Edição 219
A fundação Refer – Rede Ferroviária de Seguridade Social está promovendo uma reformulação de sua carteira de investimentos que deve privilegiar principalmente o crédito privado. Atualmente, o fundo de pensão conta com uma carteira de renda fixa altamente concentrada em títulos públicos pós-fixados, com perspectiva de vencimento ao longo dos próximos meses e no decorrer de 2011. Por isso, a estratégia traçada vai no sentido de diluir essa concentração por meio do aumento de exposição a outras classes de ativos ao longo dos vencimentos dos títulos públicos.
A entidade, que tem um patrimônio de R$ 2,3 bilhões e administra oito planos de benefício, aloca hoje em dia cerca de 10% de sua carteira em crédito privado, entre 15% e 20% em renda variável e o restante em títulos do Tesouro pós-fixados. A busca por incremento das posições em crédito privado se dará principalmente em ativos indexados a índices de preços e com garantias reais, como imóveis. Sílvio Assis de Araújo, coordenador de investimentos do fundo de pensão, classifica a existência dessa última condição como fundamental para o crescimento das operações da fundação com ativos privados. Ele reforça, ainda, que haverá um foco grande também no rating das transações.
Araújo explica que o fato de os planos administrados pela fundação já serem considerados maduros gera a necessidade de se buscar investimentos que garantam um certo fluxo, além de liquidez. Por isso, mesmo quando há o alongamento de algumas posições, ele não pode ser muito grande, por haver uma demanda de recursos no curto prazo para pagar os benefícios aos assistidos. No momento, o fundo de pensão está fazendo o seu ALM para 2011 e, a partir dele, serão definidos os espaços que cada classe de ativos ocupará na carteira da Refer. Araújo adianta, no entanto, que “já há a sensibilidade de que será necessário correr mais risco de crédito e de Bolsa para rentabilizar o patrimônio”. “A questão da maturidade dos planos é importante na definição do ALM e das aplicações.
Fazemos investimentos de longo prazo, mas não tão longo como os de outros institucionais, que têm operações com vencimento em 10, 15, ou 20 anos”, compara. Segundo o coordenador, a fundação procura alocar em operações com um duration que não seja superior a cinco anos.
Para Araújo, essa característica específica da fundação explica os investimentos feitos anteriormente e também a necessidade de migração.
“Temos um histórico de grande concentração nos títulos públicos federais, principalmente as NTNs, que tinham cupons extremamente interessantes no passado recente e, que nesse momento, já não existem mais. Ficou muito claro que esses títulos deixaram de ser interessantes e nós entendemos, como a maioria do mercado, que teremos que reciclar esses investimentos”, resume.
Renda variável – Para conseguir a rentabilidade necessária com uma dependência menor dos títulos públicos, a Refer também programa um aumento da sua exposição a renda variável. Apesar de o ano ter sido marcado pela volatilidade na Bolsa, a visão do fundo de pensão sobre essa classe de ativos é positiva. “Acreditamos que o viés da Bolsa é de alta, com um maior grau de acerto para 2011. Consideramos que vale a pena estar alocado em ações e iremos aumentar um pouco o percentual atual da nossa exposição a renda variável ”, reforça Araújo.
Apesar de ainda não ter definido quais os setores que devem ser alvo de investimentos na renda variável, o executivo tem claro que as empresas voltadas para o mercado interno já estão próximas de uma saturação.
Segundo ele, a perspectiva de crescimento da economia puxada pelo consumo interno já levou a uma precificação de ações de companhias desse tipo (leia mais na página 48). Por isso, a Refer deverá buscar uma diversificação maior em termos de setores no que se refere às aplicações em ações. “O mercado todo está trabalhando com empresas voltadas para a economia interna. Essa é a tônica atual, e isso levou boa parte dessas ações a se valorizar muito. Vemos pouco espaço para novas altas no setor”, indica. Araújo completa que será realizado um “estudo bastante profundo” para definir em quais papéis a fundação deve investir. Ele não acredita, no entanto, que haverá um setor específico de grande representatividade na carteira da entidade.