Edição 173
O envelhecimento da força de trabalho é um processolento e silencioso e já está atingindo o Brasil, provocando mudanças no perfil dos trabalhadores e impactando diretamente nos programas de benefícios e, em especial, nos fundos de pensão.
Segundo dados do IBGE, a expectativa de vida cresceu no país. Em 1980 era de 62 anos; em 2020 será de 76 anos e, em 2050, de 81 anos. O Brasil já ocupa o oitavo lugar entre os países com o maior número de idosos. A principal conseqüência econômica do envelhecimento da população para o Brasil é o desequilíbrio das contas da previdência oficial, que drenará recursos que poderiam ser investidos em saúde, educação e infra-estrutura. Entre as alternativas para se atenuar esse déficit está a implementação de uma idade mínima para a aposentadoria. Antes a população se aposentava mais cedo. Atualmente observamos pessoas com mais de 70 anos em plena capacidade produtiva.
A Mercer observou este mesmo processo de envelhecimento na força de trabalho de algumas empresas no Brasil. Foi realizada uma pesquisa este ano, com nove empresas de grande porte, 57 mil empregados, que no período 1991-2005 não tiveram mudanças significativas na quantidade de empregados. Os dados mostraram que houve, neste período, uma redução de 41% no quadro de profissionais com até 19 anos de idade; 8% de 20 a 24 anos; 9% de 25 a 29 anos; 14% de 35 a 39 e 2% 40 a 44 anos; e um crescimento de 37% no número de empregados dos 45 aos 49 anos; 90% dos 50 aos 54 anos; 50% de 55 a 59 anos e 22% junto àqueles com mais de 60 anos.
Ou seja, nestas empresas houve uma evolução na quantidade de empregados de mais de 40 anos na ativa. Nesse período de quase 15 anos, a mão-de-obra acima de 40 anos cresceu de 29% para 40% do total de empregados. E o número de pessoas com mais de 20 anos de tempo de serviço cresceu de forma significativa.
Entre os fatores que contribuíram para este quadro está o envelhecimento populacional, a senioridade requerida pelas empresas para enfrentar a concorrência, a redução das aposentadorias precoces na Previdência Social, a dependência dos planos de assistência médica corporativos, o aumento do nível médio de escolaridade dos profissionais e o crescimento da importância dos planos de previdência complementares Mas se a longevidade aumenta, inclusive nas empresas, então que impactos podemos esperar nos fundos de pensão e que papéis eles podem exercer neste processo? O impacto mais direto poderá ser percebido por aqueles Fundos que pagam rendas vitalícias. De uma forma geral, o aumento de 1 ano na expectativa de vida implica em uma elevação de aproximadamente 3% nos valores das reservas do Fundo de Pensão. Nos Fundos onde não se pagam rendas vitalícias os impactos deverão recair sobre os participantes que terão que adequar os benefícios pagos às suas necessidades de consumo ao longo da vida, que promete ser ainda mais longa.
Os Fundos também deverão se adaptar a uma nova realidade de cliente, o seu próprio participante. Nos últimos 15 anos, empresas e os próprios empregados procuraram investir fortemente na capacitação profissional.
Pessoas com maior nível de escolaridade têm maior possibilidade de estar empregadas e de alcançar os melhores postos de trabalho. Diante deste cenário, os Fundos têm que estar preparados para enfrentar um participante mais esclarecido, questionador, sabedor dos seus direitos e mais preparado para discutir aspectos de investimentos, legais e até mesmo atuariais.
Com esse perfil, abre-se um espaço para que Fundos de Pensão e empresas patrocinadoras invistam em programas que preparem esses profissionais para a aposentadoria – voluntária e sem traumas – e que os direcionem a empreender algo nesta fase. Uma segunda carreira ou um trabalho que o estimule não pelo dinheiro, mas pelo prazer de fazer alguma coisa que goste e seja importante, pode ser uma alternativa.
Geraldo Magela Xavier Lopes é atuário, Consultor e Diretor da Mercer.