Dando os primeiros passos

Edição 227

Fundos de pensão já preveem espaço para investimentos no exterior em suas políticas e começam a estudar as alternativas possíveis para concretizar aplicações no segmento

Passado algum tempo desde a ampliação do limite para apli-cações no exterior, os fundos de pensão começam a olhar a possibilidade de aplicar fora com alguma simpatia. É verdade que a maioria ainda tem muitas dúvidas sobre esse tipo de investimento, mas há quem já esteja prestes a experimentar o mercado lá fora.
Esse é o caso, por exemplo, do Metrus. Fábio Mazzeo, presidente do instituto, revela que a entidade deve investir em um fundo do Société Générale que tem parte dos ativos aplicada no exterior. “Estamos estudando esse produto e a ideia é entrar nele sim, caso seu funding seja completado”, aponta o dirigente.
Em outubro do ano passado, Investidor Institucional publicou uma matéria que falava sobre o Perseu Principal Protegido, um fundo fechado da Société Générale com duração de cinco anos e que investe em três modalidades diferentes: Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) e Letras Financeiras (LFs) no Brasil, títulos do Tesouro Nacional e warrants emitidas pelo Société Générale Corporate & Investment Banking (SGCIB).
Ao fim de cinco anos, o fundo devolverá aos investidores o capital inicialmente aplicado corrigido pelo IPCA, acrescido de 100% da rentabilidade do Perseu Global Fund, um veículo constituído lá fora. Caso o Perseu Global Fund venha a gerar, eventualmente, uma rentabilidade negativa, o valor que será contado para efeitos de resultado no Perseu Principal Protegido é zero. O fundo global, registrado no exterior, aplica recursos em gestores independentes que compõem a plataforma da Lyxor Asset Management, empresa do Société.
“A vantagem é a falta de correlação com as aplicações que temos no Brasil”, aponta Mazzeo. O presidente do Metrus comenta que o Société tem uma plataforma grande de hedge funds lá fora e pode, com isso, trazer uma diversificação maior para a carteira. Ele avisa, no entanto, que esse será um investimento feito com uma pequena parcela do patrimônio, com os recursos saindo do plano de Contribuição Variável (CV) da entidade. Além do Société, também o BNP Paribas é candidato a receber recursos do Metrus para fundos de investimento no exterior. Mazzeo informa que a aplicação ainda não está decidida, mas está sendo analisada pela entidade.

Pelo menos na política – Outras entidades também estão estudando aplicar recursos fora do Brasil, garante Rafael Bardella, executivo da asset do BNP Paribas. “Boa parte das fundações já inclui, na sua política de investimentos para 2011, a possibilidade de investir no exterior. A maioria delas permitiu um percentual abaixo dos 10%, mas várias já evoluíram e colocou isso na política. Muitas estão ainda em uma fase de discussão interna sobre como controlar essa estratégia, que benchmark vai ser utilizado ou qual percentual de alocação faz sentido”, comenta.
A Previ-Ericsson é uma delas. Bruno Ribeiro, analista financeiro da fundação, conta que o fundo de pensão já possui em sua política de investimentos abrangência para concretizar investimentos no exterior. “Contudo, por ser um novo segmento, sobre o qual a discussão ainda está no inicio e também a regulamentação não é muito favorável, a entidade está em uma fase de aprendizagem, procurando conhecer os riscos e a compensação ao tomá-los”, afirma Ribeiro. Ele acrescenta que o momento econômico ainda é incerto, tanto para o mercado doméstico quanto para o internacional, o que gera ainda mais dúvidas a respeito de investimentos fora do País. “No entanto, é entendido pela entidade que esse será um segmento muito utilizado com o passar dos anos, e que ajudará os fundos de pensão a atingir suas metas atuariais e também a diversificar seus portfólios”, sinaliza.
Na Fundação Cesp, o momento também é de estudar esse tipo de ativo. “Por enquanto, estamos analisando as alternativas e os aspectos operacionais. Estamos fazendo a lição de casa”, diz Jorge Simino, diretor de investimentos da entidade. A diferença é que, no caso da fundação, a hipótese ainda não está nem prevista em política. “Para agregar essa possibilidade à política, precisamos antes apresentar a proposta para as instâncias de governança, que vão questionar todos os aspectos. Temos que ter tudo na ponta da língua”, afirma. Ele lembra que há várias maneiras de se aplicar recursos no exterior, o que acaba levantando uma série de dúvidas. “Para onde vamos? Que tipo de fundo vamos comprar? Temos recebido a visita de vários gestores, que são desde fundos de ações da Ásia, de commodities, até renda fixa e private equity. Há um leque de opções gigantesco e nós precisamos analisar as opções”, pondera.
Simino adianta que no horizonte de 12 a 24 meses a Fundação Cesp não deve entrar no segmento. “É um processo complexo, não vai acontecer da noite para o dia. Mesmo porque, todo mundo vê que as oportunidades estão aqui, muitos estrangeiros estão vindo para o Brasil”, aponta.

Como, quando, onde – Em um seminário promovido recentemente pela SulAmérica Investimentos, Silvio Rangel, diretor superintendente da Fibra – Fundação Itaipu-BR, fez uma apresentação sobre suas impressões a respeito do investimento no exterior. Ele revelou que, hoje, há mais perguntas do que respostas. “A primeira delas é “por que?”. Será que as oportunidades no exterior vão mesmo melhorar a eficiência da nossa carteira? Precisamos de mais elementos técnicos que comprovem isso”, afirmou Rangel, levantando dúvidas sobre como esses ativos se encaixariam no ALM das entidades. Outra pergunta é o “quanto?”. “Podemos chegar à conclusão de que essa aplicação faz sentido, mas que valor deve ser alocado? Será que um pequeno percentual é suficiente para gerar mais eficiência?”, indagou o dirigente.
Há ainda a questão do “quando”. Sob o ponto de vista do câmbio, pode ser que o momento seja favorável, uma vez que os ativos em dólar estão relativamente “baratos” por conta da apreciação do real. Em compensação, o cenário externo ainda gera muitas dúvidas. “O Brasil ainda é visto como um grande mercado de oportunidades. Precisamos de mais elementos para responder a essa pergunta do quando”, indicou.
Rangel indagou ainda “como” isso seria feito, questionando a “transparência, governança e disclosure” das informações do mundo desenvolvido.
Por fim, vem o “onde”. Nesse caso, a dúvida é entre as estratégias apresentadas. Seria mais eficiente aplicar de acordo com os países em que os ativos estão ou seguindo uma tese internacional? Faria sentido o investimento por região? Rangel ponderou, por fim, que a tendência é que a aplicação no exterior aconteça, mas a decisão precisa ser tomada de forma cautelosa. “Isso precisa ser feito de forma responsável. E por enquanto, não temos respostas para muitos desses pontos”, concluiu.