Perspectivas 2009 – Wagner Pinheiro de Oliveira

Edição 199

Brasil está menos vulnerável a crises

A excessiva expansão monetária nos países desenvolvidos no início da década gerou graves desequilíbrios econômico-financeiros, dentre os quais destacam-se a alavancagem de instrumentos de crédito que desenvolveram bolhas especulativas e os reduzidos níveis de aversão ao risco. Desequilíbrios não são sustentáveis no médio e longo prazo e, pelos movimentos recentemente verificados nos diversos mercados mundiais, 2009 será um ano de ajustes. Neste contexto, alguns países, como os desenvolvidos e os emergentes com alta necessidade de poupança externa, já apresentam ajustes abruptos e profundos, e outros, tais como os emergentes com baixa necessidade de poupança externa, também sofrerão, porém menos que a média mundial.
O Brasil, por sua vez, se caracteriza como uma das economias com baixa necessidade de poupança externa para financiamentos de curto prazo.
Uma posição muito distinta daquela em crises anteriores, tais como a asiática, a russa e a de 2002. Mudanças estruturais importantes efetiva e firmemente implementadas a partir de 2003 na economia brasileira causaram impactos positivos na vulnerabilidade externa do País. O atual nível das reservas internacionais, a redução significativa do passivo soberano em moeda estrangeira e o cronograma de vencimentos de curto, médio e longo prazos da dívida confirmam essa visão. Ademais, o grau de investimento concedido ao Brasil evidencia que a atual posição brasileira é sustentável no médio e longo prazo.
Mesmo assim, a magnitude do choque externo resulta em revisões negativas nas projeções econômicas para o ano de 2009. As quedas das exportações e dos preços das commodities e a menor disponibilidade de linhas externas de financiamentos influenciarão diretamente o preço dos ativos e a dinâmica da economia brasileira. Isso afetará as expectativas do empresário e do consumidor, que, por sua vez, deverão rever suas estratégias e orçamentos para os próximos anos.
Nesse novo ambiente econômico, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, que deverá crescer acima dos 5,2% em 2008, se desacelerará em 2009, para algo entre de 3,0% a 3,5%. Dentre os setores, a indústria, responsável por 30% do PIB, será a maior prejudicada. A sua taxa de crescimento deverá se desacelerar de 5,3% em 2008 para 0,8% em 2009.
Já o setor de serviços, responsável por 65% do PIB, deverá sofrer menos os impactos da crise devido ao aquecido mercado de trabalho brasileiro.
As expectativas são de que a taxa de crescimento se arrefeça de 5,0% em 2008 para 3,9% em 2009 e 3,0% em 2010 – choque adverso será mais bem distribuído.
Esse arrefecimento da economia doméstica e a recessão da economia internacional se mostram deflacionários e deverão influenciar positivamente a inflação para o próximo ano. Isso se sustenta na hipótese de que o atual nível de taxa de câmbio – algo em torno a R$ 2,40/US$ – não deverá se manter ao longo de 2009. De fato, os fundamentos das contas externas mudaram drasticamente e isso justifica um recuo da taxa de câmbio para níveis mais próximos a R$ 2,10/US$.
Dessa forma, as expectativas são de que a inflação ao consumidor recue de 6,2% em 2008 para algo em torno de 4,3% em 2009.
Nesse ambiente de elevada incerteza, o Comitê de Política Monetária (Copom) não precisará realizar novas elevações (na verdade poderia iniciar um ciclo de queda das taxas básicas de juros), pois o mercado de crédito se mostra bastante estressado em termos de taxas de aplicação e bastante restritivo em termos de concessões. Portanto, as expectativas são de manutenção da taxa ao longo de 2009 com elevada probabilidade de queda no segundo semestre do mesmo ano. Na verdade, poderia ser mais “arrojado” e diminuir a taxa básica de juros já no início do ano. Mas, dado o excesso de conservadorismo do Bacen, não se pode esperar muito.
De qualquer maneira, a redução da vulnerabilidade externa, o regime de câmbio flutuante, a continuidade e consolidação da política de metas inflacionárias e a responsabilidade fiscal garantem um ambiente econômico estável e de maior previsibilidade. Isso indica que o atual momento de crise é de oportunidade, pois as tendências de médio e longo prazos para a economia brasileira não se deterioram.
Neste sentido, os investidores de longo prazo, fundos de pensão incluídos, poderão aproveitar momentos de remuneração mais vantajosas, tanto em renda fixa quanto em renda variável. O desafio do ano será o de aprimorar a análise técnica para decisão do investimento. Assim, para prazos de até cinco anos, a renda fixa privada pode ser atrativa. Já para períodos mais longos o investimento em ativos reais, como ações em Bolsa, imóveis, apresentam diversas possibilidades de bons investimentos com retornos convidativos a riscos moderados.
Portanto, ainda que 2008 não tenha se encerrado com boa rentabilidade, o histórico passado de bons retornos e uma crise internacional que é séria, mas que chega num momento em que o Brasil se encontra com fundamentos sólidos, pode-se dizer que 2009 se apresenta como um ano promissor para que os investidores institucionais fortaleçam suas carteiras de longo prazo e as ajustem às suas necessidades de liquidez.

Wagner Pinheiro de Oliveira, presidente da Petros.