CFOs enfrentam maior incerteza e volatilidade na economia global

17-12-2015  –  16:44:24

 

Os recentes avanços relacionados a globalização, a acelerada evolução digital e a forte inovação de produtos financeiros reduziram de forma dramática as diversas barreiras existentes para a mobilidade do capital, favorecendo o comercio, a exploração de novas oportunidades e reduzindo fronteiras econômicas. Nunca o conceito de vantagens comparativas pôde ser tão bem explorado, e cada vez mais empresas rompem fronteiras locais rumo a uma operação globalizada.

Com todas estas mudanças, os mercados tornaram-se mais integrados e o fluxo de capitais tornou-se a regra. Como sempre, “There is no free lunch”; a integração global da economia proporciona oportunidades, mas também novos desafios. Com a maior mobilidade de capital, o risco sistêmico enfrentado pelos agentes econômicos aumentou, fazendo com que governos, investidores e empresas precisem lidar com um grau de volatilidade ainda não experimentado. A crise do subprime (2008) evidenciou quanto os mercados estão conectados e como uma economia integrada e globalizada pode amplificar os impactos de uma crise local.

A pesquisa High Performance Finance da Accenture aponta que um dos principais desafios do CFO para os próximos anos está justamente na gestão da volatilidade. Os executivos estão hoje muito mais preocupados com o aumento da volatilidade em diversos mercados, como câmbio, commodities e juros. Ao mesmo tempo, os programas de quantitative easing dos bancos centrais americano, europeu e japonês alimentam a já alta volatilidade do mercado, alterando seu patamar e dificultando decisões de longo prazo. No Brasil, vivemos uma situação ainda mais delicada. A crise política e fiscal pela qual o país passa adiciona uma série de incertezas ao ambiente econômico, prejudicando investimentos e decisões financeiras.

A geração de valor de uma empresa é reflexo de suas decisões de negócio, em especial as de investimento e financiamento. Em um cenário repleto de incertezas o CFO tem papel fundamental ao suportar a tomada de decisão e guiar a Companhia na exploração de oportunidades. Sabemos que decisões que não envolvem tomada de risco não geram retornos acima do custo de capital, mas é necessário proteger ativos e passivos da empresa contra oscilações de mercado e adaptar as estratégias às mudanças no cenário de negócios. Nossa pesquisa mostra que embora as empresas tenham aprimorado suas funções e mecanismos de gestão de riscos desde 2011, ainda há um longo caminho a percorrer, sobretudo para as empresas não financeiras. Competências como estatística e modelagem econômica ganharam e vão continuar ganhando uma enorme relevância para as estruturas de finanças, que são cada vez menos cobradas por explicar o passado e mais por projetar e antecipar o futuro.

As atribuições e áreas de atuação do CFO dentro de uma organização são muitas, mas a volatilidade dos mercados tem afetado algumas decisões mais do que outras. Do lado direito do balanço (passivo patrimonial), concentram-se as preocupações com as oscilações e impactos de variáveis macroeconômicas na dívida e demais obrigações da companhia. Dessa forma, é essencial, para a definição de estratégias de hedge adequadas, que se construa uma visão integrada dos fatores de risco e exposições, considerando os ativos e passivos patrimoniais, a correlação entre as diversas variáveis e o apetite a risco da companhia, quantificado por limites de enquadramento gerados a partir de cenários de stress.

Do lado esquerdo do balanço (ativo patrimonial), os principais desafios têm sido a gestão do caixa da companhia e as decisões de alocação de capital, que são fortemente influenciadas por projeções do cenário de negócio. Gerir o caixa da companhia com rentabilidade, equacionando as diversas necessidades de caixa e as possíveis fontes de financiamento, é um desafio nada modesto e a volatilidade dos mercados tem apimentado ainda mais as decisões de caixa mínimo e gestão de capital de giro das empresas. Modelos de Cash Flow at Risk (CFaR) e outros métodos estatísticos sofisticados têm sido cada vez mais utilizados em diversas indústrias, com objetivo de aprimorar a projeção do caixa, facilitando decisões e reduzindo saldos sem remuneração adequada. Além da gestão do caixa, há algum tempo as grandes organizações tem investido em seus modelos e processos de priorização e alocação de capital. Ajustar a análise econômico-financeira ao risco de cada projeto pode mudar completamente as decisões sobre o portfólio de investimentos de uma empresa. Em geral, projetos de capital estão expostos a diversas variáveis macroeconômicas, estratégicas e regulatórias, que em alguns casos podem estar inclusive correlacionadas, aumentando o risco total do investimento. Uma pesquisa de gestão de riscos da Accenture, realizada em 2014 com 66 companhias globais de Óleo e Gás, indicou que menos de 20% dos projetos de capital levantados foram concluídos dentro dos intervalos de prazo e orçamento planejados, alterando de forma significativa o resultado econômico esperado dos investimentos.

A alta volatilidade atualmente enfrentada pelas organizações afeta de diversas outras maneiras as decisões e os resultados de uma companhia e gerenciar incertezas não é das tarefas mais fáceis do CFO. Porém, com um mercado de capitais integrado e as empresas atuando cada vez mais de forma global, é preciso construir ferramentas para lidar com um cenário de negócio mais instável. As organizações com maior capacidade de antecipar cenários e de se readaptar a mudanças de curso, terão uma vantagem competitiva sobre seus concorrentes. De novo, a tomada de risco faz parte do jogo se o objetivo é gerar retorno para o acionista, mas o que diferenciará perdedores e ganhadores serão as decisões de qual e quanto risco tomar. O grande objetivo do CFO nos próximos anos é a previsão. Como diria John Maynard Keynes “it is better to be roughly right than precisely wrong”.

*Autores: Augusto Korps Junior, Managing Director da Accenture Strategy

Daniel B. Martins, Senior Manager da Accenture Strategy