Edição 172
Global Invest vê a rentabilidade de seus fundos despencar e resolve
fechar escritório de São Paulo. Mellon, que faz a administração, diz que
zerou as posições dos fundos váris vezes
As turbulências do mercado de câmbio e renda variável em maio pegaram
a Global Invest no contrapé. Sediada em Curitiba e com quatro fundos
multimercados em operação, a Global Invest viu a rentabilidade dos seus
fundos despencarem desde então. Até o dia 23 de agosto o San Marino
acumulava prejuízos de 69,71, o Atenas Long Short perdia 56,63% no
ano, o Mônaco perdia 44,16% e Lugano Institucional perdia 3,73%.
A Global Invest não quis comentar as perdas dos seus fundos, embora
tenha sido procurado por esta revista em três ocasiões diferentes. A
Mellon, que faz a administração fiduciária de três desses fundos, disse
que chegou a zerar a posição deles por três ou quatro vezes durante o
mês de maio, pois os limites de risco que lhes concedia tinham sido
ultrapassados.
Segundo o presidente da Mellon, José Carlos de Oliveira, a empresa
continua a fazer a administração dos fundos, cuidando para que os limites
de risco sejam respeitados. “Estamos trabalhando no sentido de reduzir as
exposições de risco dos fundos”, diz.
Além dos três fundos com administração da Mellon, há um quarto fundo, o
Mônaco, com administração da WestLB. É um FIC, que aplica em FIFs da
Mellon. “Já solicitamos à Mellon que nos informe a composição interna
desses FIFs”, afirma o diretor de fundos de investimento da WestLB,
Aristides Campos Jannini. Ele informa que o serviço de administração que
presta para a Global Invest prossegue normalmente, apesar das perdas
dos fundos.
Patrimônio – A queda na rentabilidade foi seguida também pela queda
dos patrimônios líquidos dos fundos, que despencaram. O San Marino
desceu de R$ 16 milhões em 2 de janeiro deste ano para R$ 2,96 milhões
em 23 de agosto último. No mesmo período, o Lugano Institucional
passou de R$ 12,79 milhões para R$ 4,65 milhões, o Atenas caiu de R$
2,55 milhões para R$ 870 mil e o Mônaco veio de R$ 930 mil para R$ 128
mil.
Por conta dessas perdas de rentabilidade e de patrimônio, a Global Invest
chegou a fechar o escritório que mantinha em São Paulo, passando a
concentrar as suas operações apenas na cidade de Curitiba. Fernando
Pinto Ferreira, criador e principal executivo da empresa, mantém-se à
frente das operações.
Para José Carlos de Oliveira, da Mellon, os fundos da Global Invest
explicitavam nos seus regulamentos os riscos e informavam que poderia
haver inclusive necessidade de aportes de capital extra por parte do
investidor. Ou seja, além de perda do principal poderia haver a
necessidade de mais recursos para cobrir prejuízos de
alavancagem. “Ninguém entrou naqueles fundos desavisado”, diz Oliveira.
Especulação – Como ninguém quis falar na Global Invest, apenas pode-se
especular o que teria acontecido com os fundos. Para um concorrente,
como os momentos de stress dos fundos aconteceram em meados de
maio, a Global Invest poderia estar comprada em Bolsa e vendida em
câmbio, o que teria potencializado suas perdas. Na verdade, no final do
ano passado, quando a maioria do mercado projetava uma taxa de
câmbio de R$ 2,40 para o final deste ano, Fernando Pinto Ferreira
projetava uma taxa de R$ 2,70. “Acho que o que houve foi barbeiragem
no controle de riscos”, diz Everaldo França, da consultoria de investimentos
PPS.
A Global Invest surgiu no final da década de 90, como uma consultoria
econômica especializada em pesquisas, das quais as mais conhecidas
eram sobre taxas de juros. Tornaram-se famosos, na ocasião, os
levantamentos feitos pela empresa apontando as taxas de juros de
países do mundo todo e o Brasil como o País que tinha as mais altas
taxas. Essas pesquisas eram cedidas à mídia e publicados em jornais do
país todo.
Da realização dessas pesquisas para a criação de uma asset, há cerca de
quatro anos, foi um processo natural. A empresa começou a oferecer seus
produtos primeiramente para clientes do Paraná, onde tinha base,
incluindo pessoas físicas, empresas e até institucionais locais. Há pouco
mais de um ano abriu uma filial em São Paulo, agora desativada.