Gestor da Victoire na Ásia aumenta o caixa diante da volatilidade...

15-09-2015  –  16:45:47

 

A volatilidade do mercado de renda variável da China levou a asset Victoire a adotar uma postura mais cautelosa em suas estratégias de alocação dos investimentos. A postura foi adotada para o fundo de ações small e mid caps na Ásia que é gerido pelo especialista Aquico Wen (ex-Citigroup e ex-Legg Mason), que fica baseado em Hong Kong. O fundo da Victoire, que normalmente tem níveis de caixa que variam de uma faixa entre 0% a 10%, está hoje com cerca de 30% dos recursos à espera de uma melhor visibilidade para voltar a investir em empresas da região.

“Já vimos muito do efeito do mercado, e enxergo muitas oportunidades no momento. Ao meu ver, imaginando daqui um ano, tenho confiança alta que o investidor que aplicar hoje no nosso fundo vai ganhar dinheiro diante das oportunidades identificadas. O desafio é aplicar esse dinheiro hoje e não saber se daqui uma semana teremos a oportunidade de comprar o papel 20% mais barato. É o dilema de trabalhar em um mercado que tem um certo nível de pânico”, pontua Wen, que também acumulou passagens pela JP Morgan Investment Management e pela Price Waterhouse, ambas baseado em Nova Iorque. “Por isso temos mantido uma postura cautelosa, sendo bastante disciplinados para procurar o momento certo de baixa do mercado para usar o dinheiro”. A expectativa do especialista é que o nível de caixa do fundo por ele gerido volte aos níveis ao redor dos 10% nos próximos dois meses. “Vai depender do surgimento das oportunidades”.

Embora as bolsas da China, principalmente as de Xangai e de Xenzem, já tenham tido uma correção de 50% após o pico de alta, Wen entende que elas ainda operam em patamares que podem ser considerados caros. “A alavancangem do sistema explodiu no início de 2015, quando o governo introduziu liberalizações no mercado, criando novas ferramentas que saíram do controle”. Como o investidor local doméstico chinês ainda é pouco familiarizado com o investimento em ações, ele não aprecia devidamente o risco agregado na operação, o que gerou uma euforia no mercado, explica o gestor da Victoire.  

“Os investidores chineses ficaram eufóricos e tomaram muita alavancagem. Foi quando o governo começou a colocar restrições para controlar isso, e coincidiu com o pico do mercado, e com o pico do nível de alavancagem, por volta de abril”. Desde então, boa parte dos excessos cometidos já foram corrigidos. Ainda assim, o especialista não espera por um bom desempenho do mercado de bolsa chinês no curto prazo. “Os valuations ainda estão caros em geral”, pontua Wen, que destaca também a desaceleração da economia chinesa como outro importante fator a ser monitorado dentro da estratégia de alocação do fundo da asset.

Desaceleração – Embora entenda que a desaceleração da China não tenha sido uma surpresa para o mercado, Wen admite que a intensidade do movimento foi um pouco mais forte do que o antecipado pelos agentes. “Nos mercados emergentes especialmente, influenciados pela mudança na composição do PIB chinês, a leitura e até a percepção da desaceleração da China acaba sendo bem mais acentuada do que na realidade é”, pondera o gestor. O fundo da Victoire investe na China através da bolsa de Hong Kong, mais acessível ao investidor estrangeiro que as de Xangai e Xenzem, que ainda estão sob forte controle estatal, e não permitem a movimentação livre de recursos. Ainda que seja menos volátil que seus pares, até pela composição dos investidores que aplicam nela, a bolsa de Hong Kong, por fazer parte da China, não escapou da volatilidade recente na região. “Ficamos um pouco surpresos com a magnitude do contágio”.

Um das medidas que mais chamou a atenção dos investidores estrangeiros, fala Wen, foi a desvalorização da moeda chinesa promovida pelo governo local. A medida foi anunciada após a queda da balança comercial chinesa, e na avaliação do especialsita, foi interpretada de maneira equivocada por boa parte dos analistas. “O timing possivelmente pegou muita gente de surpresa, mas não necessariamente a direção”. O gestor acredita que a permissão para que a taxa de câmbio chinesa flutue, ainda que dentro de bandas controladas, “um free float a la chinesa”, faz parte dos planos do governo de tornar sua moeda uma referência global, assim como o dólar. “Acredito que a surpresa do mercado foi por ter interpretado a medida como um ato de desespero, mas não foi nossa leitura. Essa mini desvalorização, de 3%, é o que a maioria das moedas move em um período curto, e ninguém faz nenhum ruído”.

Fundos de pensão chineses – Uma das medidas adotadas recentemente pelo governo chinês com o intuito de reduzir a volatilidade em suas bolsas de valores foi permitir que os fundos de pensão locais invistam até 30% de seus recursos em ações domésticas. No entanto, para o gestor da Victoire, essa medida deve começar a ter efeito somente no médio prazo, dado o atual nível de sofisticação desses investidores. “A cultura de investimento em renda variável na China ainda é muito nascente”, explica o especialista. 90% do volume movimentado nas bolsas domésticas da China, estima Wen, são de especuladores, que não baseam sua filosofia de investimento nos fundamentos e valuations dos papéis.

O desenvolvimento da indústria de asset management na China é necessária e saudável para trazer mais racionalidade para o mercado, mas ainda está em um estágio muito inicial, diz o gestor. “A infraestrutura para se aplicar no mercado, e mesmo para selecionar uma asset, ainda vai demorar”. Embora espere por um período de maturação relativamente longo para que os fundos de pensão locais passem a ter relevância nas bolsas chinesas, Wen acredita que se trata de um fenômeno sem volta, diante das diretrizes estabelecidas pelo governo. “O bom da China é que, quando o governo adota uma medida, elas acontecem. Nesse caso, a infraestrutura do mercado, ao meu ver, ainda não está preparada para que os fundos de pensão tenham uma estrutura para entender a dinâmica de investir em ações”.