Plano CD leva a gestão mais conservadora

Edição 52

Fundações que adotam planos de contribuição definida acabam optando
por uma administração mais conservadora

A criação de um plano de contribuição definida (CD) pode provocar uma
série de mudanças na gestão dos investimentos de um fundo de pensão.
Em geral, fundações que promovem a migração entre planos passam a
adotar estratégias mais conservadoras para orientar a carteira de
investimentos.
Na maioria das vezes, as alterações começam a ocorrer antes mesmo da
criação do novo plano. Fundos nesta situação, como por exemplo a
Brasiletros e a Fasern, estão reduzindo o tamanho da carteira de renda
variável e evitando novos investimentos em imóveis. “Logo após o
término da migração dos participantes para o novo plano, pretendemos
iniciar a redução da carteira de ações para menos da metade do tamanho
atual”, revela Vitelmo Ferreira, diretor superintendente da Brasiletros
(fundação da Cia Elétrica do Rio de Janeiro).
As modificações não param por aí. Frequentemente, o processo de
terceirização na gestão dos recursos é acentuado para as fundações que
adotam o plano CD. A Telos e a Faelba são exemplos que demonstram
como a mudança de plano incentiva a contratação de administradores
externos (ver reportagem sobre a Faelba na página seguinte). Estas
terceirizações privilegiam, em geral, a formação de fundos exclusivos ou
carteiras administradas também com perfil conservador.
Nos primeiros seis meses do plano da Telos, os novos administradores
irão aplicar 100% dos recursos em renda fixa. A partir de julho deste ano,
os próprios participantes terão a oportunidade de escolher entre os perfis
conservador, moderado e agressivo para orientar a gestão de seus
recursos (ver reportagem na página 12).
No plano de contribuição definida, os riscos de déficit atuarial para a
fundação são praticamente eliminados, pois não há mais a garantia de
um benefício pré-estabelecido. Em tese, este fato permitiria uma maior
mobilidade para definir a estratégia dos investimentos, mas não é o que
ocorre na maioria dos casos. O que acontece de fato é que a rentabilidade
dos investimentos do fundo passam a ser acompanhados mais de perto
pelos participantes. A cobrança por melhores performances dos
investimentos da entidade é maior em comparação com o plano de
benefício definido. Por isso, as fundações tendem a adotar uma postura
mais cautelosa em relação às exposições ao risco e à liquidez da
carteira. “O participante do plano CD tem acesso constante ao rendimento
de suas cotas e, por isso, exerce maior cobrança sobre a fundação”, diz
Francisco Veiga de Medeiros, presidente da Fasern – fundação da Cia
Energética do Rio Grande do Norte.
Em função da perspectiva de criação do novo plano de contribuição
definida, a Fasern promoveu a redução da carteira de ações no decorrer
do ano passado. No início de 98 a fundação possuía 26% do total de
recursos aplicados em renda variável e no final do ano esse percentual
havia caído para 15%. A queda foi produzida, em parte, pela própria
desvalorização das bolsas em 98, mas uma parcela da carteira de ações
foi transferida para fundos exclusivos, constituídos majoritariamente por
ativos de renda fixa.
Com a conclusão do processo de migração de planos no mês de fevereiro
passado, a Fasern deve promover uma redução ainda maior da exposição
em renda variável nos próximos meses. O presidente da Fasern ressalva
que, além da mudança de plano, outro fator que vem motivando a venda
das ações é a alta volatilidade das bolsas.
A Brasiletros é outra fundação que tem projeto de reduzir a quantidade de
ações em virtude da implantação do plano de contribuição definida.
Atualmente, o fundo possui 28% do patrimônio aplicado em renda
variável, mas a meta é reduzir esse percentual para apenas 10%. Os
recursos da carteira de ações serão transferidos gradualmente para fundos
exclusivos, com predominância de renda fixa. “Estamos aguardando o
momento adequado para diminuir o tamanho de nossa renda variável,
transferindo os recursos para fundos exclusivos de perfil conservador”,
afirma Vitelmo Ferreira.
A entidade possui fundos exclusivos com quatro gestores externos. Estes
fundos receberão aportes adicionais a medida que haja a realização de
lucros com a venda de ações. A fundação tomou a decisão de trocar pelo
menos um dos gestores que está registrando desempenho mais fraco que
os outros. “Vamos substituir um ou dois administradores nos próximos
meses”, revela o diretor superintendente da Brasiletros.

Rejeitando imóveis – Outra atitude comum verificada nas fundações que
criam planos de contribuição definida é o congelamento da carteira de
imóveis. Um dos motivos para não investir em imóveis é a
descapitalização que se provoca na carteira de investimentos. “Depois da
mudança de plano estamos evitando investir em imóveis, devido aos
prazos de retorno que são mais longos se comparados aos de outros
ativos”, diz Paulo Roberto Leite Ferreira, presidente da Escelsos (fundação
da Escelsa – Espírito Santo Centrais Elétricas). Ele explica que os negócios
imobiliários mais vantajosos são aqueles onde a fundação investe no
início da obra, mas isso produz, em contrapartida, uma descapitalização
dos recursos aplicados.
Em relação ao rendimento das cotas dos participantes, o rendimento dos
recursos investidos no imóvel ficará estagnado durante o prazo de
maturação do negócio, que costuma durar vários anos. “Deixamos de
entrar em alguns projetos imobiliários por causa da imobilização dos
recursos, embora mostrassem boas perspectivas de retorno”, afirma o
presidente da Escelsos.
Outra fundação que está evitando entrar em novos negócios imobiliários é
a Faelba. A fundação está buscando dar maior liquidez à carteira de
investimentos e, por isso, não pretende aumentar a participação em
imóveis. Nos planos de contribuição definida, a saída de participantes e o
resgate das reservas são mais frequentes e, por isso, as fundações
precisam manter uma carteira mais líquida.

Escolha do participante – Em alguns novos planos de contribuição definida
implantados nos últimos dois anos, o participante tem a possibilidade de
escolher o perfil do investimento de suas cotas. Nestes casos, a
determinação do nível de exposição ao risco fica compartilhado entre o
fundo de pensão e o participante. Os perfis oferecidos por estes planos
quase sempre possuem uma margem para flutuação, o que permite a
interferência do fundo na gestão dos recursos.
Nestes fundos de pensão ainda não é possível delinear uma tendência
acentuada de migração para o perfil mais conservador, ainda que em
alguns casos comece a haver uma movimentação discreta. Na Múltipla,
fundo multipatrocinado do Credibanco, por exemplo, uma pequena parte
dos participantes mudaram dos perfis moderado e agressivo para o
conservador. Na última mudança de perfil, efetuada pelos participantes da
Múltipla no final do ano passado, o perfil conservador subiu de 23% para
27%. Na outra ponta, o percentual de participantes que escolheu o perfil
moderado caiu de 68% para 66% e do agressivo de 9% para 7%.