Edição 227
Fundos de pensão, gestores de recursos e consultorias participam de rodada de debates sobre a revisão semestral da política de investimento para a segunda metade de 2011
Dias melhores virão. Pelo menos esse foi o tom dos especialistas que participaram do primeiro de uma série de eventos promovidos entre maio e junho por Investidor Institucional. O “Fórum Investidor: Revisando os Portfólios 2011” teve sua primeira edição realizada em São Paulo (SP) no dia 31 de maio, e passa por Rio de Janeiro (RJ), Brasília (DF), Florianópolis (SC) e Recife (PE), encerrando a rodada pelas capitais em 28 de junho.
Abrindo os trabalhos em São Paulo, Otávio Aidar, economista da Mirae Asset, falou sobre a mudança de foco na economia global, com os países emergentes puxando o crescimento mundial enquanto as economias desenvolvidas enfrentam dificuldades para mostrar uma recuperação sustentada. “A zona do euro sofreu muito com a crise, passou por uma certa retomada, mas ainda passa por uma situação complicada. Há países, como a Alemanha, que praticamente já voltaram ao patamar pré- crise. Por outro lado, há aqueles como Grécia, Portugal e Irlanda, que ainda vêm sofrendo”, apontou ele, ao lembrar que os Estados Unidos também vêm apresentando uma recuperação mais forte.
Em relação ao Brasil, o economista defendeu que a inflação ainda preocupa e o crescimento da economia, apesar de permanecer em um patamar elevado, já começa a desacelerar. Mesmo assim, a perspectiva para o avanço do lucro das empresas é boa, fator que aliado ao nível atual dos preços das ações das companhias leva à conclusão que de que a Bolsa está barata.
Para Eduardo Câmara Lopes, CEO da Ashmore do Brasil, a projeção é de boa rentabilidade para a renda variável, uma vez que a Bolsa ainda deve “andar bastante”. Ele lembra que o ano começou conturbado no ambiente internacional devido às revoltas populares no Oriente Médio e no norte da África e ao terremoto seguido de tsunami e acidentes nucleares no Japão. “Por outro lado, vimos uma evolução do S&P, e um movimento de saída de dinheiro de países emergentes rumo à renda variável em economias desenvolvidas”, disse ele, apontando a inflação como grande tema de preocupação em relação aos emergentes.
Mais especificamente no Brasil, o começo do ano também gerou uma certa incerteza, na opinião de Lopes, por conta da troca de governo. “Por mais que o governo seja continuidade, houve mudanças no Banco Central.
Agora, a relação entre a Fazenda e o BC tem menos ruído, mas também menos contraponto. Outros instrumentos além do aumento dos juros estão sendo utilizados para controlar a inflação – são as chamadas medidas macroprudenciais. O mercado ainda não sabia o que esse novo governo faria para tentar frear a alta de preços e essa incerteza acabou sendo precificada nos ativos de renda variável”, concluiu. Lopes completou que, por enquanto, existe uma espera para ver se as medidas macroprudenciais vão surtir o efeito esperado. “Há também uma expectativa quanto à volta do investidor estrangeiro. Acredito que o segundo semestre vai ser importante para a renda variável no Brasil”, apontou.
Novatas – Além da inflação, da incerteza quanto ao novo comando do País e da migração de recursos para outros mercados, um fator que pode estar prejudicando a Bolsa brasileira é a realização de novas ofertas de ações. A tese foi defendida por Frederico Tralli, responsável pela área de renda variável do BNP Paribas Asset Management Brasil. “Apesar de serem positivas no longo prazo, as ofertas acabam disputando a atenção do investidor com as ações já listadas quando os recursos não são tão abundantes. Nos primeiros meses desse ano, as ofertas já somaram cerca de R$ 13 bilhões, e temos visto um pipe-line de R$ 16 bilhões a R$ 20 bilhões. Isso pode causar com concorrência”, argumentou Tralli.
Mesmo assim, ele vê um cenário mais positivo para a Bolsa brasileira na segunda metade do ano. O executivo se diz relativamente mais otimista com os Estados Unidos para os próximos meses e aponta para um crescimento global acima de 4% para 2011 e 2012, apesar de não acreditar em uma reestruturação da dívida dos países europeus. Em relação à China, a expectativa é de crescimento anual da ordem de 8,5%.
Tralli também vê um panorama mais “benigno” em termos de inflação para o segundo semestre. “E boa parte da pressão inflacionária já está precificada nos ativos de renda variável”, endossou. Por isso, o executivo considera que a Bolsa está atrativa. “Já há uma melhora na expctativa de lucro das empresas em abril, apesar de o nível de custo preocupar. Esse é um ponto a ser observado”, advertiu.
Para Tralli, a preferência na Bolsa é por as ações de empresas cujas atividades estão ligadas à economia doméstica e em setores com melhor visibilidade de lucros, como construção civil, bancos, infraestrutura e telecomunicações, por exemplo. “Em consumo estamos mais seletivos, porque o segmento já não está tão atrativo”, detalhou. Ele ainda vê alguma volatilidade no setor de commodities prefere apostar em mineração do que em siderurgia. Mais especificamente sobre construção civil, Tralli apontou que o setor continua interessante, uma vez que o ambiente macroeconômico permanece favorável e ainda há uma baixa penetração do crédito.
Renda fixa – O mercado imobiliário também mereceu destaque na apresentação de Arturo Profili, sócio-diretor da Capitânia Investimentos.
Ele informou que hoje, dos R$ 1,5 trilhão da indústria de gestão de recursos, cerca de R$ 200 bilhões referem-se a instrumentos diferenciados de renda fixa, como FIDCs, CRIs, CCBs, Fundos de Investimento Imobiliário e debêntures colateralizadas. “Esse segmento já se tornou bastante significativo, o que contribuiu para sua sofisticação, inclusive sob o ponto de vista de melhores práticas. Houve um aumento no número de emissores e de transações, além de uma diversificação nos tipos de operações”, constatou.
Profili lembrou que a estabilidade econômica, o aumento do emprego e da renda e o bônus demográfico vão sustentar o crescimento da economia brasileira e, por outro lado, ampliar a necessidade de investimento. “Há dinheiro disponível para capitalização via equity, mas 70% da dívida de longo prazo no Brasil é provida pelo BNDES. Quem vai ocupar esse espaço é o mercado de capitais, incluindo os instrumentos de renda fixa”, projetou.
Ele destacou que os players do setor imobiliário devem se beneficiar do aumento da utilização de instrumentos de renda fixa para obtenção de funding, já que estão relacionados a operações seguras, sem risco sistêmico e que geram retorno de inflação mais algo entre 9% e 11%. “Falta capital de longo prazo para esses players, por isso os instrumentos mais sofisticados de renda fixa estão ganhando espaço”, indicou. Profili acrescentou que o mercado de crédito privado, de maneira geral, já cresceu bastante, e com segurança deve dobrar no Brasil.
Quase 100 pessoas participaram deste primeiro fórum promovido por Investidor Institucional em 2011. O evento conta com patrocínio de Ashmore, BB DTVM, BBM Investimentos, BNP Paribas, Capitânia, Claritas, Mirae Asset e Pine, além de apoio da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap) e Associação Nacional das Entidades de Previdência dos Estados e Municípios (Aneprem).
Economus detalha alocação Paulo Julião, diretor de investimentos do Economus, fez uma apresentação da carteira da entidade. O total de recursos para investimento da fundação somava R$ 3,93 bilhões no fim de março. A maior parte desse montante (81,21%) está alocada em renda fixa. “Entre 2002 e 2003, colocamos o equivalente a 85% do nosso patrimônio daquela época em NTN-Cs compradas diretamente do Tesouro Nacional.
Para vocês terem uma ideia, os papéis tinham cupom de 10,22%.
Raspamos nosso cofre para aproveitar a oportunidade”, disse Julião. Hoje, as NTN-Cs respondem por cerca de 60% do patrimônio da fundação.
Como os títulos públicos já não garantem o mesmo prêmio de outros tempos, o Economus tem de diversificar. Tanto é que a fundação conta com cerca de R$ 282 bilhões em crédito privado, além de R$ 683,93 milhões em fundos de investimento que garantem liquidez à carteira. “Nem sempre os quatro fundos que temos geram um ótimo retorno, mas na média conseguimos uma diversificação interessante sem prejudicar nossa rentabilidade”, justificou.
Na renda variável (que corresponde a 14,55% do total), pouco mais de R$ 110 milhões estão em uma carteira própria de ações e R$ 461,62 milhões em fundos. “Trabalhamos com gestores que buscam gerar alpha, adicionar valor, e também aqueles de beta, que acompanham o Ibovespa e o IBrX”, detalhou.
Julião revelou ainda que a entidade tem se “aventurado” mais no segmento de investimentos estruturados. São mais de R$ 172 milhões comprometidos para a categoria, dos quais R$ 74,7 milhões já estão aplicados. Entre eles estão Fundos de Investimento em Participações (FIPs), Fundos Imobiliários e multimercados (leia mais na página 28).
O recado deixado por Julião é que as entidades precisam se abrir para novas oportunidades. “A gestão conservadora não pode existir.
Respeitadas as características e necessidades de cada plano, é preciso experimentar novos investimentos. Precisamos receber os gestores e saber o que eles têm a oferecer. No Economus não existe aquela história de não vi e não gostei.”
São Paulo prepara fundo fechado para servidores Diferente do modelo adotado pela maioria dos estados e municípios, o governo de São Paulo deve propor a criação de um fundo fechado para administrar a aposentadoria dos servidores públicos estaduais. Enquanto os estados seguem o modelo de segregação de massas iniciado ainda no fim dos anos 1990 com a criação da Paranaprevidência (Paraná), o projeto de São Paulo pretende instituir um fundo para oferecer planos de contribuição definida para os novos servidores. “Queremos criar uma entidade fechada voltada para administrar planos complementares para os novos servidores. Calculamos que cerca de 30% dos futuros servidores, com remuneração acima do teto da previdência social, poderão participar do fundo”, disse em sua palestra Carlos Henrique Flory, presidente da SPPrev, órgão responsável pela previdência dos servidores do Estado de São Paulo.
O dirigente prevê que a nova entidade deve contar com a participação de 200 mil servidores e tem o potencial de formar um patrimônio maior que os atuais fundos de pensão de estatais. “Se já estivesse constituída para os atuais servidores, teria um patrimônio de cerca de R$ 285 bilhões, mais que o dobro do maior fundo de pensão brasileiro, a Previ”, comparou Flory. Se a entidade fosse criada hoje, esse número de participantes seria atingido em cerca de 12 anos, quando os atuais servidores serão substituídos por causa da idade de aposentadoria. O novo fundo de pensão, batizado com o nome provisório de Prevcom, deve contar com a participação de profissionais de maior renda das esferas dos três poderes civis e militares, tais como juízes, procuradores, coronéis e professores universitários, entre outros.
O projeto pretende equacionar o déficit dos servidores de São Paulo, que ficou na casa dos R$ 8,2 bilhões em 2010. “De acordo com o artigo 40 da Constituição Federal, qualquer ente da federação pode instituir o teto do INSS, desde que ofereça uma previdência complementar aos servidores”, lembrou Flory. O dirigente explicou que o novo fundo segue os modelos estabelecidos pelas Leis Complementares 108 e 109, a exemplo do modelo que o governo Lula tentou aprovar, sem sucesso, para os servidores públicos federais.