Migrações em alta | Operações societárias nas patrocinadoras ou d...

Edição 216

 

Movimentações societárias envolvendo patrocinadoras e concentração das companhias em seu ramo principal de negócios são dois fatores que têm levado à migração de planos de previdência complementar para entidades multipatrocinadas. O Multiprev – Fundo Múltiplo de Pensão, da MetLife, é um exemplo de fundo que vem ganhando mais adeptos recentemente devido a esses dois fenômenos.
Para se ter uma ideia, nos últimos doze meses foram conquistados três novos planos, que somam cerca de R$ 110 milhões de patrimônio, justamente patrocinados por empresas que possuíam ou participavam de entidades próprias de previdência e que estão migrando para o modelo multipatrocinado para reduzir custos e responsabilidades. Em março deste ano, o Multiprev contava com R$ 1,73 bilhão em patrimônio administrado.
Dois casos distintos podem ilustrar bem essa tendência que já vem sendo constatada nos últimos anos: um deles é o da Akzo Nobel, que fechou sua entidade própria de previdência e transferiu o plano para o Multiprev.
O outro é o da Veyance Technologies do Brasil, cujo plano antes ficava dentro do fundo de pensão próprio da Goodyear e passou aos cuidados do fundo da MetLife.

Redução de custos – A transferência do plano de previdência de uma fundação própria para o Multiprev fez com que o Grupo Akzo Nobel economizasse R$ 800 mil em despesas relacionadas à gestão operacional do plano de benefícios. A informação é de Ricardo Werner Marek, managing director da Akzo Nobel Ltda.
Ele conta que assumiu o posto de diretor-superintendente da Akzoprev, entidade fechada de previdência complementar do grupo, em 2007 – o fundo de pensão foi criado em 1994. “Passei a ocupar esse cargo no Akzoprev paralelamente a outras atividades que desempenhava no grupo.
De início, procurei entender o funcionamento da gestão operacional e dos ativos do fundo e comecei a fazer uma avaliação das práticas que vinham sendo adotadas pelo mercado. Pesquisei quem seriam os parceiros que poderiam fazer esse tipo de trabalho, seja a gestão do ativo ou a operacional, com melhor eficiência e menor custo”, lembra o executivo. Foi assim que a companhia chegou ao Multiprev – e também à Western Asset, responsável pela gestão dos ativos do plano.
Marek conta que fez uma sondagem com vários competidores do mercado e acabou optando por esses prestadores de serviço. O início do processo foi em junho de 2007, com término em setembro do mesmo ano. “Depois veio todo o trâmite com a então Secretaria de Previdência Complementar (SPC), até que em março de 2008 o Multiprev já estava com toda a gestão do nosso plano”, recorda.
Ele explica que, na época da Akzoprev, havia um grupo de funcionários dedicados à gestão da entidade. “Além disso, existiam os custos com espaço físico, sistemas, auditorias e assim por diante. Tudo isso é o que nós chamamos de custo operacional. Ao transferir o plano para o Multiprev, foi aí que tivemos uma economia de R$ 800 mil ao ano”, aponta.
O executivo comenta, no entanto, que a redução de gastos não é a única vantagem encontrada pela companhia na migração para um fundo multipatrocinado. “Tem também a questão do chamado core business. A Akzo Nobel atua no segmento de produtos químicos. Então, nossa decisão como diretores da companhia foi de buscar uma entidade que tivesse expertise e background na gestão de planos de pensão. Não que nós não pudéssemos fazer isso, mas o meu tempo é muito mais válido se for dedicado a atividades dentro do grupo Akzo Nobel do que propriamente fazendo a gestão do plano”, opina. Ele reforça, no entanto, que mesmo com a terceirização dos serviços, todo trimestre é realizada uma reunião com os gestores para que a companhia possa fazer um acompanhamento dos investimentos e retornos do plano. “Nós criamos um comitê dentro do grupo para monitorar a gestão dos ativos”, cita Marek.
Na Akzoprev, quem fazia a gestão dos recursos eram assets de três grandes instituições financeiras: HSBC, Itaú e Unibanco. “Nós delegávamos a gestão para eles, que tinham um mandato de aplicações que respeitava a nossa política de investimentos. Hoje, o mesmo acontece com a Western”, afirma o executivo.

Fusões, cisões, incorporações – Além de ter transferido um plano de sua entidade própria, o Grupo Akzo Nobel também se encaixa na categoria de quem passou a utilizar os serviços de um fundo multipatrocinado após uma fusão ou aquisição. Isso porque, em 2008, a companhia adquiriu o ICI – conhecido no Brasil pela fabricação das tintas Coral.
A empresa oferecia aos funcionários um plano de previdência chamado Coralprev, cuja administração ficava a cargo do fundo multipatrocinado do HSBC. Agora, esse plano também está sendo transferido para o Multiprev, para que em um segundo momento os dois planos se unam em um só. “Não seria esperto de nossa parte manter dois fundos distintos com dois gestores, até por uma questão de melhor monitoramento e controle. Por enquanto, estamos cuidando da transferência do Coralprev do HSBC para o Multiprev. A próxima fase será a unificação dos dois planos em um só”, indica Marek. Segundo ele, os dois planos somam R$ 150 milhões em patrimônio e uma massa de 1.700 colaboradores dentro de um universo de 2.500 funcionários de todo o grupo. Ambos os planos estão constituídos na modalidade de Contribuição Definida (CD).
O caso da Veyance Technologies do Brasil é semelhante ao do Grupo ICI.
Eduardo de Souza Campos, diretor de Recursos Humanos (RH) e assuntos corporativos para América Latina da Veyance, informa que a empresa foi criada a partir da venda de uma divisão de negócios da Goodyear há cerca de três anos. “Em julho de 2007, foi formalizada a aquisição dessa divisão de produtos de engenharia da Goodyear para o grupo Carlyle. E nós tínhamos um compromisso com os funcionários de que manteríamos os benefícios oferecidos pela Goodyear até então”, lembra o executivo. A Goodyear conta com uma entidade própria de previdência complementar, a Goodyear Previdência Privada.
“Quando nós viemos para a nova empresa, vimos que não teríamos porte para contar com um plano gerenciado pela própria companhia e que a melhor solução seria buscar no mercado alguém especializado na gestão de um plano de previdência complementar”, diz Campos. Ele revela que a Veyance teve a ajuda de uma consultoria no processo de escolha do prestador de serviços de administração do plano de previdência – no caso, o Multiprev. “Após uma análise junto ao consultor e ao nosso pessoal, concluímos que a alternativa pela Multiprev seria a mais adequada”, afirma. O executivo alega que a companhia não tinha nem massa nem experiência suficiente para criar um fundo de pensão próprio. A Vyance conta com 800 empregados, contra um total de 4 mil da Goodyear como um todo na época da cisão. “Nós não tínhamos tanto conhecimento a ponto de tocar um trabalho como esse de tanta responsabilidade. Não é esse o nosso negócio.” Hoje, o plano patrocinado pela empresa soma patrimônio de quase R$ 30 milhões.

Mudança positiva – José Rodrigues de Oliveira Junior, coordenador de Recursos Humanos da área de benefícios da Veyance, indica que a cisão entre a Goodyear e sua divisão de negócios ocorreu em julho de 2007. A autorização da SPC para a cisão do plano foi publicada no Diário Oficial da União no início de 2008, e em abril daquele ano foi feita a transferência da administração para o Multiprev. “Todo o patrimônio acumulado foi transferido dessa entidade da Goodyear para o fundo multipatrocinado”, lembra. Oliveira acrescenta que, na época na migração, o plano já havia passado da modalidade de Benefício Definido (BD) para CD. “A mudança ocorreu em março de 2006 e, quando mudamos para o multipatrocinado, já estávamos com esse novo desenho”, endossa. Ele comenta que na época da transferência o plano da Veyance não possuía participantes aposentados. Porém, pouco depois passamos a contar com o primeiro assistido. Isso coincidiu com a saída do plano da entidade da Goodyear e a implementação do novo, já no Multiprev. “No fim, esse aposentado acabou recebendo dois meses de benefício na entidade fechada e, hoje, recebe pelo multipatrocinado”, indica Oliveira.
Para o coordenador, passados dois anos já é possível dizer que a experiência com o multipatrocinado tem sido bastante positiva. “Dentro desse escopo, pudemos observar a função de cada um dentro do fundo. E a sensação de segurança é muito grande”, aponta.
Eduardo Campos acrescenta que havia um certo receio, por parte dos funcionários, de como funcionaria a previdência complementar além dos muros da Goodyear. “Havia uma preocupação grande, porque todos os funcionários conheciam o plano da Goodyear há muito tempo. Mas quando eles viram o novo plano acontecer na prática e constataram que funcionava direito, toda e qualquer dúvida foi realmente eliminada.
Podemos dizer que estão todos bastante satisfeitos”, comemora o executivo.