Fechados para balanço

Edição 190

Volatilidade nos mercados assusta os fundos de pensão que adiam, mais
uma vez, as aplicações em fundos multimercados agressivos, apesar de
estarem previstos na Resolução 3.456

Primeiro, um impasse em torno dos índices de referência admitidos para a
cobrança de taxa de performance emperrou a migração de recursos das
entidades de previdência fechada para os fundos multimercados
agressivos – autorizada pela Resolução 3.456 do Conselho Monetário
Nacional (CMN), em junho do ano passado. Resolvida a pendenga em
novembro, agora é a volatilidade dos mercados, detonada pela crise do
subprime, que vem freando o movimento de diversificação do portfólio
das fundações. “O momento pede uma postura mais conservadora”,
observa José Raphael Oliveira da Silva, diretor financeiro do Nucleos,
fundo de pensão da Eletronuclear.
O Nucleos chegou a adiantar em dois meses a data da reunião de
conselho para adaptar sua política de investimentos à 3.456. Era julho de
2007, e Silva estava bastante animado com a brecha aberta pela nova
resolução. “Para bater a meta atuarial, será inevitável buscar mais risco”,
declarou ele, na ocasião. A possibilidade de alocação nesses
multimercados “sangue-puro” era, de fato, uma antiga reivindicação do
mercado. Mas o estouro da bolha imobiliária deixou os dirigentes dos
fundos de pensão em estado de alerta. O sinal amarelo foi aceso ainda
no terceiro trimestre. “Desde então, estamos apenas acompanhando a
indústria” diz, hoje, um desconfiado Silva. “Não fizemos nenhum aporte.”
Tamanho receio tem lá suas justificativas. A média ponderada de
rentabilidade dos hedge funds não é das mais estimulantes. De acordo
com o índice de fundos multimercados elaborado pela consultoria Risk
Office, o retorno da categoria no segundo semestre do ano passado ficou
em 3,25%, equivalente a 59% do CDI. “Não cobre o mínimo atuarial da
fundação, que é de INPC mais 6%”, assinala Silva. O quadro era bem
diferente no primeiro semestre de 2007, quando os multimercados
apresentaram uma valorização média de 7,77%, ante 6% do
CDI. “Naquela ocasião, a perspectiva era de queda da Selic e as
fundações estavam encorajadas a assumir um pouco mais de risco”,
recorda-se Silva. Atualmente, é a cautela que dá o tom na condução dos
investimentos. “Se no próximo semestre o cenário ficar mais claro, talvez
comecemos a fazer alguns aportes”, revela o diretor. A política de
investimentos do Nucleos permite direcionar até 2,5% do patrimônio para
esses fundos.
A mudança de panorama foi um balde de água fria que arrefeceu o ânimo
não só das fundações como também das gestoras de recursos. “O
mercado esperava uma nova onda de aportes em multimercados, mas o
que veio, até agora, foi uma marola”, avalia Alexandre Zákia, diretor de
investimentos institucionais do Itaú. Na prática, aliás, o que Zákia tem
observado é uma migração maior de recursos alocados em hedge funds
para investimentos conservadores. “Há uma reversão de tendência”,
constata. Dentre as fundações que já contam com uma política de
investimentos que permite a aplicação nesses multimercados arrojados,
são raras, segundo ele, as que estão comprando cotas. E ainda existe um
grupo de entidades de previdência fechada que sequer cogitou a
possibilidade nas reuniões de conselho. “Estamos, ainda, no início de um
longo processo.”
A relutância dos fundos de pensão em apimentar seus investimentos se
deve também, em boa parte, à taxa básica de juro brasileira, que ainda
se encontra num patamar bastante confortável. A expectativa de que o
Copom possa vir a elevar a Selic na próxima reunião reforça essa
acomodação. “Vamos escolher o melhor momento para entrar nos
multimercados”, avisa Mário Ribeiro, diretor executivo da Fundação
Promon. Ribeiro até acredita que o limite de 3% do patrimônio dos fundos
de pensão para a aplicação em multimercados seja conservador. “Ainda
que o resultado do investimento fosse negativo, o impacto total no plano
é pequeno”, ressalva. Ele prefere, porém, esperar por uma trégua da
volatilidade antes de diversificar o portfólio, até porque a fundação passa,
no momento, por uma segmentação dos ativos de seus dois planos – um
de contribuição definida e outro de benefício definido. “Se o mercado
estivesse bem, poderíamos inclusive acelerar essa reestruturação. Mas
como ocorre o contrário, preferimos aguardar que a situação se acalme.”
Num horizonte mais distante, no entanto, é praticamente inevitável que as
fundações tenham de recorrer à renda variável para fazer frente às
obrigações atuariais. “Além disso, tudo indica que os gestores terão de
conviver com o fator volatilidade em espaços de tempo mais curtos”,
acrescenta Carlos Massaru Takahashi, gerente de distribuição de produtos
da BB DTVM. “As oscilações podem até assustar, num primeiro momento,
mas trazem também boas oportunidades de ganho”, ressalta ele. De olho
nessa demanda potencial, a BB DTVM está ampliando sua área de análise
fundamentalista, de 12 para 29 pessoas. Também lançou, recentemente,
dois fundos multimercados.
Se a busca por risco é um caminho cheio de obstáculos, o percurso,
porém, não tem volta. Muitos fundos de pensão não aderiram aos
multimercados arrojados, mas estão em vias de. O primeiro passo, nesse
sentido, é acompanhar a indústria – e isso já está sendo feito. Nesse
processo de seleção natural, as fundações devem recorrer a gestores que
tenham, no mínimo, um histórico consistente para apresentar. “As
entidades já olham para outros ativos que não sejam títulos públicos e
querem, antes de tudo, conhecer bem o gestor”, diz Takahashi. E quando
os fundos de pensão começarem o exercício de separar o joio do trigo, é
nesse segundo grupo que a asset do Banco do Brasil quer figurar.