Edição 55
Com o crescimento da previdência complementar, começam a surgir novas
empresas de consultoria financeira, especializadas em gestão de
investimentos
O mercado de consultorias financeiras para fundos de pensão está em
franca expansão. A partir da crise asiática, no final de 97, os investidores
perceberam que o risco dos investimentos estava presente em todos os
ativos e começaram a procurar especialistas para ajudá-los a selecionar
seus investimentos.
Com o aumento da volatilidade dos mercados, medir o risco/retorno dos
ativos transformou-se em uma necessidade fundamental, por envolver
decisões de escolha de gestores e alocação de recursos da instituição. Mas
aumentaram também as dificuldades de fazer essa medição, o que levou
o staff das fundações a recorrer cada vez mais aos serviços de
consultorias especializadas. Assim, o time das fundações pode concentrar-
se em estratégias globais de gestão, adequando os ativos aos
passivos. “O conhecimento dos especialistas das fundações, somados ao
dos consultores, dá mais consistência e transparência aos planos”, explica
o consultor Nelson Rogieri, ex-presidente da Abrapp.
Ele abriu sua consultoria, a NPR Consultoria, no início deste ano, após
deixar a presidência da entidade dos fundos de pensão. Sua
especialidade é a área atuarial, atendendo a empresas e instituições
interessadas no desenvolvimento de planos de previdência complementar.
Assim como as consultorias financeiras, também essa área está
apresentando crescimento.
A estabilidade econômica do plano Real foi o estopim do crescimento da
atividade de consultor financeiro, que passou a ser procurada com o
objetivo de trazer maior rentabilidade aos investimentos. “Na época de
inflação alta, os retornos eram sobreavaliados pela correção monetária”,
explica o sócio-consultor da Consultorys, Dionísio Jorge da Silva. A
Consultorys, com sede em Brasília, atua nesse segmento há três anos, já
tendo prestado serviços a entidades como Funcef, Regius, Fachesf e
Faelce, entre outras.
De acordo com Silva, a difusão do conceito de risco impulsionou o
crescimento das consultorias. Até então, os fundos de pensão estavam
operando mais no curto prazo, sem um plano de investimento adequado
ao risco. “O foco no risco casa com a visão de médio e longo prazo que as
fundações procuram. Para a carteira delas, pode ser muito mais
interessante ter ações com uma boa política de dividendos, por exemplo,
do que ficar no giro da primeira linha”, explica.
A rapidez dos movimentos do mercado, segundo Silva, também produziu
impacto sobre o perfil do consultor de investimento. Mais do que boas
sugestões, hoje ele precisa equipar os investidores com um arsenal
tecnológico de peso, para que possa operacionalizar a sua estratégia. “As
fundações que não tiverem um bom sistema de informática para integrar
seus investimentos vão ficar fora do mercado. Hoje, qualquer modelo de
gestão tem que estar ancorado na informática, as patrocinadoras vão
olhar para isso na hora de avaliar o fundo”, reitera o consultor.
Uma das fundações que tem feito esforços pesados no controle de risco é
a Previ. Nesse momento, a fundação está selecionando uma empresa que
terá como tarefa desenvolver e atualizar constantemente um sistema de
medição do risco das suas aplicações.
“Nosso volume de processamento de dados é enorme e estamos
buscando uma ferramenta capaz de dar base para as simulações de risco
para uma alocação de carteira adequada”, conta o gerente da diretoria de
planejamento da Previ, Luiz Fernando Camillôtto. “Temos gente dentro de
casa para desenvolver sistemas, mas seria extremamente trabalhoso
fazer isso internamente”, acrescenta.
Potencial – Do outro lado da moeda, os consultores de investimentos
perceberam o tamanho e o potencial desse mercado e começaram a se
organizar para atendê-lo. Foi assim que surgiu a Rocca, Prandini &
Rabbat, em meados de 98, da associação do professor Carlos Antônio
Rocca com a consultoria Prandini & Rabbat, que já existia e era
especializada em modelos matemáticos e estatísticos de investimentos.
Seu nicho inicial de atuação era a prestação de serviços para os bancos.
Mas no ano passado, quando começou a receber algumas consultas de
investidores institucionais, passou a redirecionar o foco.
Foi ai que buscou a associação com Rocca, conhecido economista e
professor da Universidade de São Paulo (USP), que também tinha dirigido
uma das maiores lojas de varejo do Brasil por mais de uma década, o
Mappin, até essa casa ser comprada pelo empresário Ricardo Mansur.
Rocca tinha uma visão mais ampla da economia e dos mercados
financeiros, além de já possuir alguma inserção junto aos institucionais,
por causa da bem sucedida securitização de recebíveis do Mappin.
“Criamos uma empresa separada da Prandini & Rabbat, para manter focos
bem separados. A Rocca, Prandini & Rabbat atende só aos investidores, e
soma a nossa expertise quantitativa com a visão macro do professor
Rocca”, diz o sócio da empresa, Marcelo Rabbat.
A nova empresa assessora as fundações na seleção dos fundos de
investimento que irão compor sua carteira, que é a melhor forma de
aplicar recursos, segundo os sócios. O trabalho envolve desde a avaliação
do risco/retorno dos fundos, a experiência dos profissionais da empresa
na gestão de recursos, e até os seus procedimentos internos, como o
chinese wall e a precificação dos ativos. “Existe uma demanda de toda a
sociedade por uma administração mais transparente, além de
performances ajustadas ao risco”, diz Rocca.
A Rocca, Prandini & Rabbat já conta com 5 fundações como clientes. “Cada
fundação é uma história. A natureza do cliente exige uma análise de risco
bem específica”, diz o ex-dirigente do Mappin.
No início desse ano, outra nova empresa decidiu disputar o mercado de
fundações. A Netquote Consultoria, autora do estudo que está norteando
a terceirização dos recursos da seguradora Unibanco AIG (ver Investidor
Institucional número 48). O trabalho da Netquote se baseia em trabalhos
técnicos desenvolvidos pelo Laboratório de Finanças da USP, explica José
Roberto Savóia, responsável técnico da empresa. “As fundações estão se
profissionalizando, e precisam melhorar cada vez mais sua performance
num momento em que precisam disputar novas patrocinadoras”, diz
Savóia.
O crescimento da demanda das fundações aguçou também o interesse
das consultorias estrangeiras, que se preparam para disputar o mercado.
Além da Barra, que chegou ao Brasil no início de 97, outra forte consultoria
da área de risco, a canadense Algorithmics, pretende entrar com força
nesse mercado.
Nos Estados Unidos, a Algorithmics dá consultoria ao CMRA, um grupo de
trabalho de especialistas de fundações criado há dois anos, o qual
desenvolveu um trabalho com 20 recomendações de riscos para
investidores institucionais.
A consultoria canadense atua no Brasil há dois anos, desenvolvendo
sistemas de risco para bancos. Por enquanto, tem como cliente apenas o
Banco do Brasil, para o qual instalou um sistema de risco no ano passado.
Mas este ano resolveu voltar-se para as fundações. “Para nós, as
fundações representam o futuro. O mercado de previdência privada é um
grande nicho”, diz o consultor de desenvolvimento da empresa, Juan
Zebarros.
Casamento – A Algorithmics está criando novos sistemas de risco para
atender necessidades específicas das fundações, entre os quais um que
atrela os resultados dos ativos às exigências do passivo. O trabalho de
consultoria consiste em adaptar o modelo às características da entidade,
que são distintas.
“Cada fundo de pensão tem vários riscos em relação ao seu passivo,
como um plano de demissão voluntária na patrocinadora, por exemplo. É
como se ele estivesse vendido numa grande renda fixa, que precisa ser
bem quantificada”, ilustra Zebarros.
O casamento do ativo e do passivo previdenciário num sistema integrado
de gestão é o novo desafio dos consultores de fundos de pensão. Além
de já ser uma prática comum lá fora, a aprovação do modelo de gestão
de investimentos (MGI), elaborado pela Secretaria de Previdência
Complementar (SPC), tornará esse casamento uma regra, explica ex-
coordenador de sistemas de informação do órgão, Antônio Fernando
Gazzoni.
Modelo de gestão – Segundo ele, que saiu da SPC no final do ano
passado e montou sua própria consultoria, a Gama Consultoria, o novo
modelo de gestão de investimentos vai exigir que as fundações contratem
um avaliador de gestão para atuar como uma espécie de auditor da
política de investimentos. “As entidades vão precisar de um especialista
que atenda a todas as suas necessidades, que saiba olhar para todas as
áreas”, diz Gazzone.
De acordo com o ex coordenador da SPC, esse novo perfil de consultoria,
que une conhecimentos de finanças, risco, atuária e informática, deve
gerar uma onda de fusões e associações entre as várias empresas que
atuam nesses segmentos no mercado.
Pelo menos um desses negócios já ocorreu. A Ernst Young acaba de
anunciar uma parceria com a Cumerlato & Schuster, empresa gaúcha de
desenvolvimento de sistemas de informática, que tem entre os seus
clientes a fundação Regius (BRB). Da associação, surgiu o sistema
Pension, que integra todas as áreas da entidade. Os consultores da Ernst
Young entram ajudando no planejamento estratégico do fundo, explica o
diretor de financial services da empresa, Nelson Hirano. “Esse mercado
deve crescer muito”, acrescenta.
Para o consultor Carlos Muniz, um dos pioneiros no mercado de
consultoria financeira, fundações e instituições financeiras já estavam
evoluindo rumo à padrões internacionais de gestão de investimentos
mesmo antes do modelo da SPC. “O mercado vem se sensibilizando com
respeito a esse tema. Os bancos já sabem que não adianta chegar numa
fundação e dizer ‘eu sou o número um’ e pronto”, diz.
Muniz criou sua consultoria, a Cecorp Consulting, em 1992. Em 93,
conseguiu seu primeiro cliente nesse mercado, a fundação IBM, com quem
trabalha até hoje. A Cecorp desenvolveu, ainda, trabalhos para as
fundações Petros (Petrobrás), Enersul, Baneses (Banco do Estado do
Espírito Santo), e São Bernardo (grupo Saint Gobain).