Edição 223
O crescimento dos fundos estruturados é a grande aposta do mercado de custódia de ativos para este ano. Instituições como Itaú, Bradesco e Citibank acreditam que este deve ser o principal vetor de expansão dos ativos totais, impulsionados por um apetite maior das entidades fechadas de previdência complementar por este tipo de investimento.
As três instituições acima, junto com o Banco do Brasil, são as quatro primeiras no ranking de custódia de ativos da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Segundo dados da associação, o volume total sob custódia chegou a R$ 3,03 trilhões em dezembro do ano passado, o que indica um crescimento de 26% na comparação com o mesmo mês de 2009. O Itaú é líder do ranking, com R$ 762,40 bilhões, volume 11% superior ao registrado no final do ano anterior. Já o Bradesco registrou alta de 29% na comparação anual, atingindo R$ 728,66 bilhões em ativos custodiados. O Banco do Brasil aparece na terceira posição, com R$ 462,38 bilhões (alta de 12%), seguido pelo Citibank, com R$ 457,70 bilhões (elevação de 33%).
Para Ricardo Soares, responsável pela área de custódia do Itaú, o crescimento abaixo do mercado está ligado à entrada de novos concorrentes. A quantidade de integrantes do segmento listada pela Anbima passou de 10 em 2009 para 23 no ano passado, o que teria gerado uma distorção. “Houve mudanças na Anbima sobre os critérios de participação. Isso trouxe quase R$ 170 bilhões em novos entrantes”, argumenta. Ainda segundo o executivo, o total de ativos sob custódia da instituição também foi impactado pela desvalorização de um American Depositary Receipt (ADR) específico, mas ele não revelou qual.
No mercado local, os Fundos de Investimento em Participações (FIPs), Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) e fundos imobiliários foram o destaque em 2010. “Esses fundos tiveram um impulso maior no nosso mix de captação, representando em torno de 30% a 35% do fluxo. Para 2011, continuamos vendo esse mercado bem aquecido”, afirma Soares. Ele estima que a instituição tenha obtido uma performance acima da média dos últmos três anos, em que conseguiu um crescimento entre R$ 20 bilhões e $ 25 bilhões por ano.
O Bradesco também se prepara para aproveitar o mercado de fundos estruturados. “Para 2011, vemos muita coisa sendo montada com FIPs.
Além disso, volta-se a discutir também muitos FIDCs, com algumas assets se sofisticando em investimentos estruturados”, afirma André Bernardino, diretor de ações e custódia do Bradesco. O executivo acredita que 2011 será um bom ano para o mercado financeiro como um todo. “Há muito dinheiro circulando, com investidores estrangeiros olhando para o Brasil como um porto atraente e seguro. Estamos observando todo esse movimento e atentos ao mercado. Nosso foco é disputar essa expansão das carteiras de estruturados e também crescer com a base que aqui se encontra”, define. A meta é de atingir um aumento dos ativos entre 15% e 20% em 2011.
Assim como seus concorrentes, o Citi também acredita que os fundos de participações e imobiliários devam puxar o crescimento dos ativos. Márcio Veronese, diretor de serviços qualificados ao mercado de capitais do Citi Brasil, afirma que esses segmentos ainda estão no início das possibilidades de expansão e vão mostrar muita força em 2011. “Vamos manter o crescimento, principalmente em fundos estruturados, em que devemos crescer acima do mercado”, aposta o executivo.
Mercado interno – O crescimento do Citi no mercado local é a grande surpresa do ranking. Tradicional em custódia de estrangeiros, a instituição teve um incremento de 42% nos ativos locais em 2010, alcançando um total de R$ 91,49 bilhões. Para se ter uma ideia da evolução, a instituição encerrou 2009 com R$ 64,34 bilhões no mercado interno, com queda de 5% na comparação com 2008.
O incremento dos fundos estruturados possibilitou essa mudança, uma vez que a estratégia de crescimento do País e do Citi se alinharam. “O Brasil está passando por uma transformação importante, se tornando um país de longo prazo, em que se projeta taxas de juros menores e uma necessidade dos investidores institucionais de diversificar seus portfólios”, explica Veronese. Segundo ele, o objetivo da instituição é trabalhar com “tudo que for inovação para o mercado brasileiro”, com o viés de longo prazo. “Agora, por exemplo, teve o lançamento dos BDRs. Nós consideramos que esse tipo de ativo tende a atrair os investidores locais de forma mais expressiva na curva de longo prazo. Estar associado a esse crescimento faz parte da nossa estratégia.” O Bradesco, por sua vez, pretende fazer “mais do mesmo” para continuar em rota ascendente. Segundo Bernardino, a instituição investe em pessoas e em tecnologia, com foco total no cliente. O executivo conta que em 2004, quando entrou para disputar esse mercado, o banco já procurou iniciar com uma estrutura destacada de precificação de risco e enquandramento de ativos. “Começamos com esses diferenciais e nos fortalecemos com uma estrutura muito próxima de relacionamento com o cliente. Essa base consolidou a nossa base de sucesso nos últimos anos”, acredita ele. Com essa filosofia, o banco conseguiu novas contas em 2010, como Grupo Caixa Seguros, que agregou um patrimônio de R$ 19 bilhões, Fundação Geap, com patrimônio de R$ 1,8 bilhão, EmbraerPrev, que agregou R$ 785 milhões, e PrevUnião, que adicionou R$ 500 milhões ao total de ativos custodiados pela instituição.
O Bradesco investiu R$ 10 milhões em tecnologia e pessoal, valor que chegará a R$ 14 milhões neste ano. O banco é líder no mercado doméstico, com custódia de R$ 600,34 bilhões em ativos, volume 27% superior ao de 2009. Em seguida vem o Itaú, com R$ 515,42 bilhões, montante 21% acima do de 2009.
Para Soares, do Itaú, o mercado como um todo está passando por um momento positivo, com a chegada de assets e private banking internacionais. “É um tipo de cliente que, do ponto de vista de exigência e estrutura, é muito diferente do cliente local. Ele traz uma outra bagagem, e isso requer do custodiante uma preparação que vai além de outra língua.
É preciso entender esse mercado.” Para o executivo, esse movimento ajuda a elevar o nível de exigência, o que beneficia também os clientes locais.
“Na medida em que ajustamos para atendê-los de maneira adequada, conseguimos propagar isso para os outros clientes também”, completa.
EFPC – Entre as entidades fechadas de previdência complementar, o Itaú manteve seu total de ativos custodiados estável. Apesar disso, não houve problema com perda de clientes ou desvalorização de papéis. “Pelo contrário, tivemos ganho de cliente entre as fundações”, afirma o responsável pela custódia de ativos domésticos da instituição, Luciano Magalhães. O Itaú encerrou 2010 com R$ 68,11 bilhões no segmento, volume parecido com o de 2009.
Segundo Magalhães, a instituição conquistou 15 novos fundos de pensão como clientes, passando de 130 para 145. “Uma das coisas em que trabalhamos durante 2010 foi em soluções para as entidades. Há um órgão regulador cada vez requerendo que as entidades tenham mais controle, como divisão por planos, acompanhamentos de políticas de investimento, enquadramento, risco, controle das operações que são liquidadas. Então, mexemos muito na parte de controle, para permitir maior segregação de planos”, diz Magalhães. Para ele, além de seguir a legislação, o custodiante também deve acompanhar o desenvolvimento das entidades. “Por isso tivemos também que oferecer possibilidade de segregação por perfil de participante. Precisamos acompanhar essa visão em relação ao participante e ter possibilidades de desenvolvimento do sistema.” Já o Bradesco, líder na custódia de ativos das entidades fechadas, vê um cliente cada vez mais exigente, o que requer uma especialização cada vez maior do custodiante. “O core business de quem trabalha com esse segmento é buscar uma entrega cada vez mais rápida e segura dos serviços”, avalia Bernardino. A principal preocupação, segundo ele, é manter a base atual de clientes. “ Nossa luta será para manter essa base de cliente que conquistamos, e fidelizar pela qualidade e pela presteza.
Estamos dispostos a tê-los como constante no nosso propósito de negócio, e o resultado tem que ser derivado daí.” A instituição encerrou 2010 com R$ 142,83 bilhões em entidades fechadas de previdência complementar (ativos de origem de outras instituições), um crescimento de 19% ante 2009.
No entanto, os bancos veem de maneira diferente o crescimento desse mercado. Para o líder Bradesco, as trocas de custodiantes devem ser pontuais em 2011. “Conta nova não existe, o mercado já está dado”, garante Bernardino. Para ele, uma expansão deverá acontecer aproveitando oportunidades que possam surgir ao longo do ano. “O mercado já está desenhado em fundos de pensão. O que pode acontecer é que alguém abra uma licitação e sejam dadas condições para os players disputarem a concorrência”.
Já o Itaú acredita na expansão do mercado, principalmente entre institutos de estados e municípios e na previdência associativa. “Sentimos que há espaço para crescer. Não é tão grande, mas vemos a criação de novas entidades, principalmente entre institutos, e temos conseguido capturar esse crescimento”, acredita Magalhães. Para ele, ao contrário das fundações, esse ainda é um mercado em desenvolvimento.
Ricardo Soares, responsável pela área de custódia do Itaú, concorda que enquanto o arcabouço legal já é maduro entre as fundações, entre os institutos de estados e municípios e nos planos previdenciários de entidades de classe ele ainda está em evolução. “Por isso, começa uma procura grande dos institutos, em busca de alguém que consiga dar soluções mais completas.” Como a atual regulamentação para essas entidades previdenciárias é mais simples do que para as fundações, ainda é possível trabalhar com o mesmo sistema. No entanto, para Soares, deveria haver padronização maior em relação, por exemplo, a contrato e regra de precificação. “A regulamentação ainda possui uma série de fatores que precisam evoluir para que seja possível trabalhar de maneira mais automatizada”, opina.
Ele conta ainda que já há conversas com a Secretaria de Políticas de Previdência Social (SPPS) para que se consiga essa maior padronização.
“São coisas que já se havia conseguido na Previc, como automação na troca de informações, ter contrato padrão em função da autorregulação.
Mas, por ser ente público, é mais difícil padronizar, então temos conversado muito em função do que se pode fazer na SPPS, já aproveitando o que foi criado de automação na Superintendência,”, diz ele, referindo-se à Previc.
Estrangeiros – Alheios à disputa pela custódia dos ativos das entidades fechadas, os bancos estrangeiros preferem se centrar em outras estratégias. Enquanto o Citibank aumenta seu volume de ativos sob custódia de forma indireta, o HSBC prefere se manter mais distante desse segmento. A justificativa é a baixa remuneração proporcionada por essas entidades.
Apesar de não eleger as fundações como foco, o Citi mostrou um crescimento de 47% nesse segmento em 2010, chegando a R$ 7,4 bilhões. “Muitos dos FIPs de que somos administradores têm fundos de pensão entre os cotistas. Essa foi a maneira que encontramos para atendê-los indiretamente. No ranking, entramos como custodiantes das cotas dos fundos de pensão. Assim podemos contribuir para a evolução do mercado e da discussão de como melhorar as práticas voltadas a esse produto”, diz Márcio Veronese, responsável pela área.
O Citi se abstém de realizar uma venda ativa nesse segmento. Segundo Veronese, a prática nesse mercado é de operar com remuneração de serviços muito abaixo do que a instituição considera razoável, o que inviabiliza a entrada. “Evidentemente, gostaríamos de atuar mais fortemente nesse segmento. No entanto, há essa barreira de entrada, a baixa remuneração. Acreditamos que isso não planta futuro e é difícil entrar em um relacionamento em que você não veja o futuro fechando.” O HSBC vê um poder de barganha muito grande por parte das entidades, devido ao seu tamanho, o que gera anormalidades no mercado. “No Brasil, não cobramos por transação, o que é uma distorção muito grande se comparada com qualquer outro mercado lá fora”, afirma o diretor de custódia internacional do HSBC, Sylvio Rocha. Isso porque o valor cobrado será o mesmo caso o gestor do fundo de pensão queira fazer uma grande realocação em uma carteira de ações ou, por exemplo, comprar Certificados de Depósito Bancário (CDBs) e guardá-los até o vencimento.
“No primeiro caso, o custodiante tem um risco operacional de processar as operações em uma janela de liquidação do dia, com todas as atividades necessárias para garantir que sejam validadas. Mas nos dois casos, eu cobro pontos-base em cima do patrimônio do cliente, em uma base mensal.” Para a instituição, é mais importante trabalhar dentro de parâmetros já definidos de rentabilidade e segmentação de clientes, sem abrir mão desses ítens. “O HSBC tem uma estratégia bem segmentada e particular de atuar, para que seja bastante competitivo e nos garanta a posição que temos hoje. Nosso objetivo não é ser o maior em cada país em que estamos presentes, mas a soma das partes faz do banco o maior em termos globais”, argumenta. Ainda segundo Rocha, a instituição olha caso a caso e tenta entender o perfil do cliente. “Tentamos entender como vai ficar esse relacionamento, porque há situações em que entendemos como desfavoráveis”, admite. No ranking da Anbima, o HSBC aparece na quinta posição, com R$ 200,74 bilhões em ativos custodiados, uma alta de 6% em relação a 2009. No mercado local, a instituição aparece com R$ 74,5 bilhões, queda de 14% em doze meses. Considerando apenas as EFPCs, o total de ativos da instituição é de R$ 19,9 bilhões, com baixa de 12% em 2010 na comparação com o ano anterior.
Mercado externo – Para as instituições, o crescimento atual e a perspectiva de longo prazo do País, aliados ainda a uma taxa de juros alta em comparação ao restante do mundo, devem manter o mercado de clientes estrangeiros aquecido. Para Veronese, do Citi, o Brasil está se tornando cada vez mais atrativo a esses investidores, ao criar mecanismos que permitam investimentos no longo prazo. “As debêntures ligadas ao setor de infraestrutura, lançadas no fim do ano passado, são um exemplo.
Trata-se de um segmento novo, que provavelmente não dará resultados nesse ano, mas sim nos anos subsequentes”, analisa. “Todo mundo está querendo fazer negócios no Brasil”, completa. O Citi é líder em custódia de ativos do mercado externo no ranking da Anbima, com R$ 366,21 bilhões, alta de 31% ante dezembro de 2009. O segmento como um todo chegou a R$ 941,96 bilhões, com expansão de 21% no ano passado.
O Itaú, por sua vez, teve uma queda de 6% em seu total de ativos nesse nicho, chegando a R$ 246,98 bilhões. Segunda colocada, a instituição teve a redução provocada pela desvalorização de um papel específico. “Não acredito que essa tendência de baixa continue. Creio que chegou a um nível em que a expectativa é positiva, e não negativa”, diz Ricardo Soares, do Itaú. Don Linford, responsável pela custódia internacional da instituição, vê 2011 com bons olhos, com perspectiva de concretização de negócios que atraiam investidores estrangeiros, como a união entre as companhias aéreas Lan Chile e Tam.
No HSBC, Rocha acredita que há grande parte do mundo que ainda mostra tendência de estagnação ou crescimento baixo, o que também é positivo para o Brasil. “Vemos ainda uma taxa de juros altíssima se comparada a outros países. O Brasil é um dos que mais tem atraído capital para investimento direto ou mercado de capitais.” O HSBC chegou a um total de R$ 126,21 bilhões em custódia de ativos do mercado externo, uma alta de 23% no ano passado.
O Bradesco, por sua vez, busca conquistar uma presença no mercado internacional. “E a custódia está junto. Não adquirimos uma instituição que possuísse um desk internacional, então se nossa área de private ou asset conquista contas externas, a custódia tem que acompanhar essa tendência”, avalia Bernardino. Segundo ele, a instituição tem “marcado presença” em encontros promovidos fora do País. “Estamos nessas rodadas de negociação e acreditamos que podemos crescer também nesse segmento.” A instituição ganhou uma posição nessa área em relação a 2009, com um crescimento de 38% em 2010, encerrando o ano com R$ 128,32 bilhões no segmento.