Edição 255
Uma participação maior da patrocinadora na elaboração da política de investimento de seus fundos de pensão é de extrema importância no ano que vem, dado que o ambiente macroeconômico, principalmente doméstico, não deve se apresentar mais amigável do que em 2013. Essa é uma das avaliações dos agentes de mercado que participaram do 8° Fórum Perspectivas 2014 – Os Desafios de Compatibilizar Risco e Retorno, promovido pela revista Investidor Institucional. Realizado entre os dias 26 de novembro e 5 de dezembro em cinco capitais (São Paulo, Rio de Janeiro, Florianópolis, Brasília e Recife), o evento reuniu mais de 500 pessoas, entre executivos de fundos de pensão, RPPS, consultorias e asset managements. Os especialistas entendem, por outro lado, que o cenário internacional deve manter nos próximos meses o processo de recuperação do crescimento, e é justamente a “face externa” da economia brasileira que pode nos trazer boas notícias.
Patrocinador mais presente – Não existe uma resposta única e perfeita para a questão de como compatibilizar risco e retorno, segundo Edivar Queiroz, diretor presidente da Luz Soluções Financeiras, isso porque cada fundação, com seus mais variados portes, tem também os mais diversos limites de classes de ativos e apetites ao risco. Dado que a entidade é apenas a gestora dos recursos, sendo os participantes e a patrocinadora responsáveis pelos riscos dos planos de benefícios, é fundamental que essa última esteja mais presente no dia a dia de sua fundação. “Quando se escreve a política de investimento, infelizmente fica circunscrito só ao fundo de pensão, e dificilmente atinge a pessoa mais importante nessa história, que é a patrocinadora, quem deveria decidir quanto está disposta a arriscar em um plano de Benefício Definido (BD)”, pondera Queiroz. “Em geral só vemos a patrocinadora envolvida quando tem algum problema”.
Se o BD deficitário tem de ser tratado com um ALM (asset liability management) mais adequado, um plano “CD com déficit”, ou seja, com desempenho abaixo da meta de rentabilidade, nota o consultor, não é menos prejudicial às companhias, dado que o programa de incentivo pode acabar tendo o efeito inverso junto aos participantes. Neste caso, a patrocinadora acaba desperdiçando recursos com um plano de benefícios que não funciona plenamente como um elemento de atração e retenção de talentos.
Investimentos internacionais – Tendo nossa Bolsa um desempenho bem abaixo de seus pares no ano corrente, e a perspectiva de que não teremos uma reversão desse quadro no curto prazo, Bruno Stein, diretor co-responsável pelas operações da BlackRock no Brasil, instigou os fundos de pensão a olharem com mais carinho para os investimentos em renda variável fora do país. O Ibovespa tem queda superior aos 16% em 2013, enquanto o S&P 500 sobe mais de 25%. “O investimento no exterior é um redutor de risco, por mais contraintuitivo que isso pareça. Tudo que é desconhecido é associado a risco, então precisamos ter mais conforto com esse assunto, mais informação”, afirma Stein.
Fora a própria performance positiva de nossos pares, a diversificação de setores oferecida por outras praças financeiras é outro grande atrativo. Enquanto o Ibovespa tem hoje 73 ações, quando olhamos para os mercados desenvolvidos, são 1400 ativos de setores pouco representados na bolsa brasileira, como tecnologia da informação e consumo não discricionário.
Apesar dos incentivos, Stein admite que, para o nível de maturidade das fundações, o investimento no exterior deve ser enxergado mais sob o ponto de vista estratégico, e não tático, a não ser para as grandes entidades, mais adiantadas no processo. “Fazer muito giro com o investimento no exterior pode trazer um nível de risco que talvez o passivo não suporte”.
Oportunidade em FIPs – Além das opções no mercado internacional, outro segmento, esse mais familiar às fundações, e que também pode ser uma válvula de escape aos institucionais em 2014, é o de infraestrutura. “A exposição média das fundações próxima de 5% poderia ser bem maior. De 144 países analisados pelo Fórum Econômico Mundial em qualidade de infraestrutura, o Brasil aparece na 107° posição. Hoje o país entrega uma soja que custa duas vezes mais que a dos Estados Unidos, o custo logístico encarece demais a entrega na ponta final”, pontua Cássio Viana, superintendente nacional de fundos de investimentos especiais da Caixa Econômica Federal.
Entre as vantagens dos FIPs de infraestrutura, Viana cita o monopólio natural dos empreendimentos, dado que uma ferrovia dificilmente terá um concorrente regional, e a blindagem dos ativos às variações no nível da atividade, já que a obra de um aeroporto não será paralisada porque o PIB veio abaixo do esperado. “Hoje vemos o retorno real perto da casa de dois dígitos, entre 7% até 9,5%. Em 2008 o retorno real chegava a 20%, mas, para o risco, falando mais do setor de energia, entendemos que são investimentos que trazem um spread em relação ao título público”. O executivo aponta como exemplo uma linha de transmissão de energia, que tem receita pulverizada, e que é coordenada por órgãos governamentais. “Em teoria é comparável ao risco de um título público”.
Números apresentados pelo superintendente mostram que a infraestrutura vai demandar R$ 342,9 bilhões em investimentos nos próximos anos, com as ferrovias, por categoria, e o sudeste, por região, concentrando as maiores participações, com 42,86%, e 61,1%, respectivamente.
Generosidade da seguridade – A generosidade da seguridade social, segundo palavras de Thiago Palaia, head de multi-asset portfólio solutions na Itaú Asset Management, é um dos desafios a serem enfrentados pela previdência complementar brasileira. Em 1990 o Brasil gastava 5% de seu PIB com a seguridade social, percentual que já subiu para 9%. “Somos o país que mais aumentou os gastos com seguridade nos últimos 15 anos”. De acordo com Palaia, o governo entrega ao aposentado 86% da renda de quando a pessoa estava na ativa, “o que dificulta muito o avanço da previdência complementar”.
Outro fator que dificulta o crescimento da previdência fechada, fala o especialista, é o problema crônico de nossa renda per capita. “A renda per capita do Brasil em proporção a dos desenvolvidos ficou estagnada em 20% desde 1970. São 40 anos sem conseguir crescer a renda per capita dos brasileiros”.
Quando esses obstáculos forem resolvidos, e a previdência complementar brasileira mostrar um crescimento mais robusto, o especialista questiona: estamos preparados para esse crescimento? A previdência fechada equivale a somente 15% do PIB do país, contra 74% dos Estados Unidos, e já vemos um fenômeno bastante comum, de cada vez mais entidades optarem pelos planos CD em detrimento aos BD. “Estamos simplesmente transferindo o risco da patrocinadora para o aposentado?” Precisamos focar em soluções que ofereçam solvência de longo prazo, fala Palaia, o que passa por uma sofisticação do portfólio de investimento dos institucionais.
Pessimismo exagerado – Embora o quadro econômico doméstico não se desenhe da melhor maneira para 2014, André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, critica o excesso de pessimismo que é alardeado por diversas fontes do mercado financeiro, e ressalta que as mudanças estruturais que ocorreram no país nos últimos anos fatalmente terão reflexos nas mais diversas áreas e classes sociais. “A queda da taxa de juros impõe um novo ritmo, uma taxa de retorno da economia mais normal”, pondera Perfeito.
A queda da taxa de retorno impôs um recuo na margem de lucro dos empresários, e diante do recuo nos ganhos, o economista da Gradual entende que o empresariado precisa buscar novas formas de investimento. Ele cita como exemplo a automação das bombas de gasolina, o que tornaria desnecessário tantos frentistas em um posto de combustível. “Ganhar dinheiro no Brasil está mais difícil, vai ser preciso sair das LFTs e ir pro risco”, afirma o especialista.
Diante dessas mudanças, nota Perfeito, o mercado passou a procurar outras maneiras de obter o mesmo retorno do passado, como exigir mais prêmio na compra de títulos da dívida pública. “O mercado está tentando recompor a taxa de retorno por outros canais”. No entanto, o economista afirma que, como os juros não devem voltar a patamares de alguns anos atrás, o aumento da produtividade precisa ser visto como uma das principais saídas para que se tenha o retorno desejado. “Nós tivemos de criar outro índice, alternativo aos da Bolsa, com novas estratégias para tentar acompanhar a economia brasileira de forma mais adequada”.
Economia fraca em 2014 – Com o olhar mais voltado para o desempenho do país em 2014, Luis Guedes, administrador de renda variável da Bradesco Asset Management, diz que, embora estejamos passando por um momento de dificuldades macroeconômicas, com a inflação alta e o crescimento em queda, o ambiente de negócios tem sido bom ao seu ver, com as concessões dos aeroportos e rodovias tendo boas propostas por parte dos investidores privados. “Apesar de tudo, o ambiente de negócios está bastante interessante, e isso nos deixa com uma visão não tão pessimista em relação ao Brasil”.
Para 2014, Guedes diz esperar “por um pouco mais do mesmo, talvez um pouco melhor”, dado que o cenário internacional deve continuar a recuperação que ganhou forma ao longo do ano corrente, principalmente por conta dos desenvolvidos. “A redução dos estímulos à economia americana irá impactar os mercados, apesar de grande parte do ajuste já ter sido sido feito ao longo dos últimos meses”, afirma o gestor da Bram.
Embora o quadro se mostre mais favorável aos desenvolvidos do que aos emergentes no próximo ano, Guedes acredita que o Brasil continua atrativo sob o ponto de vista do investidor estrangeiro, ainda que eles possam aguardar um pouco mais para voltar a fazer alocações no país. “A renda variável está em um patamar muito próximo do justo frente a todos os riscos inerentes ao cenário”, afirma o administrador da Bram. “Estamos com uma alocação bastante conservadora em renda variável na comparação com anos anteriores, mas não vamos ficar conservadores para sempre. Podem ter várias oportunidades ao longo do ano”, acrescenta o especialista.
Recuperação estrangeira – O economista-chefe da BB DTVM, Marcelo Arnosti, se mostra um pouco menos animado que seu colega da Bram em relação às perspectivas brasileiras para 2014, mas com maior confiança sobre os rumos do cenário externo. Em relação ao ‘tapering’ do Fed, o economista da BB DTVM diz ser relativamente baixa a chance de uma surpresa negativa na curva de juros em função do banco central americano. “O Fed é essencialmente ‘dovish’ [postura mais tolerante aos juros baixos], e vai muito vagarosamente retirar os estímulos”, fala Arnosti, que prevê um mercado com liquidez ainda satisfatória em 2014, e com as taxas de juros, curtas, ainda baixas, sendo que as longas não tem muito mais espaço para andar. “O ambiente internacional é favorável na visão da BB DTVM. A economia brasileira, pelo contrário, é onde vemos mais riscos”.
As contas fiscais, que rodam abaixo do esperado, tem levado a uma reavaliação, para pior, do Risco Brasil, com uma deterioração da renda fixa – as NTN-Bs tem pago prêmios ao redor dos 6,5%; o crescimento da economia, segundo Arnosti, é desapontador, e vem acompanhado de uma inflação resistentemente acima dos 6%.
Faltam novas estratégias – Faz coro ao discurso pessimista do economista-chefe da BB DTVM o sócio-consultor da PPS Portfólio Performance, Everaldo Guedes França. “Sou otimista por natureza, mas não me lembro de estar tão pessimista quanto agora em relação às perspectivas do ano que vem”.
Ainda que o mercado doméstico siga oferecendo algumas opções, elas não são muitas, segundo o especialista. “Recomendo bastante a classe de multimercados Long&Short neutros”.
Devido à forte volatilidade que acometeu o Ibovespa, grande parte por conta da OGX, França estava recomendando aos institucionais sair do índice e ir para o IBr-X ou outros índices da Bolsa. “Mas para quem não saiu até agora do Ibovespa, já não é mais o momento de mudar. Com as mudanças de composição do índice que começam a vigorar a partir de janeiro de 2014, o Ibovespa deve melhorar um pouco”.