Edição 227
Fundações deveriam aproveitar o bom momento da economia interna para aprender a investir internacionalmente
O inglês John Troiano, chefe global de negócios institucionais da Schroders, sabe que hoje em dia não há uma grande necessidade de os fundos de pensão brasileiros investirem fora. No entanto, sua experiência internacional o leva a crer que a tendência é de que as condições mudem daqui a um tempo – e, talvez, seja tarde demais para começar a ensaiar uma investida além das fronteiras do Brasil. Na sua opinião, o aprendizado já teria de ser iniciado agora.
Seu ponto de vista é de que vivemos um bom momento atualmente, mas isso pode mudar rapidamente. Conhecedor do Brasil desde os anos 1980, quando visitou o Rio de Janeiro pela primeira vez com um amigo de faculdade que namorava uma brasileira, ele intensificou esse relacionamento quando começou a investir por aqui, no início dos anos 1990, ainda durante os anos Collor. Por isso, lembra que, em um passado recente, o País não passou tão bem pelas crises como em 2008. “Foi um período em que o Brasil ainda estava em um patamar terrível. Por isso, sei que é possível imaginar algumas situações que venham a ocorrer que não sejam tão boas”, afirma, colocando um controle fraco da inflação como principal exemplo dessa teoria.
Mesmo sem recorrer a essa situação extrema, o britânico sabe que haverá, em algum momento, um período de maior dificuldade, e defende que os investimentos no exterior podem proporcionar diversificação aos ativos dos aplicadores brasileiros. Sua proposta é que uma pequena parte do patrimônio seja usada com este fim. “Os benefícios da aprendizagem e da compreensão de como esses mercados funcionam, a partir de um investimento inicial, são uma razão poderosa para isso começar a ser feito, mesmo com as taxas internas muito alta atualmente”, argumenta.
Olhando para a experiência de países próximos ao nosso, ele recorda que o Chile passou por uma situação semelhante recentemente. Mesmo com um forte crescimento interno em seu país, investidores chilenos acabaram procurando oportunidades de investimento em outros mercados. “Os chilenos escolheram entrar em lugares que também cresceram muito rapidamente, como Ásia, Brasil e outros países da América Latina”, compara.
A própria diversificação de ativos que vêm ocorrendo nos mercados desenvolvidos é um bom argumento para Troiano. Se há algum tempo, nos maiores mercados, havia apenas opções de investimento em dívida, ações e mercado imobiliário, nos últimos cinco anos houve uma ampliação do leque, com fundos de hedge, estratégias de long and short, private equity e commodities. “No momento, o dia está ensolarado e não é preciso um guarda-chuva. Mas quando vier uma tempestade, pode ser difícil achar proteção por um bom preço”, insiste.
Migração – Para o executivo, esse acesso aos mercados externos deve ser feito sem que haja aumento nos riscos, alocando uma pequena parcela da renda variável externamente. Ele cita que, no Brasil, as dez principais posições do IBrX concentram entre 85% e 90% do índice, enquanto lá fora, os benchmarks são mais pulverizados, com as dez principais posições representando menos de 20% dos indicadores. “Nossa visão é de que é possível fazer uma pulverização com qualidade efetivamente melhor, procurando objetos globais, que diversifiquem o risco”, sugere ele, ao indicar um processo que classifica como educacional, de estudo dos mercados em um primeiro momento, antes de iniciar uma migração dos investimentos.
Troiano ainda é categórico ao afirmar que não há nenhum país importante no mundo cujos fundos de pensão não tenham feito investimentos no exterior, buscando a diversificação e a rentabilidade. “Hoje em dia, o argumento não é tão forte para mover o dinheiro, mas chegará o momento oportuno para investimentos maciços. Primeiro, é necessário entender o funcionamento disso, para depois mirar em áreas com grande estrutura para crescer.” Vale lembrar que a Schroders está com um fundo no Brasil dedicado a investimentos no exterior. Trata-se de um multimercado que comprará cotas de um produto da gestora registrado em Luxemburgo e gerido a partir da asset em Londres. Esse produto, o Schroder Global Equity Alpha, investe em ações seguindo três temas: super ciclo, mudanças demográficas e mudanças climáticas.