a essa demanda”,
afirma Álvaro Arantes Sobrinho, gerente da área. Um dos grandes
demandantes é a própria Caixa, que exige o seguro-garantia das
construtoras na concessão de financiamento. “Os recursos que devem vir
do Exterior para financiamento de imóveis só vão entrar se houver
seguro”, conclui.
Outros clientes potenciais para esse setor são os fundos de investimento
imobiliário. Até agora não exigiam o seguro, já que os repasses do fundo
ao incorporador são feitos no decorrer da obra, e no mesmo ritmo em que
o investidor vai integralizando suas cotas.
Mas depois da Encol, as exigências ficaram maiores. No banco Schain
Cury, por exemplo, um dos fundos imobiliários (para construção de um
colégio) já tem seguro de performance da obra. O Banco da Bahia
também já contratou seguro para alguns de seus fundos, em especial
para aqueles nos quais o terreno entrou através de permuta, explica
Leandro Viana. “A tendência é que o mercado se profissionalize cada vez
mais”.
Independente da Encol, já no ano passado se previa um crescimento dos
seguro-garantia, devido ao aumento das licitações e das concessões
públicas – o primeiro mercado que demandou esse tipo de produto. Em
93, uma alteração na lei das licitações permitiu que o seguro-garantia
fosse aceito pelo governo como caução. Depois, as fianças bancárias, que
até então eram a garantia mais comum, sofreram um golpe mortal com o
Acordo da Basiléia, que encareceu e limitou a oferta desse tipo de
instrumento.
A garantia exigida pelo governo nas concorrências varia hoje de 5% a 30%
do valor da obra, mas já tramita na Câmara um projeto que deve
aumentar esse limite. Com isso, as construtoras teriam que segurar uma
importância maior, o que consequentemente, impulsionaria o faturamento
com as apólices. Hoje, elas custam entre 0,3% a 2% ao ano do valor da
garantia exigida.
Em outros países, governos e investidores pedem não só um seguro de
performance da obra, mas também de sua qualidade. “Na Grã-Bretanha,
por exemplo, 95% dos seguros imobiliários garantem a qualidade da
construção por 10 anos. Se der algum problema nesse período, as
construtoras têm que resolver, sem custo adicional para o investidor”,
conta Guilherme Miranda, da Delphos, prestadora de serviços técnicos ao
mercado segurador.