Itaú na era global

Edição 183

Banco prepara-se para a intensificação do troca-troca de recursos entre
países e lança um fundo de investimentos isento de impostos para
estrangeiros

A mesa de trabalho é ampla, mas os papéis desarrumados em cima dela
denunciam claramente que o ritmo de atividades está intenso. Atrás dela,
na extensa sala envidraçada que permite uma visão privilegiada do
conjunto verde formado pelo Parque do Estado e pelo Jardim Zooológico
de São Paulo, o diretor da área de institucionais do banco Itaú, Alexandre
Zákia, mantém uma reunião atrás da outra com as suas equipes. Ele olha
de vez em quando para o verde, mas logo desvia a vista para o outro
lado do parque e vê o conjunto simétrico dos quatro prédios que
concentram os negócios do banco, sendo o mais visível deles o da Itaúsa,
que abriga a presidência da instituição.
Em cada um daqueles prédios de vidros esverdeados localizados no bairro
paulistano do Jabaquara vive-se um clima de economia globalizada, com
clientes nacionais investindo no exterior e clientes estrangeiros aportando
recursos financeiros aqui, num ciclo e numa velocidade impensáveis
alguns anos atrás. E tudo isso acontece sem o investment grade, embora
os principais analistas avaliem que isso deva ocorrer no ano que vem e
alguns até especulem que possa chegar neste ano. “Os investidores
globais estão se antecipando ao investment grade. Nossa inserção na
economia globalizada é para valer”, diz Zákia.
Mas o ritmo de negócios deve crescer com a chegada do grau de
investimento, seja neste ano ou no próximo. Investidores institucionais
estrangeiros, cujas políticas de investimento não permitem aplicações em
economias abaixo do grau de investimento, devem desembarcar por aqui
assim que a primeira agência de rating elevar a nota do Brasil um degrau
a mais. Países mais conservadores, como o Japão, que tomaram calote
da Argentina e temem investimentos mais arriscados, também estão
esperando o grau de investimento para alocarem aqui. O preço de muitos
ativos brasileiros, que já reflete essa antecipação, deve subir ainda mais
com a confirmação da nota.
O banco está acompanhando cada passo dessas mudanças, seja de
aplicações de estrangeiros no Brasil quanto de investidores domésticos no
exterior. O Itaú terminou de lançar um fundo isento de impostos para
estrangeiros, distribuído pela KDB, uma empresa do grupo coreano
Daewoo, vendendo Brasil. Lançado em 8 de agosto, com 20 dias o Samba
Fund já acumulava um patrimônio líquido de US$ 12 milhões. A área de
custódia internacional do banco, herdada do BankBoston, também está
extremamente ativa, visitando regularmente os clientes estrangeiros com
aplicações locais. Com R$ 224 bilhões ao final de julho, o banco lidera a
área de custódia internacional no Brasil, à frente do Citigroup, que possuía
R$ 167 bilhões na mesma época, e do Bradesco, com R$ 92 bilhões. O
banco perde para o Bradesco na custódia doméstica, com R$ 271 bilhões
contra R$ 298 bilhões do banco rival, mas lidera no ranking total, com R$
496 bilhões custodiados contra R$ 390 bilhões do Bradesco, na posição de
30 de julho.
Para Zákia, embora o movimento vindo de fora para dentro já seja muito
intenso, o inverso está apenas começando. Poucas assets alocam em
ativos no exterior, há dúvidas de vários tipos, desde fiscais até
operacionais. Também pesa contra a tendência de investir no exterior a
taxa de juros brasileira, que mesmo estando em queda, ainda é muito
alta, permitindo uma rentabilidade superior à oferecida em outros
mercados, principalmente os mais maduros. “Com as taxas de juros
caindo, o investidor nacional vai buscar arbitrar cada vez mais no mundo
em busca de rentabilidade para suas aplicações”, afirma ele. “Mas, por
enquanto, isso ainda é algo incipiente, está acontecendo apenas nas
assets menores que operam arbitragens internacionais”.

Institucionais – Na área de clientes institucionais, embora a fresta que
permite aplicar no exterior ainda seja estreita, representada pelos 20% de
um limite de 3% para fundos multimercados agressivos, o que dá 0,6%
dos recursos totais da fundação, isso pode estar mudando. Nas
explicações que têm dado aos fundos de pensão, os dirigentes da
Secretaria de Previdência Complementar (SPC) sugerem que a resolução
3.456 é um primeiro passo para ver como o mercado reage, mas que a
intenção é ampliar esses limites de investimento em produtos mais
agressivos e também aplicações no exterior. Na CVM, estuda-se a criação
de fundos para aplicar até 100% no exterior através da resolução 450.
A área de institucionais do Itaú abriga cerca de R$ 307 bilhões em
negócios, incluindo atendimento nos segmentos de gestão, custódia,
administração fiduciária, seguros para dirigentes (D&O) e tesouraria, entre
outras. Em alguns casos pode haver uma superposição de operações nas
áreas de gestão e custódia, por exemplo, ou no oferecimento de um
produto de tesouraria e D&O. “Mas não é uma superposição grande”,
garante Zákia.
Segundo ele, o Itaú foi o primeiro a montar uma área completa de
atendimento aos institucionais, incluindo os produtos acima para os
fundos de pensão, seguradoras, regimes próprios de previdência, assets e
entidades de classe. Apenas em fundos de pensão, são 245 clientes
ativos, alguns para mais de um tipo de produto. No total, são cerca de
450 grupos de clientes, muitos com mais de um negócio. A área de
institucionais detecta as necessidades de cada cliente e encaminha para o
departamento específico, seja de gestão, custódia, tesouraria ou outro,
explica Zákia. “Até as nossas agendas são coletivas. Quando alguém vai
visitar um cliente, tem que informar na agenda coletiva para evitar que a
visita coincida com a de outro profissional do banco”, diz.
Hoje, são 12 segmentos apresentados aos clientes institucionais, através
de 53 produtos. Esses produtos incluem desde fundos de investimento até
soluções integradoras para as fundações, num pacote que pode conter
desde pagamento de benefícios e recebimento das mensalidades dos
participantes autopatrocinados até fornecimento de crédito aos
participantes e oferta de seguros de vida e residencial, por exemplo.
Esses pacotes também incluem a modelagem e o acompanhamento dos
planos CD com vários perfis de risco. É o caso da PSS, fundação da Philips,
que oferece quatro perfis diferenciados de risco ao participante, do
conservador ao arrojado. Há fundações na carteira de clientes do banco
com até oito perfis de risco diferentes.
Esse trabalho todo é coordenado através de uma equipe de 130 pessoas,
no front office, comandadas por Zákia. Suportando essa equipe estão as
600 pessoas que trabalham diretamente na custódia, as 100 pessoas da
área de gestão, as 130 pessoas da corretora de valores, entre outras
áreas. “É muita gente”, diz Zákia. Pelo jeito, ele continuará sem muito
tempo para olhar o verde do Parque do Estado.