Edição 188
Seguindo GP e Tarpon, FIR Capital, BRZ Investimentos e Biocapital
planejam captar recursos nos pregões
Isso, sim, pode ser considerado um legítimo “causo” mineiro. Em 1999,
primeiro ano de vida da FIR Capital, a gestora de venture capital de Belo
Horizonte investiu na Miner Technology Group, responsável pelo site de
busca Miner, e apenas oito meses depois, obteve um retorno de 19,4
vezes o capital investido com a venda da empresa para o Universo Online
(UOL). Em sua segunda empreitada, a FIR Capital fez uma nova aposta
na área e criou, em 2001, a Akwan, especializada em softwares de busca.
Após quase quatro anos sob forte regime de engorda, a empresa foi
vendida para o Google – segunda aquisição do gigante de tecnologia fora
dos Estados Unidos –, com uma valorização de 2.400% aos seus
investidores.
Essas são algumas das histórias de sucesso que a FIR Capital, com
apenas nove anos de estrada, já traz na bagagem. Em breve, mais
investidores poderão pegar uma carona nesse “trem”. A gestora, que tem
como um dos sócios Marcus Regueira, presidente da ABVCap (que deixa o
comando da associação em março, quando estão marcadas novas
eleições), se prepara, no momento, para fazer sua estréia no mercado de
capitais. Serão lançadas ações na Bolsa de Luxemburgo, para
institucionais estrangeiros, e BDRs na Bovespa, para os investidores
qualificados daqui.
Os preparativos começaram em dezembro de 2007, quando a FIR Capital
criou uma empresa em Bermudas e vendeu 12,5% de seu capital para a
californiana Draper Fisher Jurvetson (DFJ) – cujo histórico de investimentos
inclui Hotmail e Skype. A abertura de capital chega para dar um novo
impulso aos projetos da companhia de participação, focada em empresas
embrionárias do setor de tecnologia. Parte dos recursos da oferta primária
será direcionada para a expansão da carteira de negócios por todo o
Brasil. Segundo o prospecto apresentado à Comissão de Valores
Mobiliários (CVM), a FIR também pretende, com a abertura de capital,
adquirir outras empresas de participação ou, ainda, fazer parcerias de co-
investimento.
A FIR Capital trabalha, atualmente, na constituição de cinco fundos: Brasil
São Paulo I, de R$ 120 milhões; DF FIR Brazil II, de R$ 170 milhões; SC,
de R$ 12 milhões, voltado para investimentos no setor de tecnologia da
informação e comunicação no Estado de Santa Catarina; Rotatec, de R$
10 milhões que investirá em empresas mineiras de eletrônica, informática,
automação industrial e comercial, telecomunicações e tecnologia da
informação e o Minas Biotecnologia, de R$ 10 milhões, que investirá em
empresas nascentes localizadas nas regiões de Santa Rita do Sapucaí e
Itajubá. Além das carteiras que estão no forno, a FIR Capital conta com
dois fundos fechados – Fundotec 1 e Fundotec 2, que somam R$ 106,4
milhões em recursos já comprometidos com 13 empresas.
Tendência – Seguindo a direção do mercado de venture capital e private
equity norte-americano, as empresas de participação brasileiras passam a
se interessar cada vez mais pela captação via mercado acionário. A
abertura de capital por essas companhias ainda é um fenômeno recente
no país, mas que vem ganhando força. Até o momento, duas gestoras
estão listadas na bolsa de valores: a GP Investimentos e Tarpon
Participações. Mas o ano promete. Já foram encaminhados à CVM os
pedidos de abertura de outras duas empresas, além da FIRCapital: a BRZ
Investimentos e a Biocapital Participações.
A principal motivação dessas empresas é a possibilidade de acesso rápido
ao capital. “Em vez de baterem de porta em porta atrás de investidores,
com uma emissão pública as empresas de participação já resolvem o
problema”, explica Carlos Parizotto, da Cypress, assessoria em fusões e
aquisições e preparação para IPOs. Em poucas palavras, trata-se de uma
captação rápida e transparente. Outras vantagens apontadas pelo sócio
da Cypress são o fortalecimento da capacidade de atrair (e reter) bons
profissionais, além da flexibilidade para investir e desinvestir no momento
mais adequado. Com essa munição, a gestora fortalece, de quebra, sua
posição no setor.
Ao se tornar pública, a empresa de participação, assim como outras
companhias que passam pelo mesmo processo, também se
profissionaliza mais. Todas as decisões precisam ser reportadas e sujeitas
à aprovação. Assim, a transparência precisa fazer parte de sua política de
gestão – o que nem sempre agrada aos sócios da empresa, na opinião de
Parizotto. “Seguir os princípios do Novo Mercado, como governança
corporativa, transparência e comunicação eficaz das decisões, é um ponto
essencial para essas empresas terem sucesso em bolsa, uma vez que se
trata de negócios muito peculiares”, alerta o especialista.
A peculiaridade mencionada por Parizotto refere-se à própria atividade da
gestora. Por lidar com informações de terceiros – outras empresas que
elas investem – e por considerarem alguns desses dados estratégicos,
seus gestores, muitas vezes, optam por não os divulgarem
completamente, o que aumenta, de certa forma, o risco de investimento
em empresas de participação. “Os investidores estarão aplicando, ainda
que indiretamente, em empresas sobre as quais eles não têm muitas
informações”, comenta Parizzoto. “Não é a mesma coisa que analisar uma
companhia do setor de insumos, por exemplo, em que se sabe
exatamente onde seriam alocados os recursos obtidos, de onde viriam os
ganhos.”
Mas se, por um lado, o menu de informações deixa a desejar, por outro,
a “confiança no management” acaba equilibrando a balança. Com a falta
de conhecimento completo sobre a companhia, comprar seus papéis no
mercado acionário requer por parte do investidor muito mais confiança nos
sócios. Parizotto explica que conhecer o histórico de performance e a rede
de relacionamentos da gestora dentro do país ajuda a trazer credibilidade
e confiança para quem está do outro lado, apenas observando como os
investimentos estão sendo conduzidos.
Parizotto acrescenta que as ofertas de empresas de participação
brasileiras guardam, ainda, uma vantagem extra em relação às
americanas. “As gestoras daqui direcionam os recursos captados para a
melhoria de seus negócios, enquanto muitas americanas apenas
procuram remunerar seus acionistas.” Tome-se, por exemplo, o caso da
GP Investments. Desde que foi listada na Bovespa, em junho de 2006, a
empresa já fez aquisições que somam quase R$ 4 bilhões, entre elas a
BR Properties, Tempo, Magnesita, Farmasa e Ecisa (que agora se chama
BRMalls).
Agora, a GP prepara o IPO de sua gestora de recursos locais, a BRZ
Investimentos, na qual detém 60% do controle. Antiga GP Asset, a
empresa já conta com mais de R$ 2,4 bilhões sob gestão entre fundos de
participação e de investimento em ações e espera chegar ao fim de 2010
com R$ 10 bilhões. Enquanto a BRZ vai focar suas atividades em projetos
novos e na compra de participações minoritárias, a GP só compra o
controle de empresas de grande porte. A oferta da BRZ dependerá das
boas condições do mercado brasileiro e internacional, conforme o
comunicado da empresa. Apesar de condicionar o lançamento ao humor
do investidor, a probabilidade é grande de que a oferta saia, já que a
companhia é conhecida por levar a cabo seus planos.
Planos adiados – Outras empresas estão esperando a turbulência passar
para desengavetar os planos de abertura de capital. A IdeasNet, por
exemplo, que adquire participações em empresas do setor de tecnologia,
mídia e telecomunicações, resolveu adiar os seus planos e anunciou o
cancelamento da captação de cerca de R$ 400 milhões devido
às “condições dos mercados nacional e internacional dos últimos dias”.
“O mercado este ano não vai desaparecer; mas ele estará muito mais
seletivo”, afirma Clóvis Benoni Meurer, presidente da companhia de
participação brasileira CRP. Meurer adianta que a CRP tem planos de abrir
o capital, mas não este ano. “Para fazer uma oferta pública, é preciso ter
um certo porte, hoje, e captar no mínimo R$ 400 milhões, o que ainda
não temos”, conforma-se.
Em momentos de crise, de fato, a liquidez costuma cair. Mas a fonte não
vai secar por completo – haja vista as gestoras que estão em vias de
estrear nos pregões. “Os gestores de fundos de private equity estão
animados, mas por um movimento natural do mercado, a seleção está
mais apurada.” No caso da CRP, o sonho de participar da bolsa poderá ser
realizado dentro de três anos. Mas enquanto os agentes do mercado
esperam a neblina passar para visualizarem melhor o caminho rumo à
bolsa, o setor de private equity deve continuar aquecido no Brasil.