Ilustres desconhecidas | Ainda pouco conhecidas no mercado brasil...

Edição 272

 

Notando um apetite crescente de investidores institucionais brasileiros por ativos no exterior, novas gestoras começam a se posicionar no país e lançam produtos voltados para fundos de pensão locais. Em geral, são assets europeias ou americanas de peso que atuam nos principais mercados globais, mas que ainda são pouco conhecidas no Brasil.
É o caso da Nordea, que recentemente fez uma parceria com o Banco do Brasil e possui dois representantes da asset global no país para apresentar seu produto de investimento no exterior para os clientes brasileiros. O fundo local lançado em junho, o BB Multimercado Nordea Investimento no Exterior, iniciou com um aporte de R$ 62 milhões da própria Nordea e já captou R$ 15 milhões com um fundo de pensão de São Paulo. O feeder investe no fundo de ações globais da Nordea lançado em 2005, o Global One Stable Equity.
Com 290 bilhões de euros sob gestão, a Nordea possui maior presença no norte da Europa, sendo que 18% de seus ativos são de fora dos países nórdicos. Segundo Roberto Martinho, representante da asset no Brasil, a perspectiva para a atuação da gestora no país é boa, sendo que outros fundos de pensão já aprovaram investimento. “O fundo traz uma oportunidade para investidores acessarem setores que não estão presentes aqui, como tecnologia da informação e saúde e bem estar, além de ter baixa correlação com bolsa no Brasil”, diz Martinho.
A Nordea não é a única gestora da Europa que busca se consolidar no Brasil. A italiana Azimut possui presença local por meio de duas joint ventures: AZ Legan e AZ FuturaInvest. A primeira administra fundos abertos e exclusivos, além de fundo multimercados. Já a AZ FuturaInvest atua como consultoria para clientes de private banking e wealth management. Recentemente, a Azimut ampliou mais ainda sua presença no Brasil com a compra de 60% de participação acionária da Quest Investimentos por 21,5 milhões de euros. Com a aquisição, a Azimut entra no segmento de fundos de pensão, com o qual a Quest tem focado sua atuação desde sua fundação, em 2001.
Para Davide Barenghi, co-CEO da gestora no Brasil, a compra foi uma oportunidade interessante para alavancar o relacionamento com institucionais no país e dar a eles acesso aos produtos da Azimut no exterior. “Estamos trabalhando em um produto de renda variável com a Quest para institucionais”, conta o executivo. Apesar de não dar detalhes sobre o fundo, que deve ser lançado já nos próximos meses, Barenghi diz que a ideia é consolidar uma sinergia entre a Azimut e a Quest.
Barenghi destaca que a compra de uma casa bem concentrada em renda variável como a Quest é desafiador, sendo um projeto de longo prazo para a Azimut, mas por a Quest ser uma referência no segmento, a ideia é alavancar o relacionamento com os clientes e crescer a equipe. “No momento, nosso foco é desenvolver nossos produtos internamente e tentar atrair profissionais do mercado na unidade de negócios como um todo”, salienta.
No Brasil, a Azimut já possui 7 mil clientes e quase R$ 4 bilhões sob gestão, sendo aproximadamente 30% de clientes institucionais. Bem posicionada por meio de parcerias e aquisições, a gestora italiana busca agora combinar suas diferentes frentes de negócio e alinhar os sócios e as operações. Além de querer dar aos clientes locais exposição aos seus produtos no exterior, a Azimut também pretende se consolidar com produtos locais, aguardando o momento de mercado para ampliar a prateleira de produtos de renda fixa e crédito.

Parceria – Ainda sem escritório fixo no Brasil, a Neuberger Berman é outra gestora que vem aproveitando o maior apetite de investidores institucionais por aplicação no exterior. A americana, que possui mais de US$ 260 bilhões em ativos sob gestão no mundo, atua no país por meio de uma parceria com a Itajubá. Recentemente, a Neuberger estruturou um feeder no Brasil, gerido localmente pela Mongeral Aegon e distribuído exclusivamente pela Itajubá.
O fundo local investe em uma estratégia de ações da Neuberger, o Neuberger Berman US Multi Cap Oportunities, e já possui investimento de um fundo de pensão no valor de R$ 5 milhões. A expectativa é que o fundo capte R$ 100 milhões até o final do ano, com aplicações de cinco a dez investidores institucionais. Maximiliano Rohm, chefe da Neuberger Berman na América Latina, destaca que o diferencial do fundo é ser focado em ações dos Estados Unidos.
“Inicialmente, pensamos em começar com um portfólio de ações longo com liquidez diária, provavelmente de ações globais, mas depois decidimos complementar com ações dos Estados Unidos, pois é um mercado com desempenho extremamente bom e onde as maiores companhias estão listadas”, diz Rohm. “Investidores brasileiros que investem em ações globais obtêm certa diversificação, mas principalmente nos setores de tecnologia e healthcare, que são dominados por empresas americanas, Portanto, a diversificação real que você consegue basicamente está em empresas dos Estados Unidos”, explica.
O executivo ressalta que muitas gestoras já oferecem fundos de ações globais no Brasil, então a ideia era complementar a carteira dos fundos de pensão com um produto mais focado. “É bom ter alguém que realmente conhece as empresas dos Estados Unidos para estar investido nessas companhias. Deve-se ter uma dedicação a essa alocação”, salienta Rohm.

Mercado – Para as gestoras, a opinião de que o momento de mercado para oferecer produtos no exterior está mais oportuno agora é unânime. Roberto Martinho, da Nordea, destaca que as grandes fundações já possuem maturidade para aplicar nesse tipo de produto, e as médias, apesar de ainda terem dificuldade, estão dispostas a conhecer o mercado. Luiz Nazareth, da AZ FuturaInvest, também afirma que agora os fundos de pensão já têm maturação e estrutura pronta para olhar para produtos no exterior.
A Neuberger Berman, que começou a estudar a oferta de produtos no Brasil em 2010, diz que as perspectivas dos investidores mudaram junto com a economia brasileira. “Era mais difícil falar sobre investimentos fora do Brasil, pois o país estava indo muito bem, com boa performance, e isso mudou. Investidores hoje estão mais realistas e perceberam que o Brasil tem boas oportunidades, mas com um portfólio 100% investido em ativos brasileiros é difícil ter ganhos iguais ao de um portfólio diversificado fora do país. Muito mais fácil falar sobre isso hoje do que quando Brasil estava com boa performance, pois agora os investidores estão mais abertos a diversificar”, avalia Maximiliano Rohm.

Investidores qualificados – A nova instrução da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) nº 555, que substitui a antiga instrução nº 409, ajudará na diversificação de clientes da Azimut no Brasil, segundo Luiz Nazareth. A norma, que deve entrar em vigor em outubro, permite a criação de um fundo especial voltado exclusivamente a investidores qualificados (com pelo menos R$ 1 milhão para investimentos) com no mínimo 67% de alocação e pode ir até 100% no exterior, se forem observadas determinadas regras de segurança.
“Antes a diversificação de clientes ficava difícil, pois a CVM exigia um mínimo fixo do investidor para aplicação”, diz Luiz Nazareth. “Agora poderemos diversificar tendo investidores com perfil moderado na nossa base, o que é positivo, já que temos uma ampla plataforma de produtos lá fora. O momento é oportuno”, destaca Nazareth.
André Simon, gerente comercial da Nordea no Brasil, também é otimista com a nova instrução. “A nova norma da CVM vai mudar o jogo para investimentos no exterior. Vai abrir possibilidades de investimentos para clientes menores”, afirma. “Muitos players do mercado já analisam essas mudanças, acredito que muitos vão se beneficiar dessa instrução”, complementa Simon.